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ÁGUIA EM TRANSE
Em alguns Estados, baixa renda chega a 42%, aponta estudo
Dificuldade financeira atinge
25% das famílias americanas
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Uma em cada quatro famílias
americanas com emprego tem dificuldades em pagar as contas no
fim do mês devido aos baixos salários, mostrou um relatório divulgado ontem nos EUA. Em alguns Estados, como Mississipi, a
parcela de famílias de baixa renda
dentro do total de famílias empregadas chega a 42%.
"Nos EUA, sempre se acreditou
que, se você trabalhasse, pagasse
seus impostos, fizesse tudo direitinho, você se tornaria financeiramente seguro e subiria de classe
social. Nossos dados mostram
que isso nem sempre é verdade",
disse à Folha Tom Waldron, um
dos autores de "Trabalhando duro, ficando para trás: Famílias trabalhadoras americanas e a busca
da segurança econômica".
O estudo, o primeiro do gênero,
usa parâmetros diferentes daqueles empregados pelo governo, o
qual considera "não realista". Para os autores, famílias de baixa
renda são aquelas compostas por
pelo menos quatro indivíduos e
com ganhos anuais, excluídos benefícios não-financeiros, inferiores a US$ 36,4 mil em 2002. É praticamente o dobro do parâmetro
usado pelo governo, mas está
bem abaixo dos US$ 62,7 mil
anuais da renda média de uma família de quatro pessoas nos EUA.
Segundo o levantamento, muitos empregos, além de pagarem
salários baixos, não oferecem nenhum benefício. Os dados levantados mostram que um em cada
cinco empregos paga menos do
que o necessário para manter
uma família de quatro pessoas
acima do nível de pobreza.
Além disso, diz o relatório, boa
parte das pessoas que estão nessa
situação está mal preparada para
obter um emprego melhor.
"Não podemos dizer se a quantidade de famílias de baixa renda
está crescendo ou não. Mas há números no relatório que mostram
que as coisas não estão melhorando", afirmou Waldron. "O nível
de pobreza nos EUA não mudou
em 30 anos, e há um estudo do
Fed em Boston segundo o qual
não subiu o número de pessoas
que conseguem sair dos níveis
mais baixos da escala social."
O relatório não investiga causas
-ele se limita a apresentar números e dados compilados em
quatro anos de pesquisas. Mas,
num país onde o peso da inflação
sobre os salários é mínimo, fica
claro que a competição estrangeira e a decorrente exportação de
empregos é um motivo do achatamento, segundo Waldron.
Competição no exterior
Atraídas pelos custos mais baixos em países como a Índia, o
Brasil e a Argentina, muitas empresas americanas têm transferido para lá seus centros de atendimento e suporte técnico a clientes. Com um índice de desemprego recorde nos EUA, a questão virou um dos principais temas da
campanha presidencial deste ano,
alvo de ataque freqüente do democrata John Kerry contra o presidente George W. Bush.
Entre as recomendações do relatório estão a melhora do sistema
educacional e de desenvolvimento profissional, que "prepara as
pessoas inadequadamente para o
mercado de trabalho", a elevação
do salário mínimo e a criação de
uma comissão nacional apartidária para estudar os fatores que
criaram tal situação e as medidas
públicas e da iniciativa privada
necessárias para superá-la.
O relatório foi patrocinado pelas fundações Annie E. Casey,
Ford e Rockefeller e resulta do
projeto "Working Poor Families",
que existe há quatro anos e analisa as condições em 15 Estados.
Em 2003, o estudo foi expandido
para os 50 Estados a fim de atrair
mais atenção e produzir um retrato mais preciso da situação no
país. "As pessoas têm de falar
mais disso. Não é só uma questão
do governo, é também das empresas", disse Waldron.
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