|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Analistas demonstram cautela
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento de 0,51% no nível de
emprego da indústria paulista em
outubro é mais um indicador de
que a economia está no rumo do
crescimento, mas há dúvidas se
essa expansão já é sustentável, na
análise de economistas e empresários ouvidos pela Folha.
A retomada de alguns setores da
indústria e do comércio e, como
consequência, do emprego, dizem eles, pode ser reflexo das medidas do governo para estimular
alguns setores -como a redução
do IPI para carros e a oferta de linhas de financiamento para a
compra de eletrodomésticos-,
das exportações e da proximidade
do final do ano -quando, tradicionalmente, o consumo sobe.
"A recuperação do emprego é
um sinal muito importante, mas
ainda não dá para afirmar que a
economia brasileira vai crescer de
forma sustentada daqui para a
frente", afirma Fernando Montero, economista da Tendências. "É
um dado, porém, que ganha significado no contexto atual", diz.
A elevação do emprego pode
significar, na análise de Aloisio
Campelo Jr., coordenador do núcleo de bancos de dados especiais
da FGV (Fundação Getúlio Vargas), que o aumento da produtividade das fábricas chegou ao limite. "E, quando há ligeira recuperação da atividade, o emprego sobe.
Esse dado inverte o ambiente negativo que havia na economia,
mas não dá para falar ainda em
crescimento sustentado", afirma.
Edgard Pereira, do Instituto de
Economia da Unicamp, diz que o
fato de o aquecimento de alguns
setores acontecer no final do ano
confunde a análise dos dados.
"Como a atividade industrial estava num ritmo fraco havia alguns meses e melhorou um pouco, o emprego acompanhou, mas
isso está ligado à sazonalidade do
final de ano."
Para que o crescimento do Brasil seja sólido, dizem eles, é preciso que os investimentos aumentem, que o país seja persistente no
ajuste fiscal para reduzir a relação
da dívida/PIB e mantenha um
câmbio favorável às exportações.
"O governo precisa batalhar pela
reforma da Previdência, pelo bom
saldo da balança comercial e pela
conquista de novos mercados",
afirma Francisco Pessoa Faria,
economista da LCA Consultores.
Se o emprego crescer três meses
seguidos -no caso do levantamento da Fiesp, outubro já é o segundo mês consecutivo de crescimento do emprego-, pode indicar que a economia pode deslanchar, segundo Luiz Carlos Delben
Leite, presidente da Abimaq.
A indústria de máquinas, diz,
elevou em 2,6% o emprego de janeiro a setembro deste ano, de
175,1 mil para 179,6 mil trabalhadores. Lembra, porém, que, em
1991, o setor chegou a empregar
350 mil pessoas. "No ano que
vem, o governo federal vai gastar
R$ 154 bilhões para pagar juros e
R$ 6 bilhões em investimentos. Se
não investir mais não vai gerar
mais emprego", diz.
O desempenho mais positivo de
alguns setores da economia está
levando alguns economistas a fazer projeções mais otimistas para
o país no ano que vem. A Tendências já aumentou de 3,7% para 4%
a previsão de crescimento do PIB
em 2004. A LCA Consultores elevou de 3% para 3,5%.
"Quando o último trimestre do
ano é aquecido, o ano seguinte é
mais forte. É isso o que vamos ver
em 2004", afirma Montero, da
Tendências. "Os últimos indicadores mostram que a economia
está se recuperando. Por essa razão, prevemos que 2004 pode ser
um pouco melhor", diz Pessoa
Faria, da LCA Consultores.
Texto Anterior: Trabalho: Indústria de SP contrata pelo 2º mês seguido Próximo Texto: Opinião econômica: Farinha do mesmo saco Índice
|