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São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003

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Analistas demonstram cautela

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento de 0,51% no nível de emprego da indústria paulista em outubro é mais um indicador de que a economia está no rumo do crescimento, mas há dúvidas se essa expansão já é sustentável, na análise de economistas e empresários ouvidos pela Folha.
A retomada de alguns setores da indústria e do comércio e, como consequência, do emprego, dizem eles, pode ser reflexo das medidas do governo para estimular alguns setores -como a redução do IPI para carros e a oferta de linhas de financiamento para a compra de eletrodomésticos-, das exportações e da proximidade do final do ano -quando, tradicionalmente, o consumo sobe.
"A recuperação do emprego é um sinal muito importante, mas ainda não dá para afirmar que a economia brasileira vai crescer de forma sustentada daqui para a frente", afirma Fernando Montero, economista da Tendências. "É um dado, porém, que ganha significado no contexto atual", diz.
A elevação do emprego pode significar, na análise de Aloisio Campelo Jr., coordenador do núcleo de bancos de dados especiais da FGV (Fundação Getúlio Vargas), que o aumento da produtividade das fábricas chegou ao limite. "E, quando há ligeira recuperação da atividade, o emprego sobe. Esse dado inverte o ambiente negativo que havia na economia, mas não dá para falar ainda em crescimento sustentado", afirma.
Edgard Pereira, do Instituto de Economia da Unicamp, diz que o fato de o aquecimento de alguns setores acontecer no final do ano confunde a análise dos dados. "Como a atividade industrial estava num ritmo fraco havia alguns meses e melhorou um pouco, o emprego acompanhou, mas isso está ligado à sazonalidade do final de ano."
Para que o crescimento do Brasil seja sólido, dizem eles, é preciso que os investimentos aumentem, que o país seja persistente no ajuste fiscal para reduzir a relação da dívida/PIB e mantenha um câmbio favorável às exportações. "O governo precisa batalhar pela reforma da Previdência, pelo bom saldo da balança comercial e pela conquista de novos mercados", afirma Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores.
Se o emprego crescer três meses seguidos -no caso do levantamento da Fiesp, outubro já é o segundo mês consecutivo de crescimento do emprego-, pode indicar que a economia pode deslanchar, segundo Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq.
A indústria de máquinas, diz, elevou em 2,6% o emprego de janeiro a setembro deste ano, de 175,1 mil para 179,6 mil trabalhadores. Lembra, porém, que, em 1991, o setor chegou a empregar 350 mil pessoas. "No ano que vem, o governo federal vai gastar R$ 154 bilhões para pagar juros e R$ 6 bilhões em investimentos. Se não investir mais não vai gerar mais emprego", diz.
O desempenho mais positivo de alguns setores da economia está levando alguns economistas a fazer projeções mais otimistas para o país no ano que vem. A Tendências já aumentou de 3,7% para 4% a previsão de crescimento do PIB em 2004. A LCA Consultores elevou de 3% para 3,5%.
"Quando o último trimestre do ano é aquecido, o ano seguinte é mais forte. É isso o que vamos ver em 2004", afirma Montero, da Tendências. "Os últimos indicadores mostram que a economia está se recuperando. Por essa razão, prevemos que 2004 pode ser um pouco melhor", diz Pessoa Faria, da LCA Consultores.


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