São Paulo, sexta-feira, 13 de dezembro de 2002

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EM TRANSE

Consultoria ligada à revista "The Economist" diz que o Brasil corre risco de não honrar vencimentos em 2003

Dívida incha e ameaça solvência, afirma EIU

Gustavo Ercole/Associated Press
IMPACTO DE PESO Agricultores trabalham em plantação de trigo em Salto, a 190 quilômetros de Buenos Aires; a desvalorização do peso impulsionou as exportações de produtos agrícolas neste ano


DA REDAÇÃO

Cinco países latino-americanos correm o risco de deixar de pagar seus compromissos no ano que vem, todos na América do Sul e o Brasil entre eles. A análise é da Economist Intelligence Unit, instituto inglês de pesquisas e análises internacionais que pertence ao mesmo grupo que edita a revista "The Economist".
Ao lado do Brasil, aparecem como candidatos a deixar de pagar suas dívidas soberanas Uruguai, Paraguai, Equador e Venezuela, "cujas precárias finanças públicas e incertezas políticas os colocam em risco de um "default" em 2003", diz a consultoria.
A EIU analisa os riscos de crédito de cem países em desenvolvimento. De acordo com a agência, a América do Sul teve um 2002 extremamente difícil, com a crise argentina ecoando em outros países da região e com a crise brasileira.
Em relação ao Brasil, a EIU nota que as incertezas políticas e a perspectiva de uma vitória da oposição desestabilizaram o mercado financeiro. A excessiva indexação dos títulos públicos às taxas de juros e ao câmbio fez com que o endividamento brasileiro crescesse neste ano, ao contrário do que se previa. A necessidade de financiamento do setor público mais do que dobrou nos últimos 12 meses, subindo para 9% do PIB (Produto Interno Bruto).
A deterioração das contas ocorreu exclusivamente em razão dos custos do serviço da dívida, diz a EIU, porque o governo não deixou de cumprir os superávit primários (saldos positivos no orçamento, sem contar os juros). Isso fez com que, numa escala de 1 a 100, a classificação do país subisse de 57 para 63 pontos (quanto mais elevado o número, maior o risco do país). Como reflexo, a nota brasileira caiu de C para D (A é a melhor, e E, a pior, sendo que D já indica risco de "default").
"As perspectivas de risco para 2003 dependerão das políticas do novo governo e de como os mercados reagirão a elas", afirma a EIU. "Os mercados estarão de olho em qualquer escorregão."
A agência sugere que Lula eleve o superávit primário para 5% do PIB, acima da atual meta de 3,75% acertada com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Com isso, diz a agência, o país teria mais folga para pagar suas dívidas, aliviando a pressão sobre o câmbio e sobre os juros.
Ainda de acordo com o instituto, a taxa de crescimento da economia brasileira no próximo ano não deverá passar de 0,9%. O país apresentará em 2003 um dos piores desempenhos do mundo, atrás de Japão (0,4%) e Portugal (0,7%) e de outras economias que devem ter recessão, como Zimbábue, Paraguai e Uruguai.


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