São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 1998

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UNIÃO EUROPÉIA
Cúpula não discute lançamento da moeda única
Europa dá pouca atenção ao euro

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Viena

A cúpula européia de inverno terminou ontem em Viena sem que a palavra euro fosse mencionada, a não ser de uma maneira muito marginal.
No entanto, foi a última cúpula antes do lançamento, dia 1º, da nova moeda, que substituirá as de 11 dos 15 países da UE (União Européia), afetando diretamente a vida de 291 milhões de pessoas.
Se, no Brasil, a simples troca de nome da moeda, com a eliminação de três zeros, provocava enorme confusão, é fácil imaginar a ciclópica operação de substituir 11 moedas de 11 países diferentes, que falam 11 idiomas distintos.
Nem por isso, o euro provocou intervenções críticas ou entusiasmadas dos governantes europeus reunidos em Viena, muito mais preocupados com questões de certa forma triviais (o orçamento europeu para o período 2000/2006) ou com seus próprios problemas e sonhos internos.
A Folha ouviu de diplomatas que participam das negociações típicas desses encontros a avaliação de que o euro não é mais um tema relevante, porque é dado como "um fato da vida, como o sol que nasce todos os dias, goste-se ou não", na metáfora de um deles.
Mas há uma segunda avaliação, de natureza política, para a relativa indiferença ante a troca.
Os quatro principais países da UE (Alemanha, França, Reino Unido e Itália) estão com governantes relativamente frescos nos cargos. Tony Blair (Reino Unido) e Lionel Jospin (França), há um ano e meio. Massimo D'Alema (Itália) e Gerhard Schroeder (Alemanha), há cerca de dois meses.
É uma geração nova, que substitui lideranças tradicionais que ficaram longos anos no comando de seus próprios países e do processo de integração européia.
Coincidência ou não, os novos líderes compartilham um rótulo (são sociais-democratas), uma ambição (redefinir a social-democracia à imagem e semelhança de cada um deles) e várias divergências sobre como chegar à meta.
A principal resolução da cúpula de Viena (o lançamento de um "Pacto pelo Emprego") é evidência dos diferentes caminhos que os sociais-democratas preconizam.
Blair insiste mais em "empregabilidade" que em emprego propriamente dito. É a palavra-código para dizer que o trabalhador tem que estar preparado, com alguma ajuda governamental, para poder ser empregado sempre.
Jospin, ao contrário, sonha com um monumental plano de obras públicas, como a rede ferroviária de alta velocidade que enlaçaria quase toda a Europa. Schroeder, por sua vez, acaba de lançar o chamado "diálogo social", mesa tripartite de negociações (governo, empresários, sindicatos), em busca de soluções consensuais, característica de resto do modelo alemão, com a social-democracia ou com a democracia-cristã.
Tais diferenças de concepção, mais as divergências sobre quem vai pagar quanto do orçamento da UE para o período 2000/2006, explicam porque a ampliação do bloco pode acabar ficando para um futuro muito remoto. De todo modo, continua previsto para o ano que vem, junto com a entrada do euro, o início das negociações para o ingresso de seis países (República Tcheca, Estônia, Hungria, Polônia, Eslovênia e Chipre).



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