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UNIÃO EUROPÉIA
Cúpula não discute lançamento da moeda única
Europa dá pouca atenção ao euro
CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Viena
A cúpula européia de inverno
terminou ontem em Viena sem
que a palavra euro fosse mencionada, a não ser de uma maneira
muito marginal.
No entanto, foi a última cúpula
antes do lançamento, dia 1º, da nova moeda, que substituirá as de 11
dos 15 países da UE (União Européia), afetando diretamente a vida
de 291 milhões de pessoas.
Se, no Brasil, a simples troca de
nome da moeda, com a eliminação
de três zeros, provocava enorme
confusão, é fácil imaginar a ciclópica operação de substituir 11
moedas de 11 países diferentes, que
falam 11 idiomas distintos.
Nem por isso, o euro provocou
intervenções críticas ou entusiasmadas dos governantes europeus
reunidos em Viena, muito mais
preocupados com questões de certa forma triviais (o orçamento europeu para o período 2000/2006)
ou com seus próprios problemas e
sonhos internos.
A Folha ouviu de diplomatas que
participam das negociações típicas
desses encontros a avaliação de
que o euro não é mais um tema relevante, porque é dado como "um
fato da vida, como o sol que nasce
todos os dias, goste-se ou não", na
metáfora de um deles.
Mas há uma segunda avaliação,
de natureza política, para a relativa
indiferença ante a troca.
Os quatro principais países da
UE (Alemanha, França, Reino
Unido e Itália) estão com governantes relativamente frescos nos
cargos. Tony Blair (Reino Unido) e
Lionel Jospin (França), há um ano
e meio. Massimo D'Alema (Itália)
e Gerhard Schroeder (Alemanha),
há cerca de dois meses.
É uma geração nova, que substitui lideranças tradicionais que ficaram longos anos no comando de
seus próprios países e do processo
de integração européia.
Coincidência ou não, os novos líderes compartilham um rótulo
(são sociais-democratas), uma
ambição (redefinir a social-democracia à imagem e semelhança de
cada um deles) e várias divergências sobre como chegar à meta.
A principal resolução da cúpula
de Viena (o lançamento de um
"Pacto pelo Emprego") é evidência
dos diferentes caminhos que os sociais-democratas preconizam.
Blair insiste mais em "empregabilidade" que em emprego propriamente dito. É a palavra-código
para dizer que o trabalhador tem
que estar preparado, com alguma
ajuda governamental, para poder
ser empregado sempre.
Jospin, ao contrário, sonha com
um monumental plano de obras
públicas, como a rede ferroviária
de alta velocidade que enlaçaria
quase toda a Europa. Schroeder,
por sua vez, acaba de lançar o chamado "diálogo social", mesa tripartite de negociações (governo,
empresários, sindicatos), em busca de soluções consensuais, característica de resto do modelo alemão, com a social-democracia ou
com a democracia-cristã.
Tais diferenças de concepção,
mais as divergências sobre quem
vai pagar quanto do orçamento da
UE para o período 2000/2006, explicam porque a ampliação do bloco pode acabar ficando para um
futuro muito remoto. De todo modo, continua previsto para o ano
que vem, junto com a entrada do
euro, o início das negociações para
o ingresso de seis países (República Tcheca, Estônia, Hungria, Polônia, Eslovênia e Chipre).
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