São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 1998

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ENERGIA
País economiza US$ 2,1 bi com queda do preço no exterior e maior produção interna, mas gasolina fica mais cara
Petróleo mais barato só favorece governo

JOSÉLIA AGUIAR
da Reportagem Local

A queda do preço do petróleo no mercado internacional ao seu mais baixo nível em 25 anos e o aumento da produção da Petrobrás ajudarão o país a economizar cerca de US$ 2,1 bilhões.
Em 97, o país gastou US$ 6,2 bilhões com a importação de petróleo. A cifra deve baixar para US$ 4,1 bilhões este ano, segundo Julio Colombi Netto, diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo), criada em 97 para regulamentar, fiscalizar e supervisionar a abertura do setor à iniciativa privada.
O aumento de até 10% nos preços dos combustíveis no último dia 4 mostra, no entanto, que o recuo do preço do óleo bruto no mercado externo não tem reflexo direto no preço pago pelo consumidor no país.
A explicação é que o valor da gasolina nos postos inclui o que a Petrobrás paga lá fora pelo barril -que corresponde a 21% do preço na bomba- e também abrange impostos, subsídios e margens de lucro dos distribuidores e revendedores. Esses fatores respondem pelos demais 79% do preço final.
A desregulamentação do setor, iniciada em 1997 e com conclusão em agosto do ano 2000, também não garantirá necessariamente um recuo nos preços no mercado brasileiro, afirma Pedro Martins, analista do Banco Patrimônio que acompanha o segmento.
Isso porque, apesar da desregulamentação -que deve eliminar subsídios e liberar o fluxo de importação e exportação-, o preço continuará dependendo do nível de taxação determinado pelo governo.
"A indústria do petróleo, em todo o mundo, é usada pelos governos para ajudar em sua arrecadação", diz Martins. Foi por isso que os combustíveis aumentaram mesmo com a contínua queda do preço do petróleo desde o final de 97. O objetivo do governo foi aumentar sua receita.
O consultor Paulo Dutra, especialista em assessoria contábil para postos de combustíveis, diz que a carga tributária no país é elevada. Dutra afirma que os preços só deverão baixar quando ocorrer uma maior liberação da importação do produto.
O dinheiro que a Petrobrás vai economizar com a queda do preço do barril e com o aumento da produção ajudará a amortizar a chamada conta-petróleo.
Com essa conta, a Petrobrás contabiliza as perdas que teve no período em que comprou petróleo mais caro e vendeu combustíveis a preços favorecidos ao mercado interno. Como agora o preço do óleo bruto está mais favorável, os ganhos obtidos agora servem para abater o déficit acumulado.
A dívida do Tesouro com a Petrobrás em virtude da conta-petróleo, que estava avaliada em mais de R$ 7 bilhões em 96, era de R$ 4,9 bilhões no terceiro trimestre deste ano.
A queda do preço do óleo bruto levou duas gigantes norte-americanas do setor petrolífero, a Exxon, a maior do mundo, e a Mobil, segunda maior dos EUA, a anunciarem uma fusão que deve criar uma companhia de US$ 250 bilhões em valores de mercado.
O grupo francês Total, do setor de energia, também vai adquirir 41% da empresa belga Petrofina para formar a sexta maior companhia petrolífera do mundo.
As fusões e aquisições que estão ocorrendo no setor petrolífero em âmbito mundial podem levar a uma redução do preço à medida que as empresas vão cortar custos e se tornar mais eficientes.
"Isso é bom para o país, que é um importador líquido", diz Pedro Martins, do Banco Patrimônio.
Ao mesmo tempo, as mudanças no setor podem retardar a entrada de algumas dessas empresas no país, com as quais a Petrobrás espera formar parcerias.
"Se houver impacto das fusões no país, será positivo", afirma Colombi Netto, da ANP.



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