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AMÉRICA LATINA
Nas duas últimas décadas os ricos ficaram mais ricos, e os pobres, mais pobres, constatou estudo do Indec
MAURÍCIO SANTANA DIAS
de Buenos Aires
A distribuição de renda na Argentina piorou nas duas últimas
décadas. Não só: a diferença entre
pobres e ricos se vem acentuando
desde 1994.
É o que mostra uma recente pesquisa do Instituto Nacional de Estatísticas e Censo (Indec), referente a agosto de 1998.
Desde 1974, ano em que o Indec
começou a medir a concentração
de riqueza no país, o único segmento que não sofreu perdas o dos
10% mais abastados.
Os outros 90% dos argentinos viram seu poder aquisitivo minguar
progressivamente, com o agravante de que as perdas aumentaram à
medida que se passava aos setores
menos favorecidos.
²
Distribuição
Assim, em 1974 os 20% mais ricos detinham 43,7% da renda total,
contra 6,7% do mesmo percentual
mais pobre.
Em agosto de 1998, esses mesmos
grupos sociais repartem a riqueza
da Argentina de forma ainda mais
desigual, registrando um recorde
histórico -53,2% contra 4,2%. A
crise social se aprofundou no segundo governo de Carlos Menem.
No curto período que vai de maio
de 1994 a agosto de 1998, a porcentagem de trabalhadores que ganham menos de US$ 200 mensais
perdeu 26% dos seus rendimentos,
enquanto os que ganham acima de
US$ 1.500 -uma faixa que abarca
apenas 10% da população- passaram a perceber cerca de 9% a
mais.
Com esses números, a Argentina, que pelo menos em termos regionais sempre foi um modelo de
equidade, passa a figurar no rol
dos campeões da desigualdade social, superando a média dos países
latino-americanos -onde os 20%
mais ricos se apropriam de 52,9%
da renda, segundo dados do Banco
Mundial (Bird).
²
Possíveis causas
A crescente pauperização da Argentina não se deve a uma queda
da atividade econômica -que,
aliás, cresceu em níveis extraordinários nos últimos oito anos, com
a exceção de 1995-, mas a um nítido processo de concentração da
riqueza.
Segundo os técnicos do Indec, o
agravamento da desigualdade social pode ser melhor entendido a
partir de uma análise do que ocorreu com salários e empregos nos
últimos anos.
Uma primeira evidência aponta
que, entre maio de 1994 e agosto de
1998, o custo de vida na Argentina
aumentou 6,4%, enquanto os salários nominais se mantiveram estacionados.
Além disso, o trabalho informal
-cujos salários são em média 40%
mais baixos que os dos empregados registrados- aumentou mais
de 25% nesses quatro anos.
²
Trabalho precário
Houve também um maior número de contratos temporários ou
precários, com baixa remuneração
e alto índice de instabilidade, o que
produz basicamente dois resultados: depreciação geral dos salários
e enfraquecimento da seguridade
social.
Com isso, oito em cada dez trabalhadores argentinos se vêem impossibilitados de custear os gastos
básicos de uma família padrão (casal com dois filhos), estimados em
US$ 1.032 mensais pela Fundación
de Investigaciones para el Desarrollo (Fide).
Por outro lado, o Indec salienta
que a desigualdade entre ricos e
pobres pode ser ainda maior.
Isso porque os segmentos mais
abastados, temendo o fisco, tendem a declarar menos do que possuem.
Para o economista Jose Luis Machinea, um dos possíveis ministros
da Economia caso a oposição a
Menem vença as próximas eleições, marcadas para 99, "o fato de
que a pobreza aumente ao mesmo
tempo em que a economia cresce é
alarmante, uma clara manifestação de que piorou a distribuição de
renda no país".
O certo é que os números apresentados pelo Indec demonstram,
mais uma vez, que é possível conseguir crescimento econômico
sem desenvolvimento social.
²
Melhor que o Brasil
De qualquer forma, vale lembrar
que a situação da Argentina, apesar dos indicadores sociais negativos, ainda é bem mais confortável
que a do seu maior vizinho.
No Brasil, o décimo da população mais rica detém 47% da renda
nacional -como mostrou o relatório do Banco Interamericano de
Desenvolvimento (Bid), divulgado
no mês passado.
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