São Paulo, terça-feira, 14 de janeiro de 2003

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NEGÓCIO

Pela 1ª vez desde 94, participação de estrangeiros no sistema financeiro nacional recua; prejuízo explica fuga

Em 1 ano, R$ 25 bi em ativos voltam para bancos locais

DA REPORTAGEM LOCAL

Contabilizada a compra do BBV Banco pelo Bradesco, os bancos estrangeiros já transferiram, desde o início de 2002, R$ 25 bilhões em ativos para as mãos de instituições privadas nacionais. A estimativa foi feita pela ABM Consulting a pedido da Folha.
Essa fuga fez com que os bancos estrangeiros vissem no ano passado, pela primeira vez desde 1994, sua participação no total de ativos do sistema financeiro nacionais recuar. Esse percentual era de 29,86% em 2001 e caiu para 27,1% agora, se for incluída a venda do BBV para o Bradesco.
A saída do mercado brasileiro é explicada em parte pelas perdas que muitos bancos estrangeiros amargaram na América Latina, principalmente com a crise da Argentina. No caso do BBV, por exemplo, analistas acreditam que a transação com o Bradesco foi uma boa oportunidade do banco reduzir a sua exposição no Brasil e, ao mesmo tempo, continuar presente no mercado, condição considerada estratégica em razão de alguns grandes clientes do banco.
"Nem todos os bancos que investiram no país tinham estratégia de longo prazo. Alguns achavam que fazia sentido naquele momento, que o país era atrativo, e agora, com o momento difícil pelo qual o mercado está passando, essas posições podem passar por reavaliação", disse Bruno Pereira, analista do UBS Warburg.
Outra razão importante para esse recuo é a dificuldade encontrada pelos estrangeiros para competir com os principais bancos nacionais, como Bradesco e Itaú.
Segundo Márcio Cypriano, presidente do Bradesco, o BBV, por exemplo, não tinha escala suficiente para concorrer no mercado nacional, que está "cada vez mais agressivo", nas palavras dele.
"O Brasil deve representar um caso único em que o sistema nacional foi aberto ao capital externo e, depois, voltou a se nacionalizar", diz o economista Fernando Cardim, que é professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Segundo Cardim, os bancos brasileiros se fortaleceram na época da hiperinflação. Com a indexação, os correntistas se sentiam estimulados a manter seu dinheiro no banco, aplicado em contas que corrigiam o valor do dinheiro.
Em outros países da América Latina, lembra Cardim, isso não ocorreu: "Nos outros países, na falta de indexação, as pessoas acabam fugindo para o dólar", diz.
Isso abriu espaço para a modernização e crescimento dos bancos locais. "A maior parte das instituições estrangeiras que entraram aqui não conseguiram escala para competir", diz Cardim.
Segundo analistas, bancos estrangeiros, como Sudameris e BNL, continuam esperando uma oportunidade para sair do país.
(ÉRICA FRAGA E GEORGIA CARAPETKOV)


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