|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NEGÓCIO
Pela 1ª vez desde 94, participação de estrangeiros no sistema financeiro nacional recua; prejuízo explica fuga
Em 1 ano, R$ 25 bi em ativos voltam para bancos locais
DA REPORTAGEM LOCAL
Contabilizada a compra do
BBV Banco pelo Bradesco, os
bancos estrangeiros já transferiram, desde o início de 2002, R$ 25
bilhões em ativos para as mãos de
instituições privadas nacionais. A
estimativa foi feita pela ABM
Consulting a pedido da Folha.
Essa fuga fez com que os bancos
estrangeiros vissem no ano passado, pela primeira vez desde 1994,
sua participação no total de ativos
do sistema financeiro nacionais
recuar. Esse percentual era de
29,86% em 2001 e caiu para 27,1%
agora, se for incluída a venda do
BBV para o Bradesco.
A saída do mercado brasileiro é
explicada em parte pelas perdas
que muitos bancos estrangeiros
amargaram na América Latina,
principalmente com a crise da Argentina. No caso do BBV, por
exemplo, analistas acreditam que
a transação com o Bradesco foi
uma boa oportunidade do banco
reduzir a sua exposição no Brasil
e, ao mesmo tempo, continuar
presente no mercado, condição
considerada estratégica em razão
de alguns grandes clientes do
banco.
"Nem todos os bancos que investiram no país tinham estratégia de longo prazo. Alguns achavam que fazia sentido naquele
momento, que o país era atrativo,
e agora, com o momento difícil
pelo qual o mercado está passando, essas posições podem passar
por reavaliação", disse Bruno Pereira, analista do UBS Warburg.
Outra razão importante para esse recuo é a dificuldade encontrada pelos estrangeiros para competir com os principais bancos
nacionais, como Bradesco e Itaú.
Segundo Márcio Cypriano, presidente do Bradesco, o BBV, por
exemplo, não tinha escala suficiente para concorrer no mercado
nacional, que está "cada vez mais
agressivo", nas palavras dele.
"O Brasil deve representar um
caso único em que o sistema nacional foi aberto ao capital externo e, depois, voltou a se nacionalizar", diz o economista Fernando
Cardim, que é professor da UFRJ
(Universidade Federal do Rio de
Janeiro).
Segundo Cardim, os bancos
brasileiros se fortaleceram na
época da hiperinflação. Com a indexação, os correntistas se sentiam estimulados a manter seu dinheiro no banco, aplicado em
contas que corrigiam o valor do
dinheiro.
Em outros países da América
Latina, lembra Cardim, isso não
ocorreu: "Nos outros países, na
falta de indexação, as pessoas acabam fugindo para o dólar", diz.
Isso abriu espaço para a modernização e crescimento dos bancos
locais. "A maior parte das instituições estrangeiras que entraram
aqui não conseguiram escala para
competir", diz Cardim.
Segundo analistas, bancos estrangeiros, como Sudameris e
BNL, continuam esperando uma
oportunidade para sair do país.
(ÉRICA FRAGA E GEORGIA CARAPETKOV)
Texto Anterior: Negociações acabaram em menos de 30 dias Próximo Texto: Modelo atual exige mais ganho de escala Índice
|