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OPINIÃO ECONÔMICA
Primeiro emprego
BENJAMIN STEINBRUCH
A noite e a madrugada do
Réveillon foram extremamente violentas na Grande São
Paulo. Enquanto os paulistanos
comemoravam o ano novo, 31
pessoas foram mortas em chacinas e homicídios variados na
área metropolitana. No dia seguinte, 22 desses mortos haviam
sido identificados. Onze deles tinham entre 17 e 24 anos.
Essa estatística é o retrato de
uma realidade tenebrosa: o Brasil, país pacífico, perde milhares
de jovens por ano, como se estivesse em guerra, por causa da
ação do crime organizado e da
violência urbana. Segundo números do
IBGE, houve 1,9 milhão de mortes
violentas no país nos últimos 20
anos. Desse total, 1,5 milhão eram
jovens. Se houvesse participado
de uma guerra, certamente o Brasil não teria perdido tantos brasileiros.
O homicídio é, de longe, a principal causa da morte de jovens no
país. Em alguns Estados, como
São Paulo e Rio, metade da mortalidade juvenil decorre de assassinatos. Em todo o país, o índice
está em torno de 40%.
Por que isso acontece? O novo
ministro do Trabalho, Jaques
Wagner, lembrou na semana passada uma das causas: a falta de
acesso dos jovens ao mercado formal de trabalho.
Qualquer pessoa com mais de
20 anos pode confirmar a afirmação do ministro sobre a difícil tarefa de conseguir o primeiro emprego. As oportunidades que aparecem -e isso pode ser comprovado até nos anúncios de empregos nos jornais- exigem sempre
experiência. "Mas como conseguir experiência sem ter a primeira oportunidade de trabalhar?",
costumam perguntar os jovens.
Para quem está saindo de uma
universidade, em geral com estágios já feitos, o mercado de trabalho já é muito difícil. Mas, para
quem não teve a sorte de estudar,
ele é quase impenetrável. Essa
realidade empurra os jovens para
a criminalidade. Ao assumir a Secretaria de Estado dos Direitos
Humanos, o deputado Nilmário
Miranda estimou que existem
cerca de 8 milhões de jovens em
situação de risco no Brasil. Ou seja, frequentaram a escola por no
máximo dois anos, não têm qualificações para o trabalho e são facilmente recrutados pelo crime
organizado.
No magnífico filme "Cidade de
Deus", vimos claramente como as
crianças e adolescentes participam ativamente do mundo do
crime. Não são mais "aviõezinhos", aqueles pequenos olheiros
que vigiavam a chegada da polícia para alertar os traficantes ou
levavam mensagens a clientes
compradores de drogas. São "soldados" armados.
O ministro Jaques Wagner diz
ter um plano para disputar essa
mão-de-obra juvenil com o mercado do crime e atraí-la ao mercado de trabalho. A idéia é lançar
o que ele chamou de Programa do
Primeiro Emprego da Juventude.
Pelo plano, as empresas serão estimuladas a oferecer contratos de
primeiro emprego a jovens entre
16 e 24 anos. Os contratos teriam
um ano e o governo arcaria com
os encargos trabalhistas dos primeiros seis meses. Os outros seis
ficaram por conta do empregador.
Para dar certo, um plano como
esse exige dedicação, muita participação da sociedade e uma boa
parcela de recursos públicos para
estimular as empresas. Enquanto
a economia não retoma o crescimento, que naturalmente promoverá a absorção da mão-de-obra que entra no mercado de
trabalho, o governo tem a obrigação de pensar em programas como esse.
Benjamin Steinbruch, 49, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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