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OPINIÃO ECONÔMICA
As agências reguladoras e a terceirização do governo
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Volto à questão das agências reguladoras e de suas
implicações sobre a vida de todos
nós. O PT manteve nos últimos
dias uma pressão constante sobre
a opinião pública, na tentativa de
desmoralizar o sistema atual de
regulação e fiscalização dos serviços públicos. Paralelamente a esse
movimento, acionou um grupo
de juristas ligados ao partido para encontrar uma forma legal de
demitir os dirigentes atuais dessas
agências e substituí-los por pessoas ligadas ao PT. Os argumentos jurídicos para tal ação que estão vindo a público são lamentáveis e já foram desmoralizados
pelo presidente do Supremo Tribunal Federal.
O debate público sobre as agências vai continuar, pois a imprensa percebeu sua importância para
a sociedade. Espero que o governo
desça de seu palanque eleitoral,
deixe de lado sua preocupação de
petizar a administração pública e
participe com idéias e propostas
nessa tão necessária revisão das
mudanças patrocinadas pelo governo tucano de Fernando Henrique Cardoso. Todos sairiam ganhando com isso.
Mas voltemos a nossas reflexões
sobre o modelo institucional das
agências reguladoras. Vimos que
o objetivo central do modelo é
moderar a influência política sobre as empresas de serviços públicos, sejam públicas ou privadas,
que precisam de regras estáveis
para funcionar de forma eficiente. Para alcançá-las, a duração
dos mandatos de seus dirigentes é
fixa e definida de maneira que a
cada período de governo haja
uma reciclagem parcial dos administradores. Essa foi a solução
encontrada pelas democracias
mais avançadas para resolver essa questão e foi adotada no Brasil.
Por isso, ao longo de seu mandato, o presidente Lula terá a
oportunidade de escolher novos
dirigentes das agências que defendam pontos de vista alinhados
com seu pensamento político. Da
mesma forma como ele será responsável pela indicação de pelo
menos três juízes da nossa suprema corte. Não faz sentido, portanto, provocar toda essa celeuma, tornar instáveis as relações
com os concessionários atuais e
reduzir ainda mais nossa já abalada credibilidade internacional.
Uma prova evidente da inconsistência teórica do PT nessa
questão é a sua posição em favor
do Banco Central independente.
Nossos novos governantes, principalmente o grupo dirigente que
comanda as ações do governo,
não conseguem perceber que o
Banco Central é também uma
agência reguladora que administra um dos monopólios públicos
por excelência -o outro é o do
uso da força-, que é a emissão
de moeda! Como então entender
essa guerra santa contra a Anatel,
a Aneel e a ANP, com o argumento de que o governo FHC terceirizou suas atividades? Dar independência ao Banco Central será
talvez a terceirização mais radical que pode ser realizada por um
governo. Será que Lula não percebe isso? Como explicar essa incoerência que agride o analista mais
frio e independente? Não podemos deixar de pensar que isso
acontece pura e simplesmente
porque será de responsabilidade
de Lula indicar a primeira direção de uma autoridade monetária independente.
Mas voltemos à reflexão sobre
alguns pontos específicos dos
atuais contratos de concessão que
têm sido atacados por ministros e
outros membros do governo. O
mais importante deles tem sido a
correção anual das tarifas pelo
IGP. Por um lado, dizem os críticos dos contratos atuais que a
economia está desindexada e,
portanto, não é necessária uma
correção contratual. Dado o histórico da inflação no Brasil, mesmo após o sucesso do Plano Real,
quem em sã consciência pode defender que as tarifas públicas sejam fixadas arbitrariamente pelo
governo de plantão, seja ele qual
for, ao longo de um prazo de 20
anos?
Coloco essa questão de outra
forma: quem assumiria a responsabilidade de investir centenas de
milhões de dólares em um negócio que, pelo período de 20 anos, o
obriga a promover a universalização de serviços e a manter um
padrão mínimo de qualidade,
sem estar definida uma regra de
correção dos preços de seus serviços? Agravando ainda mais esse
quadro de insegurança, os serviços a serem prestados são essenciais e pesam de forma importante sobre o orçamento do cidadão.
Por outro lado, dado o caráter
de monopólio natural desses serviços, a fixação das tarifas também não pode ficar a critério exclusivo do concessionário. Certamente ele exerceria seu poder monopolista para maximizar seus
lucros em detrimento do consumidor. Portanto a indexação contratual a algum índice de preços é
a única saída para a construção
de serviços públicos consistentes.
Volto a este debate na próxima
semana.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60,
engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e
ministro das Comunicações (governo
FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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