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LUÍS NASSIF
O maior desafio da imprensa
Recentemente, Clóvis Rossi
mencionou um estudo sobre o
Brasil, feito na Alemanha, com
duas projeções. Nas próximas décadas, poderá ser uma das cinco
potências emergentes do mundo.
Mas esse futuro poderá ser comprometido pela corrupção e pela
ausência de instituições eficientes.
O episódio dos precatórios revela, em toda sua extensão, esses
riscos. Não há praticamente uma
instituição pública (do governo
ou do setor privado) que não saia
chamuscada desse episódio.
Todos esses poderes têm enorme
dificuldade em proceder a autocorreções de rumo. Dentre os
quatro poderes, a imprensa -por
suas próprias características- é
a mais suscetível de mudanças. É
o poder que mais se permite a
autocrítica. Na mídia, mudanças
de procedimento ocorrem a partir da mera deflagração de discussões -ao contrário dos demais poderes, cujas mudanças
passam por processos regimentais, burocráticos ou legais, geralmente lentos.
Daí a importância institucional
de se ter uma imprensa tecnicamente qualificada e criteriosa.
Daí a importância da mídia se
dar conta de que seu sucesso mercadológico está diretamente ligado a sua legitimação como um
dos poderes empenhados em
construir um país moderno.
Papel histórico
No fim dos anos 80, ocorreram
golpes gigantescos no mercado de
câmbio e em operações de conversão de dívida externa; golpes
extraordinários foram aplicados
contra o Tesouro, nos casos de
liquidação extrajudicial; a maior
parte do capital da Telebrás foi
vendida a menos de um dólar a
ação --cem vezes menos do que
vale hoje.
Tudo isso ocorria pela incapacidade da imprensa de entender
a complexidade dessas operações. Houvesse uma imprensa
tecnicamente aparelhada, bilhões de dólares teriam sido economizados pelo país.
O episódio dos precatórios só
provocará mudanças nos demais
poderes se submetidos a pressões
da imprensa. Não por meio do
estilo atual -de levantar irrelevâncias com estardalhaço- mas
entendendo a natureza dos problemas, sabendo trocar em miúdos para a opinião pública, identificando as pessoas que melhor
estão pensando as mudanças.
Identificar claramente um problema ou um golpe é meio caminho andado para se encontrar a
solução.
Ao longo da história, a imprensa brasileira teve alguns momentos de glória. Ajudou na campanha da Abolição e na Proclamação da República. Recentemente,
ajudou a implantar as diretas e a
derrubar um presidente.
Mas nenhum dos desafios se
compara ao que se tem hoje: a
possibilidade de interferir diretamente no aprimoramento das
instituições e na construção de
um país moderno.
No momento, não estamos preparados para isso. Praticamente
não há especialistas em diplomacia, em comércio exterior, poucos
especialistas em telecomunicações, quase nenhum especialista
em saúde, raros estudiosos de orçamento.
É hora de se começar a rever
esse estilo e a estimular nos jovens repórteres os verdadeiros
valores da profissão: a especialização, o critério na apuração de
notícias, o aprofundamento do
tema, a capacidade de não tirar
conclusões antes de ouvir todos
os lados.
Ainda vamos construir uma
imprensa à altura do atual momento histórico.
Torquemada queimado
1) O relatório que aprovou a
emissão de precatórios pela Prefeitura de São Paulo foi conduzido pelo senador Espiridão Amin.
2) Agora surgem informações de
telefonemas dados por Wagner
Ramos ao comitê eleitoral de Ângela Amin, esposa de Espiridão.
3) Amin tem denotado uma flagrante ansiedade em consolidar
a versão inicial da CPI, de restringir a operação a um espertalhão de mercado e quatro ou cinco técnicos da Prefeitura de São
Paulo.
Como não sou um Torquemada
da CPI -como o próprio Amin
tem sido-, diria que não são
provas conclusivas, mas indícios
suficientes para o senador declarar-se impedido de continuar integrando a CPI, e oferecer seu
sigilo telefônico e bancário.
Quanto muito, por uma questão de isonomia.
Email: lnassif@uol.com.br
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