São Paulo, segunda, 14 de abril de 1997.

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CRIAÇÃO & CONSUMO
É proibido fazer propaganda

FRANCESC PETIT
Cada vez mais os publicitários do mundo inteiro são tratados como bandidos: somos os próprios vilões da história. Proíbem a propaganda de cigarros, bebidas alcoólicas, uso de crianças na propaganda, uso de sexo, nus masculinos ou femininos, proíbem a violência nos comerciais e os palavrões, enfim, na propaganda se acham no direito de proibir absolutamente tudo.
Gostaria de saber qual a diferença que existe, em termos de comunicação, entre a propaganda e a indústria mundial do cinema, que já não chamam mais de arte cinematográfica e sim de "entretenimento". Por que então este setor do mundo da comunicação tem o privilégio de ter todos os direitos sem cortes, sem censura? Eles podem sim mostrar gente fazendo sexo explícito de toda modalidade, homem com homem, mulher com mulher, mulher e homem e daí todas as fantasias sexuais, podem mostrar gente consumindo drogas, fumando haxixe, marijuana, usando cocaína ou levando uma picada de heroína ou morfina. Eles também podem mostrar todas as atrocidades sangrentas, mortes violentas, heróis delinquentes, ídolos assassinos, gente famosa sem nenhum escrúpulo, corruptos vencedores, ladrões bem sucedidos.
No cinema tudo é permitido em nome da "arte", que é financiada por grandes marcas internacionais que fazem merchandising em tais filmes. É claro que ainda existem cineastas que realizam filmes feitos com arte e que ninguém patrocina nem exibe -e muito menos recebem Oscar.
Mas o resto é indústria mesmo para faturar e basta. Arte é coisa para ingênuos. Filmes para faturar têm que ter sexo, violência, sangue e efeitos especiais para serem exibidos para crianças de 2 a 70 anos nos cinemas e na televisão e ninguém reclama.
E nós, pobres publicitários, se continuarmos assim vamos acabar trabalhando num convento de freiras, fazendo figurinhas para serem vendidas nos dias santos e pagando os pecados que cometemos na nossa vida profissional. Acho que é uma bela causa para as entidades de classe se unirem para acabar com esta bobagem de proibir tudo o que a propaganda cria com muita arte.


Francesc Petit, 62, publicitário, é sócio-diretor da DPZ Propaganda.

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