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OPINIÃO ECONÔMICA
Falsas soluções para aumentar o salário mínimo
MAILSON DA NÓBREGA
Este ano, a demagogia no debate sobre o salário mínimo foi
maior do que de costume. Nos
efeitos sobre as finanças públicas, a desinformação continuou
a mesma.
Poucos esperavam que a demagogia começasse no PFL, um
partido que se diz comprometido com a idéia da austeridade
na gestão dos recursos dos contribuintes.
Dificilmente os economistas
do PFL, que sabem fazer conta,
terão fornecido munição para o
bombardeio populista. Não comentaram o assunto. Preferiram a moita. Quietos ficaram
também parlamentares pefelistas que não acharam graça no
circo.
Da oposição, já se esperava o
debate de sempre. Um de seus
membros, deputado pelo Rio
Grande do Sul, tem nas propostas de grandes aumentos do salário mínimo uma fonte inesgotável de votos. É natural que S.
Exª. continue cevando o rebanho.
Surpreenderam as barbaridades ditas por líderes da oposição,
que tentaram justificar um salário mínimo de US$ 100 (moeda
norte-americana, quem diria!).
Para eles, há dinheiro para pagar esse mínimo.
O problema, disseram, é que o
governo desvia recursos da seguridade social para os banqueiros. Qualquer principiante nos
meandros das finanças públicas
brasileiras sabe que a afirmação
não resiste a dois minutos de argumento técnico sereno e coerente.
Prefiro outro velho argumento
irrealista, aquele segundo o qual
o mínimo pode subir caso se
combata a sonegação. Parece
sugerir que o governo prefere favorecer os sonegadores e prejudicar os pobres. A tese é ingênua
e nunca pôde ser provada, mas
pelo menos tem certo grau de
pureza e uma aparência de verdade.
De parlamentares que não testam suas propostas se espera
qualquer coisa. Não houve surpresa. Este ano, sugeriram uma
saída altruísta: eles próprios renunciariam às suas emendas orçamentárias e o governo cortaria investimentos. A sobra, afirmaram, daria para pagar um
mínimo de R$ 177.
Onde está o erro dos representantes do povo? Simples. O aumento do mínimo acima de R$
151 se transforma em gasto permanente. Ou seja, as emendas e
os investimentos deveriam desaparecer para sempre e não apenas no ano 2000. É viável?
Houve também quem dissesse
que não bastava o ministro da
Fazenda argumentar que a Previdência quebra toda vez que o
mínimo é reajustado. Há mais
de cinco anos ele repete isso,
tempo mais que suficiente para
a sua equipe encontrar alternativas.
Segundo essa tese, uma saída
seria o presidente tirar verbas da
supérflua máquina administrativa, do superfaturamento das
obras dos Poderes Legislativo e
Judiciário e dos fundos sociais
que nunca chegam aos pobres.
Faz todo o sentido, não faz?
O problema é que essa solução
não existe. A máquina administrativa não pode ser diminuída
nem é permitido reduzir salários. Mesmo que tenha acabado
a estabilidade dos servidores,
ela, na prática, continua. São
pouquíssimos os casos em que é
possível demitir.
As obras de outros poderes
chocam em muitos casos, mas
não cabe ao presidente ditar sua
conduta. As dotações constam
no Orçamento e eles têm autonomia para usá-las. Se as desperdiçam, a solução cabe a outro departamento.
Houve época em que se cassava mandatos e se fechava o Congresso. O argumento era o mesmo: combate à corrupção e ao
desperdício. Como se sabe, não
deu certo.
Além disso, se a via autoritária
fosse viável, não resolveria o
problema. Não seria suficiente
para bancar os bilhões adicionais de gastos. Ajudaria, mas
não como se pensa.
Quanto aos fundos sociais, é
certo que eles beneficiam mais
os ricos e os burocratas do que os
pobres. O problema é que esses
fundos têm vícios de origem que
exigiriam reformas constitucionais para mudá-los.
Aí chegamos à questão central. A rigidez dos gastos públicos, especialmente na Previdência, deriva em grande parte da
Constituição de 1988. Os constituintes criaram privilégios abomináveis. Também criam benefícios justificáveis, mas insustentáveis.
O ministro Ornélas disse que a
Previdência quebraria com
qualquer mínimo. Isso é verdade desde 1988, quando o superávit iniciou sua trágica caminhada para se transformar em déficit (veja gráfico), o que foi empurrado também pelas mudanças demográficas.
Uma coisa é certa: o mínimo é
pouco. Diferentemente do que
muitos pensam, todavia, não
existe solução à vista para o problema. Vai levar tempo. Muitos
ministros da Fazenda continuarão repetindo o que disse Malan.
A menos que prefiram o desastre.
PS: Recorrem geralmente ao insulto os arrogantes e os que perderam o argumento. Foi o que se
viu nesta coluna ontem.
Mailson da Nóbrega, 57, ex-ministro da
Fazenda (governo José Sarney), sócio da
Tendências Consultoria Integrada, escreve
às sextas-feiras nesta coluna.
E-mail: mailson@palavra.inf.br
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