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LUÍS NASSIF
A desburocratização das micro
O brasil se viciou em
grandes reformas constitucionais. Há anos o álibi de
sucessivos governos tem sido o
de aguardar as "reformas", seja lá o que elas signifiquem.
No entanto, há uma enorme
agenda microeconômica esperando por solução, dependendo apenas de vontade política e
de capacidade de articulação
entre órgãos do governo.
Hoje em dia já existe, disponível, considerável volume de
estudos sobre a burocratização
produzidos por órgãos como o
Sebrae, a Fiesp, empresas de
consultoria, academia. E existem experiências concretas de
simplificação e redução da carga tributária das micro e pequenas, que resultaram em aumento da arrecadação -como
ocorreu no Estado do Pará.
É hora de se debruçar a sério
sobre o tema.
Em breve, a certificação digital e a internet acabarão com o
trâmite de papéis e permitirão
a integração de órgãos e documentos. Trata-se de um momento crucial para definir um
modelo não-burocrático. Se se
permitir a informatização sem
redefinir os processos, a burocracia acabará se apropriando
da tecnologia.
Há um conjunto relevante de
idéias e conceitos a serem trabalhados. Se houvesse um mínimo de articulação e visão estratégica no governo Lula, o tema poderá se converter em
bandeira econômica e social de
enorme visibilidade.
Nos últimos seis meses, aliás,
o Sebrae nacional deu início a
um amplo trabalho visando
preparar a Lei Geral das Microempresas, na brecha aberta
pela reforma tributária, que
permitiu tratamento diferenciado para o setor.
Duas idéias-chave para a
desburocratização são:
1) Cadastro único: um registro único para cada empresa,
com um único número, que
possa ser utilizado em todos os
órgãos. Hoje em dia existem,
em média, 8 órgãos envolvidos
na abertura de empresas e 30
documentos exigidos. A Fiesp
mapeou o processo de abertura
de empresa em São Paulo e
constatou que só os documentos fotocopiados chegavam a
50. Se o empresário seguisse todos os passos religiosamente,
sem errar nenhum deles, levaria de quatro a cinco meses para abrir a empresa e não gastaria menos que R$ 700, se for
microindústria.
A partir desse cadastro único,
se poderia, por exemplo, criar
uma espécie de Poupatempo
federal, um local em que o empresário daria entrada ao pedido de abertura, uma semana
depois receberia toda a documentação e um kit, treinando-o a tratar com os 14 documentos fiscais.
2) Arrecadação unificada de
todos os tributos, federais, estaduais e municipais, com a obrigatoriedade de repasse imediato da parte que cabe a cada ente federativo.
Outro ponto relevante para a
desburocratização das micro e
pequenas empresas seria uma
lei complementar que criaria
uma série de exigências mínimas para as empresas. Depois,
institui-se uma comissão especial para avaliar qualquer exigência adicional, criada por
leis para o conjunto das empresas, que venha a sobrecarregar
o micro e o pequeno empresário. Haveria uma blindagem
contra a burocracia.
Enfim, já existe massa crítica
de estudos e soluções, existem
tecnologia disponível e diagnósticos. Basta apenas um presidente com vontade política,
para se impor sobre os feudos
que dominam o setor público.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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