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LUÍS NASSIF
Fome Zero no rumo
O fome Zero nasceu com
uma virtude grandiosa, um
defeito gigantesco e uma dúvida
que poderia desempatar o jogo.
A virtude foi o fator mobilização, o chamamento à ação de todos, algo impensável no governo
FHC. O defeito foi não ter plano
nem modelo de atuação definidos. A interrogação, a capacidade ou não de seus coordenadores
de ouvir e acatar sugestões e encontrar o rumo.
Daqui da coluna, foram apresentadas três sugestões conceituais de atuação do movimento,
em linha com o moderno pensamento gerencial.
A primeira, de trabalhar como
uma organização social, entidade de cunho misto, governo e sociedade civil, com controle e
transparência, mas com flexibilidade de atuação.
A segunda, de atuar como
agente coordenador especialmente das entidades públicas e
privadas com estrutura nacional
em torno de objetivos comuns.
A terceira, de se pautar pelo
uso intensivo de indicadores de
avaliação, peça fundamental
para tornar a ação social eficaz e
permitir ampliar o trabalho de
coordenação de forças.
Nesta semana, o anúncio de
lançamento de uma organização social em apoio ao Fome Zero -idealizada pelo empresário
Antoninho Marmo Trevisan-
encampa os três conceitos. Se
operacionalmente vai ser bem-sucedida ou não, o tempo dirá.
Conceitualmente, o programa
começa a encontrar seu rumo.
Como organização social, a
entidade terá flexibilidade para
receber doações, especialmente
aquelas carimbadas -ou seja,
com destinação predefinida pelo
doador. No setor público, todas
as doações vão para uma vala
comum e acabam emperradas
na burocracia. O próprio Fome
Zero levou quatro meses para
poder operar microcomputadores recebidos em doação.
Mais importante que isso: conseguindo a adesão dos grandes
empresários, essa organização
social facilitará bastante a operação do programa na ponta,
além de impedir sua apropriação política.
Por exemplo, empresas de telefonia já estão operando data
centers para recebimento de propostas. Caixas de supermercados, ao lado de organizações religiosas, poderão ser mobilizados
para programas de educação
alimentar e para informar a população sobre como coibir o roubo de merenda escolar. E assim
por diante.
Finalmente, o uso intensivo de
indicadores -de uso corrente
em empresas de auditoria, como
a de Trevisan- ajudará a dar a
visão de conjunto e ferramentas
de controle.
Com essa estrutura plenamente montada, o país poderá, pela
primeira vez, exercitar algo que
esta coluna defende há anos:
programas horizontais de articulação de ativos e pessoas já
existentes (empresas, igrejas, organizações da sociedade) em
torno de objetivos comuns.
Insisto: é um modelo que ainda precisa passar no teste operacional. Tomara que a tecnologia
seja assimilada, amadurecida e
utilizada para a segunda grande
bandeira de mobilização nacional: a luta pela melhoria da qualidade e da competitividade.
Luz amarela
Acendeu a luz amarela no Ministério da Fazenda. Os dados de
desemprego no setor informal
assustaram. Juros não caíram
ainda em razão do "fogo amigo". Teme-se que a redução seja
interpretada como fruto de pressão política, aumentando a volatilidade do mercado.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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