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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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LUÍS NASSIF

Fome Zero no rumo

O fome Zero nasceu com uma virtude grandiosa, um defeito gigantesco e uma dúvida que poderia desempatar o jogo. A virtude foi o fator mobilização, o chamamento à ação de todos, algo impensável no governo FHC. O defeito foi não ter plano nem modelo de atuação definidos. A interrogação, a capacidade ou não de seus coordenadores de ouvir e acatar sugestões e encontrar o rumo.
Daqui da coluna, foram apresentadas três sugestões conceituais de atuação do movimento, em linha com o moderno pensamento gerencial.
A primeira, de trabalhar como uma organização social, entidade de cunho misto, governo e sociedade civil, com controle e transparência, mas com flexibilidade de atuação.
A segunda, de atuar como agente coordenador especialmente das entidades públicas e privadas com estrutura nacional em torno de objetivos comuns.
A terceira, de se pautar pelo uso intensivo de indicadores de avaliação, peça fundamental para tornar a ação social eficaz e permitir ampliar o trabalho de coordenação de forças.
Nesta semana, o anúncio de lançamento de uma organização social em apoio ao Fome Zero -idealizada pelo empresário Antoninho Marmo Trevisan- encampa os três conceitos. Se operacionalmente vai ser bem-sucedida ou não, o tempo dirá. Conceitualmente, o programa começa a encontrar seu rumo.
Como organização social, a entidade terá flexibilidade para receber doações, especialmente aquelas carimbadas -ou seja, com destinação predefinida pelo doador. No setor público, todas as doações vão para uma vala comum e acabam emperradas na burocracia. O próprio Fome Zero levou quatro meses para poder operar microcomputadores recebidos em doação.
Mais importante que isso: conseguindo a adesão dos grandes empresários, essa organização social facilitará bastante a operação do programa na ponta, além de impedir sua apropriação política.
Por exemplo, empresas de telefonia já estão operando data centers para recebimento de propostas. Caixas de supermercados, ao lado de organizações religiosas, poderão ser mobilizados para programas de educação alimentar e para informar a população sobre como coibir o roubo de merenda escolar. E assim por diante.
Finalmente, o uso intensivo de indicadores -de uso corrente em empresas de auditoria, como a de Trevisan- ajudará a dar a visão de conjunto e ferramentas de controle.
Com essa estrutura plenamente montada, o país poderá, pela primeira vez, exercitar algo que esta coluna defende há anos: programas horizontais de articulação de ativos e pessoas já existentes (empresas, igrejas, organizações da sociedade) em torno de objetivos comuns.
Insisto: é um modelo que ainda precisa passar no teste operacional. Tomara que a tecnologia seja assimilada, amadurecida e utilizada para a segunda grande bandeira de mobilização nacional: a luta pela melhoria da qualidade e da competitividade.

Luz amarela
Acendeu a luz amarela no Ministério da Fazenda. Os dados de desemprego no setor informal assustaram. Juros não caíram ainda em razão do "fogo amigo". Teme-se que a redução seja interpretada como fruto de pressão política, aumentando a volatilidade do mercado.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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