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Petrobras diz que abateu R$ 1,1 bi em tributos
Estatal critica interpretação da Receita, contrária à mudança contábil usada pela empresa para reduzir pagamento de imposto
Para diretor da companhia, avaliação feita pelo fisco obriga empresas a "entrarem num cassino" para contabilizar lucro com variação cambial
PEDRO SOARES
EM SÃO PAULO
Em rota de colisão com a Receita Federal, o diretor financeiro da Petrobras, Almir Barbassa, criticou a interpretação
do órgão sobre a regra que permite alterações contábeis, usada pela estatal para reduzir pagamento bilionário de tributos.
A medida provisória nº 2.158,
de 2001, permite a escolha do
regime de tributação sobre o
lucro obtido com variação cambial sobre ativos no exterior.
Barbassa disse que a interpretação da Receita obriga as companhias a "entrarem num cassino", ao apostarem na variação
do dólar, e desvirtua o objetivo
da MP, que é evitar a incidência
de tributos sobre "ganhos artificiais" gerados pelo câmbio.
O ponto de discórdia é o prazo para fazer a opção pelos regimes de competência ou de caixa. Para a Receita, a escolha
tem de ser feita no início de cada ano e mantida no restante
do exercício. Na visão da Petrobras, o limite é junho do ano seguinte, prazo final para entrega
da DIPJ (Declaração de Informações Econômico-Fiscais da
Pessoa Jurídica).
O regime de competência era
usado pela estatal e prevê o recolhimento dos tributos no período em que é apurado o lucro
provocado pela variação cambial. Diante da alta do dólar no
final do de 2008, a companhia
fez a opção no meio do ano passado pelo de sistema de caixa,
que estabelece o pagamento
apenas quando o caixa da companhia absorver o ganho -que
muitas vezes é meramente contábil por conta do sobe e desce
das cotações.
Barbassa disse que, diferentemente do que foi noticiado, a
estatal não descontou R$ 4,3
bilhões em impostos pagos à
Receita Federal a mais por conta da mudança de regime de tributação. O valor correto, de
acordo com ele, é de R$ 2,1 bilhões, recolhidos com base no
regime de competência sobre o
lucro excedente originário do
impacto da variação cambial.
A estatal tinha, porém, débitos de R$ 1 bilhão com o fisco.
Isso porque recolhe os tributos
com base em estimativas mensais, que são ajustadas depois
na declaração anual. Ou seja, o
saldo líquido das deduções foi
de R$ 1,1 bilhão, diz Barbassa.
Ele defendeu os critérios
adotados pela estatal para lançar mão dos créditos tributários. "Não nos utilizamos de
brechas. Existem interpretações legais diferentes. O que o
governo quis quando editou a
MP foi evitar que empresas pagassem impostos sobre ganhos
que são frutos de flutuações
cambiais. A MP visa não onerar
as empresas sobre um ganho
fictício", disse Barbassa.
Se a opção tivesse de ser feita
obrigatoriamente no começo
do ano, diz, as empresas teriam
de entrar "num jogo" para saber antecipadamente qual será
o comportamento do câmbio e
o impacto nos resultados da
companhia. "Vocês querem
que eu entre num cassino?"
Com a desvalorização do real
no segundo semestre de 2008,
a Petrobras teve lucro extraordinário de R$ 7 bilhões com o
câmbio. Sobre esse valor, pagou
Imposto de Renda e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido pelo regime de competência.
Ao fazer a declaração de ajuste, em janeiro, refez os cálculos
com base no critério de caixa. A
mudança gerou créditos sobre
os tributos pagos a mais, diz a
Petrobras. Esses créditos foram descontados do recolhimento de outro tributo, a Cide.
A questão divide tributaristas. A Folha ouviu quatro advogados, que preferiram o anonimato. Três apoiaram a interpretação da Petrobras. Um deles diz que a opção deve ser feita, de fato, no início do ano como, sustenta a Receita.
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