|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
Duelo de gigantes
Da série "em todo lugar é
assim":
Um dos temas recorrentes do
pessoal do Banco Central é que
em todo país civilizado as decisões do BC são técnicas e seus
diretores, operadores de mercado, único em condição técnica de entender o funcionamento da economia e cumprir
a única função que se espera
de um banco central: perseguir
o controle inflacionário.
Vamos conferir no capítulo
de hoje da série o que diz Joseph Stiglitz, economista com
reputação internacional equivalente à avaliação que nosso
Henrique Meirelles faz de si
próprio, posto que Prêmio Nobel de Economia de 2001 e professor da Universidade Columbia, em artigo publicado
nesta semana no "The Guardian".
Para Stiglitz, "controlar a inflação não é um fim em si mesmo: é apenas um meio de chegar mais rápido ao crescimento estável e com desemprego
mais baixo". Há poucas evidências de que bancos centrais
focados exclusivamente na estabilidade de preços sejam
mais eficientes. Ele menciona
seu colega George Akerlof, com
quem dividiu o Prêmio Nobel
em 2001, que tem alegado que
existe um nível de inflação ótimo sempre maior do que zero.
"Nesse sentido, uma busca implacável por estabilidade de
preços machuca o crescimento
econômico e o bem-estar", diz
Stiglitz.
Stiglitz ousa contradizer
Meirelles, nosso Alan Greenspan, e sustenta que a maior
prova de que a prioridade única dos BCs não pode ser apenas a inflação é a atuação do
Fed (Federal Reserve, o banco
central dos Estados Unidos).
Além de garantir a estabilidade de preços, a autoridade monetária norte-americana visa
promover o crescimento e o
pleno emprego. "Há consenso
nos Estados Unidos contra
uma atuação estreita, como a
que está em vigor no Banco
Central Europeu. Hoje, a economia européia definha porque o BCE está mais preocupado com sua meta de inflação
do que em promover a recuperação econômica", afirma ele.
E -heresia das heresias-
Stiglitz ousa criticar a suposta
visão técnica dos operadores
de mercado. Diz ele que "os
tecnocratas e "players" do mercado financeiro que se beneficiam desse arranjo institucional [com a inflação sendo o foco de atuação dos bancos centrais] têm feito um bom trabalho ao convencer muitos países
de suas virtudes e da necessidade de tratar a política monetária como uma questão
técnica". No entanto, pondera
Stiglitz, como são decisões de
perdas e ganhos, elas só podem
ser tomadas por meio de processos políticos.
Continua Stiglitz, o apóstata: "Muitos na comunidade financeira têm pouco conhecimento sobre o intricado funcionamento do sistema macroeconômico -como já foi
evidenciado pelos frequentes
erros na gestão macroeconômica", diz.
Para países emergentes, Stiglitz sugere que seja posta em
discussão não só a questão da
autonomia dos bancos centrais mas também sua representatividade e delegações.
"Eles [bancos centrais de países em desenvolvimento] precisam balancear as preocupações com eficiência econômica
e com responsabilidade democrática", conclui.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Palocci diz que não vê ameaça de empresários Próximo Texto: Opinião econômica: Agenda interditada e anacrônica Índice
|