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VINICIUS TORRES FREIRE
PIB: bom, medíocre, estável
País cresce bem mais do que
previam os financistas, mas
estabilidade revela como é
difícil sair da mediocridade
O PAÍS DEU MAIS passinhos numa espécie de nova era de
mediocridade, não digamos
dourada, um exagero, nem mesmo
prateada, mas, vá lá, bronzeada, indicam os dados do PIB do início de
2007. Crescer na faixa dos 3,5% a
4,5% não é nada brilhante: é um
lembrete do Brasil "devagar e sempre", bem diferente daquele pintado
pela recente euforia financista e por
gente com paranóia de inflação,
quase a mesma coisa, aliás.
Mas, para uma economia que passou um quarto de século à base de
racionamento de PIB, na faixa dos
2,5% anuais, a melhora é um alívio e
abre uma "janela de oportunidade".
De mais interessante, talvez, os últimos três anos de estabilidade ofereçam um banco de dados para quem
se predisponha ao realismo.
Primeiro, está consideravelmente
desmoralizada a rapaziada financista para quem o PIB potencial (o
quanto o país pode crescer sem inflação) estaria na casa de 2%, 3%.
Segundo, não dá para dizer que o
resultado da indústria, apesar de arrastado ou claudicante, esteja pior
que o dos anos FHC. De meados de
1996 a meados de 2003, o nível geral
de produção da indústria andou de
lado. Havia picos e vales, nos momentos de choques. Desde então, a
indústria cresce pouco, mas a tendência é de alta. Isto é, assim como
na política, em que já foram testados
todos os partidos, com grande decepção, vê-se que também na economia ora somos isso aí mesmo, essa
lerdeza. Falta inovação, negócio novo, e não é só câmbio que atrapalha.
Terceiro, os dados de 2004 para cá
indicam que é preciso dar uma revisada nos modelos que relacionam o
nível de uso da capacidade instalada
da indústria, o nível de investimento
e a evolução dos preços. Sim, a política rígida do Banco Central ajudou a
jogar para baixo as expectativas de
inflação. Mas foi só isso? Não se trata nem de falar do efeito do dólar barato sobre a contenção de preços,
nem da desinflação influenciada pela internacionalização maior da economia e dos produtos baratos de
China e cia. Há muito que não se sabe sobre a produtividade brasileira.
Quarto, apesar das medidas estabilizadoras (déficit público menos
demencial, preços contidos) e da redução na volatilidade da produção, a
economia ainda depende demais do
resto do mundo. O conjuntura global reboca o Brasil. Um dos motivos:
a economia não consegue incorporar setores produtivos novos e significativos capazes de elevar a produtividade média e/ou geral, não mostra "dinamismo interno".
Talvez as coisas melhorem com
um mercado de capitais mais vivo,
juro menor (e imposto menor, o que
não há, assim como infra-estrutura
etc., a ladainha de sempre). Talvez
não, vide a falta de dinamismo da indústria. Que negócio grande e novo
está sendo gestado no país? Álcool e
avião são projetos de 30 anos atrás.
Por fim, mudou para pior a relação
entre PIB e emprego. A economia
cresce mais e o desemprego continua pela casa dos 9%, 10%. Em suma, a economia reage à base de consumo maior, que corre a 5% ao ano.
O povo vive melhor, mais contentinho, ignaro e inexperiente de alternativas. Da elite aos "excluídos", um
quarto de século de desastres, estagnações e decadência do pensamento
crítico criou uma geração com expectativas reduzidas. Medíocres.
vinit@uol.com.br
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