São Paulo, domingo, 14 de julho de 2002

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CRISE REAL

Número de veículos parados nas concessionárias está 30% acima do habitual; revendedores já rejeitam mais carros
Estoque de revendas está acima do normal

DA REPORTAGEM LOCAL

As concessionárias de veículos devem ser um dos elos da cadeia automotiva a sofrer demissões em breve. As vendas de junho em relação a maio caíram 12,11%, contra a retração de 6,5% registrada pelas montadoras.
Cerca de 85 mil automóveis estão parados nos estoques das 4.200 revendas do país, o equivalente a 26 dias de vendas. "Se os negócios estivessem em ritmo normal, o estoque deveria corresponder a 20 dias de vendas", diz Hugo Maia, presidente da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
Caso as concessionárias tivessem aceito neste ano a tradicional política das montadoras de desova de veículos nas revendas, os estoques seriam bem maiores.
"Nos últimos meses, nos recusamos a aceitar um grande excesso de automóveis das montadoras devido à atual crise".
Maia considera inevitável a demissão nas revendas nos próximos meses. "Existem duas condições essenciais para que ocorram vendas de veículos. Confiança do consumidor e condições de compra. Nenhuma delas existe hoje".
O empresário lembra que atualmente só existem fatores que afugentam os consumidores das revendas. O dólar está instável, existe uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) averiguando corrupção na prefeitura de Santo André e certas declarações de candidatos à Presidência da República inquietam o mercado.
Além disso, as taxas de juros para o financiamento de veículos estão em torno de 3% ao mês, quando há oito meses eram de 1,5% em média. "O motivo da alta é o crescimento da inadimplência. Os bancos decidiram aumentar as taxas para compensar os prejuízos provocados pelos consumidores que não pagam".
Diante desse quadro todo, Maia prevê a demissão de parte dos 220 mil trabalhadores das concessionárias nos próximos meses. "Não sei quando a atual situação será revertida. Nem a vitória do Brasil na Copa do Mundo conseguiu atrair os consumidores para as revendas".
Ele não sabe nem se o cenário do setor irá melhorar após as eleições de outubro.

Acordos automotivos
Ricardo Carvalho, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Veículos Automotores), diz estar mais otimista. Segundo ele, os acordos automotivos fechados nos últimos dias entre o Brasil e o México e o Chile permitirão um incremento nas exportações. "Antes a alíquota de exportação de veículos para o México era de 25%. Nos próximos 12 meses cairão para 1,1% e depois para zero".
A Anfavea estima que 700 mil veículos devem ser exportados para o México e Chile nos próximos cinco anos. Segundo Carvalho, começa a haver também um início de reação nas vendas internas. As promoções nas revendas poderão ajudar o setor. (LÁSZLÓ VARGA)


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