UOL


São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

INDÚSTRIA OCIOSA

Mesmo com retomada da economia, injeção de recursos só ocorreria em setores que estão "no gargalo"

Investimento privado só volta em 2005

FÁTIMA FERNANDES
SANDRA BALBI

DA REPORTAGEM LOCAL

A retomada firme de investimentos privados no Brasil deverá ocorrer somente em 2005. Essa é a previsão de economistas e empresários ouvidos pela Folha.
O Brasil deve fechar 2003 com um dos níveis mais baixos de investimento desde 1995. E, em 2004, a expansão ocorreria somente nos poucos setores que já estão no gargalo -isto é, naqueles que operam no limite da capacidade produtiva, como o siderúrgico e o de papel e celulose.
"Como a demanda no mercado interno não está aquecida e existe capacidade ociosa, só os setores com produção no gargalo vão investir", diz Roberto Faldini, diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). "Só se o país crescer 4% a 5% ao ano os investimentos voltarão."
A indústria eletroeletrônica, que opera com 50% da sua capacidade produtiva, por exemplo, vai aguardar indicadores mais sólidos para ampliar a produção. "Os empresários só vão voltar a planejar investimentos com 70% de ocupação das fábricas", afirma Afonso Hennel, presidente da Semp Toshiba.
A indústria têxtil estima um crescimento sem investimentos em 2004. "Temos de ser conservadores, pois dependemos da vontade do consumidor de comprar", diz Paulo Skaf, presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil). Segundo ele, a indústria trabalha com 20%, em média, de ociosidade, o que lhe permite atender ao crescimento da demanda sem novos investimentos.
Os poucos investimentos do setor têxtil foram feitos por companhias que elevaram suas exportações para reequilibrar receitas. A Vicunha, uma das maiores empresas do setor, investiu R$ 60 milhões para aumentar a capacidade de produção de brim e índigo.
"Estamos operando com 100% da capacidade", diz Rubens Barhum, diretor da empresa. Por isso, segundo ele, a Vicunha planeja novos investimentos em expansão para 2004 e 2005.
Mas a Vicunha é uma exceção. A maioria dos empresários ainda não vê motivos para planejar projetos de expansão. A falta de fôlego para investir resulta da instabilidade econômica enfrentada pelo país nos últimos dois anos.
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) projeta para este ano taxa de investimento de 17,6% sobre o PIB (Produto Interno Bruto), a mais baixa desde 1990. Para 2004, considerando um crescimento de 3,5% do PIB, como prevê o governo, a taxa de investimento pode atingir 18,3%, segundo o instituto. "Ainda assim essa taxa é muito baixa para uma economia do tamanho da brasileira", diz Paulo Levy, diretor do Ipea. A taxa de investimento do Brasil é uma das mais baixas do mundo. O ideal para o país, segundo o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), seria acompanhar as taxas da Coréia do Sul (27%) e da Malásia (23%).
A relutância em investir não é exclusiva de empresários nacionais. Presidentes de 47 unidades brasileiras de multinacionais ouvidos pela Câmara Americana de Comércio consideram apenas "razoável" o clima para negócios no país. Eles criticam o nível de tributação e a falta de disponibilidade de financiamento no país.
Há um consenso, porém, de que os investimentos voltarão com a recuperação econômica. E a retomada, segundo economistas, não atingirá todos os setores de forma homogênea. "O setor de bens duráveis tem potencial para voltar a crescer mais porque responde melhor à redução das taxas de juros e ao aumento da oferta de crédito", afirma Basílio Ramalho, analista do Unibanco.
Paulo Saab, presidente da Eletros, associação que reúne a indústria eletroeletrônica, diz que, para o setor, 2003 está perdido. "Mesmo que os juros caiam e o 13º salário irrigue a economia, o setor fechará este ano com queda de 4% nas vendas."


Texto Anterior: Painel S.A
Próximo Texto: Investimento deverá ser o menor desde 95
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.