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INDÚSTRIA OCIOSA
Mesmo com retomada da economia, injeção de recursos só ocorreria em setores que estão "no gargalo"
Investimento privado só volta em 2005
FÁTIMA FERNANDES
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A retomada firme de investimentos privados no Brasil deverá
ocorrer somente em 2005. Essa é a
previsão de economistas e empresários ouvidos pela Folha.
O Brasil deve fechar 2003 com
um dos níveis mais baixos de investimento desde 1995. E, em
2004, a expansão ocorreria somente nos poucos setores que já
estão no gargalo -isto é, naqueles que operam no limite da capacidade produtiva, como o siderúrgico e o de papel e celulose.
"Como a demanda no mercado
interno não está aquecida e existe
capacidade ociosa, só os setores
com produção no gargalo vão investir", diz Roberto Faldini, diretor da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
"Só se o país crescer 4% a 5% ao
ano os investimentos voltarão."
A indústria eletroeletrônica,
que opera com 50% da sua capacidade produtiva, por exemplo,
vai aguardar indicadores mais sólidos para ampliar a produção.
"Os empresários só vão voltar a
planejar investimentos com 70%
de ocupação das fábricas", afirma
Afonso Hennel, presidente da
Semp Toshiba.
A indústria têxtil estima um
crescimento sem investimentos
em 2004. "Temos de ser conservadores, pois dependemos da vontade do consumidor de comprar",
diz Paulo Skaf, presidente da Abit
(Associação Brasileira da Indústria Têxtil). Segundo ele, a indústria trabalha com 20%, em média,
de ociosidade, o que lhe permite
atender ao crescimento da demanda sem novos investimentos.
Os poucos investimentos do setor têxtil foram feitos por companhias que elevaram suas exportações para reequilibrar receitas. A
Vicunha, uma das maiores empresas do setor, investiu R$ 60 milhões para aumentar a capacidade
de produção de brim e índigo.
"Estamos operando com 100%
da capacidade", diz Rubens Barhum, diretor da empresa. Por isso, segundo ele, a Vicunha planeja
novos investimentos em expansão para 2004 e 2005.
Mas a Vicunha é uma exceção.
A maioria dos empresários ainda
não vê motivos para planejar projetos de expansão. A falta de fôlego para investir resulta da instabilidade econômica enfrentada pelo
país nos últimos dois anos.
O Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada) projeta para este ano taxa de investimento
de 17,6% sobre o PIB (Produto Interno Bruto), a mais baixa desde
1990. Para 2004, considerando
um crescimento de 3,5% do PIB,
como prevê o governo, a taxa de
investimento pode atingir 18,3%,
segundo o instituto. "Ainda assim
essa taxa é muito baixa para uma
economia do tamanho da brasileira", diz Paulo Levy, diretor do
Ipea. A taxa de investimento do
Brasil é uma das mais baixas do
mundo. O ideal para o país, segundo o Iedi (Instituto de Estudos
para o Desenvolvimento Industrial), seria acompanhar as taxas
da Coréia do Sul (27%) e da Malásia (23%).
A relutância em investir não é
exclusiva de empresários nacionais. Presidentes de 47 unidades
brasileiras de multinacionais ouvidos pela Câmara Americana de
Comércio consideram apenas
"razoável" o clima para negócios
no país. Eles criticam o nível de
tributação e a falta de disponibilidade de financiamento no país.
Há um consenso, porém, de que
os investimentos voltarão com a
recuperação econômica. E a retomada, segundo economistas, não
atingirá todos os setores de forma
homogênea. "O setor de bens duráveis tem potencial para voltar a
crescer mais porque responde
melhor à redução das taxas de juros e ao aumento da oferta de crédito", afirma Basílio Ramalho,
analista do Unibanco.
Paulo Saab, presidente da Eletros, associação que reúne a indústria eletroeletrônica, diz que,
para o setor, 2003 está perdido.
"Mesmo que os juros caiam e o
13º salário irrigue a economia, o
setor fechará este ano com queda
de 4% nas vendas."
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