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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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INDÚSTRIA OCIOSA

Empresários estão mais desanimados do que em 2001, ano do racionamento de energia, diz pesquisador da FGV

Investimento deverá ser o menor desde 95

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da recuperação de alguns setores industriais, os investimentos da iniciativa privada deverão fechar o ano no nível mais baixo desde 1995.
Levantamento feito com 423 empresas e recém-concluído pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) mostra que o investimento estimado para 2003 deve representar 5,2%, em média, da receita operacional líquida das companhias.
A média anual no período de 1995 a 2002 foi de 7,2%. Em nenhum desses anos a taxa foi inferior a 5,2%. No ano passado, esse percentual já tinha sido baixo (5,67%). Em 2001, chegou a 8,2%. Taxas médias entre 7% e 8%, na avaliação da FGV, mostram o otimismo dos empresários em investir nos seus negócios.
De um grupo de 11 segmentos industriais, seis registram, neste ano, taxas de investimento menores do que as do ano passado. Cinco registram taxas maiores. Na comparação com 2001, com exceção do setor de celulose, papel e papelão, os outros dez setores vão investir menos neste ano.
Em comparação com o ano passado, os setores que têm menos intenção de investir são o de bens de consumo, que registra uma taxa de 2,74%, e o de bens de capital (3,7%). Os mais dispostos a fazê-lo são o de materiais de construção (8,49%) e o de bens intermediários (7,1%), informa a FGV.
"Não imaginávamos que a disposição dos empresários para investir estivesse ainda tão "fraquinha" neste segundo semestre. E isso acontece mesmo depois de o governo mostrar que pretende manter a sua política de redução de juros", afirma Aloisio Campelo Júnior, coordenador de pesquisas empresariais da FGV.
Do grupo de 11 segmentos industriais, as indústrias que registram taxa de investimento menor do que a do ano passado são as metalúrgicas, as mecânicas, as químicas, as têxteis, as alimentícias e as de produtos minerais não-metálicos (cimento e vidro).
Taxas maiores de investimento já foram verificadas nas indústrias de material elétrico e de comunicações, de transportes, de celulose, papel e papelão, de produtos farmacêuticos e veterinários e de vestuário e calçados.
Na indústria de vestuário e calçados, apesar de a taxa neste ano, de 2,37%, ser maior do que a do ano passado, de 1,83%, ela é considerada baixa. Isso também acontece na indústria de material elétrico e de comunicações -os percentuais subiram de 2,83%, em 2002, para 3,04% neste ano.
O mais propenso a investir, como constata a FGV, é o setor de papel, celulose e papelão -especialmente por causa das exportações. A taxa de investimento desse setor sobre a receita bateu em 14,54% neste ano. Em 2002, foi de 13,75%. E, em 2001, de 8,71%.
Campelo Júnior diz que a surpresa do levantamento foi o fato de os empresários estarem mais desanimados do que em 2001, ano em que houve racionamento de energia. "As empresas foram pegas de surpresa naquele ano e tiveram de concluir os investimentos. Mas, em 2002, elas decidiram segurar os novos projetos", afirma o pesquisador.
"Os empresários ainda estão pagando para ver a retomada. Só vão investir quando o horizonte estiver mais claro. E se o FMI [Fundo Monetário Internacional] exigir neste mês mais ajuste do Brasil? Para crescer, o país precisa também de investimento público e estrangeiro", afirma Fernando Sarti, economista da Unicamp.
Tudo indica, diz, que a retomada para valer do país ainda demora. "O que o país vai ver, no máximo, é um aumento de consumo em alguns setores. Assim, os empresários vão investir para quê?"
A indústria de transformação trabalha com utilização média da capacidade instalada de 81% (levantamento de julho). Os investimentos em aumento da capacidade produtiva só viriam depois de as fábricas conseguirem reduzir a ociosidade que enfrentam hoje. "O ambiente está mais favorável, mas não há indicadores sólidos de recuperação. Os empresários entendem que investir ainda é um risco", diz Fábio Silveira, economista da MB Associados.
O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) projeta para este ano a menor taxa de investimento sobre o PIB (Produto Interno Bruto) desde 1990 -17,6%. "Os últimos dois anos foram marcados por um forte período de instabilidade econômica. Essa taxa baixa é o reflexo disso", diz Paulo Levy, diretor do Ipea.
Como boa parte da indústria trabalha com ociosidade, diz, o baixo volume de investimentos não preocupa, já que a economia marcha em ritmo lento. "Agora, se houver recuperação, a falta de investimento pode complicar o país a partir de 2004." Para 2004, o Ipea projeta taxa maior, de 18,3%. Isso supondo que o PIB vá crescer 3,5% em 2004.
(FÁTIMA FERNANDES)

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