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Pobres reclamam de texto da OMC
DO ENVIADO A CANCÚN
Não foi apenas o Brasil que reagiu mal ao texto apresentado ontem como esboço de declaração
final para a reunião ministerial da
OMC (Organização Mundial do
Comércio), que acontece em Cancún, no México.
Mais forte ainda foi a declaração
de Hegel Goutier, porta-voz do
chamado grupo ACP, coligação
de países pobres da África, Caribe
e Pacífico (daí as iniciais).
"Em nome da credibilidade da
OMC, o texto final não pode se
parecer com esse", atacou.
A Folha apurou que a delegação
indiana, parceira do Brasil no G21
(grupo de países emergentes),
reagiu "iradamente" ao texto preliminar.
Apesar de que nenhuma posição oficial tenha sido apresentada
até o fechamento desta edição.
Evidência
Mas a maior evidência de que o
documento se aproxima muito
das posições defendidas pelos
países ricos vem da afirmação do
negociador suíço David Syz, para
quem seu país "pode conviver"
com o esboço tal como foi apresentado ontem.
Ainda por cima, condiciona a
plena aceitação à definição clara
de uma data para iniciar negociações sobre investimentos.
Boa parte dos países em desenvolvimento se recusa a aceitar essa negociação, que é o verdadeiro
pavor das ONGs, que vêem nela a
possibilidade de os países ricos
imporem aos demais a mais absoluta liberdade para os capitais.
Algodão
Para completar o desencanto de
ONGs e países em desenvolvimento, houve o que Michael Bailey (Oxfam) chama de "tapa na
cara": não há menção significativa a respeito dos subsídios dos
países ricos ao algodão.
Quatro países africanos (Benin,
Mali, Chade e Burkina Fasso) haviam proposto eliminá-los, sob o
argumento de que esses subsídios
estão levando a um aumento artificial na produção e também na
colocação nos mercados internacionais, com a consequente queda
dos preços.
O algodão responde por 80%
das receitas de exportação desses
países e o efeito dos subsídios e a
consequente queda de preços foi
simplesmente devastador.
Nem assim os países ricos se comoveram. O algodão continuará
subsidiado, a menos que haja hoje, encerramento da conferência,
mexidas fortes no texto preliminar.
De todo modo, o subchefe da
delegação norte-americana, Peter
Allgeier, já acena com um "pós-Doha" em que os Estados Unidos
serão mais ambiciosos na questão
agrícola, abandonando a aliança
de ocasião com os europeus, que
moderou o apetite de Washington pela abertura agrícola.
(CR)
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