UOL


São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pobres reclamam de texto da OMC

DO ENVIADO A CANCÚN

Não foi apenas o Brasil que reagiu mal ao texto apresentado ontem como esboço de declaração final para a reunião ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), que acontece em Cancún, no México.
Mais forte ainda foi a declaração de Hegel Goutier, porta-voz do chamado grupo ACP, coligação de países pobres da África, Caribe e Pacífico (daí as iniciais).
"Em nome da credibilidade da OMC, o texto final não pode se parecer com esse", atacou.
A Folha apurou que a delegação indiana, parceira do Brasil no G21 (grupo de países emergentes), reagiu "iradamente" ao texto preliminar.
Apesar de que nenhuma posição oficial tenha sido apresentada até o fechamento desta edição.

Evidência
Mas a maior evidência de que o documento se aproxima muito das posições defendidas pelos países ricos vem da afirmação do negociador suíço David Syz, para quem seu país "pode conviver" com o esboço tal como foi apresentado ontem.
Ainda por cima, condiciona a plena aceitação à definição clara de uma data para iniciar negociações sobre investimentos.
Boa parte dos países em desenvolvimento se recusa a aceitar essa negociação, que é o verdadeiro pavor das ONGs, que vêem nela a possibilidade de os países ricos imporem aos demais a mais absoluta liberdade para os capitais.

Algodão
Para completar o desencanto de ONGs e países em desenvolvimento, houve o que Michael Bailey (Oxfam) chama de "tapa na cara": não há menção significativa a respeito dos subsídios dos países ricos ao algodão.
Quatro países africanos (Benin, Mali, Chade e Burkina Fasso) haviam proposto eliminá-los, sob o argumento de que esses subsídios estão levando a um aumento artificial na produção e também na colocação nos mercados internacionais, com a consequente queda dos preços.
O algodão responde por 80% das receitas de exportação desses países e o efeito dos subsídios e a consequente queda de preços foi simplesmente devastador.
Nem assim os países ricos se comoveram. O algodão continuará subsidiado, a menos que haja hoje, encerramento da conferência, mexidas fortes no texto preliminar.
De todo modo, o subchefe da delegação norte-americana, Peter Allgeier, já acena com um "pós-Doha" em que os Estados Unidos serão mais ambiciosos na questão agrícola, abandonando a aliança de ocasião com os europeus, que moderou o apetite de Washington pela abertura agrícola. (CR)


Texto Anterior: Comércio mundial: Declaração agrícola segue posição dos EUA e da Europa
Próximo Texto: Panorâmica - Vizinho em crise: Argentina reitera que reajuste de tarifas não estará no acordo com o FMI
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.