São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

O grande segredo alckmista


Faltam 15 dias para acabar a campanha e tucanos não mostraram nem uma ficção programática à la Lula-PT

UM PROGRAMA de governo jamais é só aquele folheto em tecnocratês aguado que os candidatos costumam distribuir, embora folhetos melhores contenham algumas respostas às questões centrais da administração.
O programa real aparece quando o candidato nomeia claramente uns três líderes político-intelectuais de sua campanha, quando não desconversa sobre a meia dúzia de problemas de fato críticos e quando se percebe a conexão da candidatura com forças sociais. Collor teve programa.
FHC também. Lula teve -era em parte mentira e teve de refazê-lo em meio ao caos de 2002, mas teve. Se "Geraldo" tem um programa, ele não ousa dizer seu nome.
Rumoreja que o nome do programa alckmista seja Yoshiaki Nakano, grande economista e administrador público. Mas, como nem "Geraldo" o nomeou, resta o choque de indigestão provocado pela gororoba do teatrinho eleitoral da TV e dos folheto alckmistas, ainda incompletos.
Quanto a forças sociais, mesmo a adesão inicial de alguns empresários decorria do odor de santidade conservadora limpinha de Alckmin, pois sua candidatura não poderia ser reação a um programa esquerdista do lulismo, um moinho de vento. A adesão era, em geral, alergia da comunhão paulista a arrivistas com cara de pobre que subiram ao governo.
Mas Alckmin é a cara da alta classe média paulista, fração mínima do eleitorado. Para essas pessoas, o governo em Brasília é um estorvo cobrador de impostos, do qual pouco dependem. "Geraldo" é a caricatura dessa classe e resume seu programa verbal a gestão e menos imposto.
O país está perto da marca do pênalti fiscal. Como baixar imposto? Com choque de gestão. Se Alckmin baixar os impostos em um ponto percentual do PIB, terá de fazer um choque de gestão de R$ 20 bilhões (mais de dois Bolsa-Família), não aumentar o gasto em mais nada e não fazer reduções adicionais da dívida.
Mas nos folhetinhos constam as benevolências gasosas de praxe (mais gasto em educação, saúde etc.).
Dá para fazer algo? Dá. Mas quem vai perder? Alckmin vai mexer na Previdência? No Bolsa-Rural? Vai desvincular gastos obrigatórios? Fazer mais superávit? Menos juros? Se tirar imposto de empresa, vai cobrar mais na renda? Na riqueza?
Até o tecnocratês dos folhetos é fraco. O pior problema da educação é a escola ruim dos meninos pobres, quase todos. Para melhorar, precisariam de mais tempo na escola, mais livro, mais professor e não morar em muquifos. Para tanto, é preciso prioridade claríssima, mas do colégio à universidade tudo vai melhorar. Como? E currículo? Ninguém trata disso. Escola é o que se ensina. Vai mexer no enciclopédico currículo nacional, que diz ensinar números complexos, mas forma colegiais que não sabem regra de três?
Transporte? O programa do candidato dos empreendedores não cita a expressão privatização de estradas.
Levar ciência a empresas? Sem programa. A política de comércio vai continuar no neoprotecionismo?
Sem programa. Banco Central e bancos vão ficar na mesma, com a decrépita lei de 40 anos, hoje norma do vale-tudo? Sem programa. Vai mexer na lei do trabalho?
Dizem que o programa sai semana que vem: será uma página virada.

vinit@uol.com.br

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