São Paulo, terça, 14 de outubro de 1997.




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COLARINHO BRANCO 4
Instituição carioca nunca recuperou prestígio perdido com a revelação do escândalo em junho de 89
Caso Naji Nahas derrubou Bolsa do Rio

da Reportagem Local

"A genialidade é ser capaz de prever o que vai acontecer no futuro", gostava de dizer em entrevistas o investidor libanês Naji Nahas.
Dono de 27 empresas, apaixonado por cavalos, Nahas entrou para a história dos golpes financeiros do país em 9 de junho de 89.
Naquele dia, não houve um só gênio nas Bolsas do Rio e de São Paulo capaz de prever os resultados de suas operações no mercado.
A Bolsa de São Paulo despencou 5,6% e a do Rio caiu outros 4,5% depois que estouraram na praça cheques sem fundos de Nahas no valor de 39 milhões de cruzados novos (cerca de R$ 51,45 milhões).
Os cheques sem fundo começaram a aparecer depois que bancos e corretoras se recusaram a cobrir operações do investidor que ficaram conhecidas como "D + zero", usadas para manipular preços de ações (ver texto na pág. 2-8).
Três dias depois, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que regula e fiscaliza o mercado, determinou um recesso de 24 horas nas Bolsas de Valores. No mesmo dia, Nahas e os principais envolvidos foram impedidos pela Justiça de deixar o país.
O golpe no mercado foi tão forte que a Bolsa do Rio, para onde Nahas foi obrigado a se transferir depois de atritos com a diretoria da Bolsa de São Paulo, nunca mais se recuperou. Daí para frente ela foi perdendo importância no mercado e hoje é uma sombra de sua similar paulista, sobrevivendo praticamente dos leilões de privatização, que o governo ainda realiza lá.
No escândalo que iniciou o declínio da Bolsa do Rio, Nahas parece ter ganhado muito. Relatório da Bolsa de São Paulo, entregue no dia 6 de julho de 89 à CVM, estima que ele tenha lucrado 28 milhões de cruzados novos (R$ 36,94 milhões) no dia 9 de junho, quando estourou a crise.
Em 6 e 12 de julho, a Polícia Federal indiciou Nahas por crime de "colarinho branco" e estelionato.
Pouco depois, o relatório final da CVM o acusou de usar "laranjas" para manipular preços de ações. Outro investidor apontado como participante do esquema foi Elmo de Araújo Camões Filho, da corretora Capitânea e filho do então presidente do Banco Central, Elmo Camões. A CVM multou Nahas em US$ 10 milhões.
Daí para frente, os processos contra Nahas e os outros envolvidos vêm se arrastando na Justiça. Na espera pelos julgamentos, o ex-investidor continuou levando uma vida confortável: em 96, gastou US$ 1 milhão no casamento da filha Nathalie. Entre os convidados figurava o ator Omar Sharif.



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