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COLARINHO BRANCO 4
Instituição carioca nunca recuperou prestígio perdido com a revelação do escândalo em junho de 89
Caso Naji Nahas derrubou Bolsa do Rio
da Reportagem Local
"A genialidade é ser capaz de
prever o que vai acontecer no futuro", gostava de dizer em entrevistas o investidor libanês Naji Nahas.
Dono de 27 empresas, apaixonado por cavalos, Nahas entrou para
a história dos golpes financeiros
do país em 9 de junho de 89.
Naquele dia, não houve um só
gênio nas Bolsas do Rio e de São
Paulo capaz de prever os resultados de suas operações no mercado.
A Bolsa de São Paulo despencou
5,6% e a do Rio caiu outros 4,5%
depois que estouraram na praça
cheques sem fundos de Nahas no
valor de 39 milhões de cruzados
novos (cerca de R$ 51,45 milhões).
Os cheques sem fundo começaram a aparecer depois que bancos
e corretoras se recusaram a cobrir
operações do investidor que ficaram conhecidas como "D + zero",
usadas para manipular preços de
ações (ver texto na pág. 2-8).
Três dias depois, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que
regula e fiscaliza o mercado, determinou um recesso de 24 horas nas
Bolsas de Valores. No mesmo dia,
Nahas e os principais envolvidos
foram impedidos pela Justiça de
deixar o país.
O golpe no mercado foi tão forte
que a Bolsa do Rio, para onde Nahas foi obrigado a se transferir depois de atritos com a diretoria da
Bolsa de São Paulo, nunca mais se
recuperou. Daí para frente ela foi
perdendo importância no mercado e hoje é uma sombra de sua similar paulista, sobrevivendo praticamente dos leilões de privatização, que o governo ainda realiza lá.
No escândalo que iniciou o declínio da Bolsa do Rio, Nahas parece
ter ganhado muito. Relatório da
Bolsa de São Paulo, entregue no
dia 6 de julho de 89 à CVM, estima
que ele tenha lucrado 28 milhões
de cruzados novos (R$ 36,94 milhões) no dia 9 de junho, quando
estourou a crise.
Em 6 e 12 de julho, a Polícia Federal indiciou Nahas por crime de
"colarinho branco" e estelionato.
Pouco depois, o relatório final da
CVM o acusou de usar "laranjas"
para manipular preços de ações.
Outro investidor apontado como
participante do esquema foi Elmo
de Araújo Camões Filho, da corretora Capitânea e filho do então
presidente do Banco Central, Elmo Camões. A CVM multou Nahas em US$ 10 milhões.
Daí para frente, os processos
contra Nahas e os outros envolvidos vêm se arrastando na Justiça.
Na espera pelos julgamentos, o
ex-investidor continuou levando
uma vida confortável: em 96, gastou US$ 1 milhão no casamento da
filha Nathalie. Entre os convidados
figurava o ator Omar Sharif.
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