São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2004

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LUÍS NASSIF

O bezerro de ouro e o risco-país

Não existe maior jogada de marketing, hoje em dia, do que os índices de confiança dos investidores e quetais, desenvolvido por consultorias internacionais, como esse Índice de Confiança nos Investimentos Externos, da AT Kearney.
Na verdade, a culpa não é das consultorias, que estão aí para vender seu peixe. É da maneira como esses dados são trabalhados, como se fossem um bezerro de ouro do Velho Testamento, baseados em verdades imutáveis, em metodologia científica. Solta-se um dado, e toca o mundo inteiro correr atrás de "explicações" nos chamados fundamentos da economia para mudanças no ranking.
No ano passado, o Brasil ocupava a 9ª colocação no ranking da AT Kearney. Neste ano, caiu para a 17ª. O que mudou nesse período? A rigor, nada.
Os mercadistas vão alegar que é a "insegurança jurisdicional" e tomar, como exemplo, a morte do herói Apoena Meirelles. Os não-mercadistas poderiam sustentar que é a falta de perspectiva de crescimento da economia e esse acúmulo de impostos altos, juros altos e infra-estrutura combalida.
Qualquer explicação cabe, mesmo porque as pesquisas se limitam a captar o "sentimento" do executivo em determinado momento. Esse "sentimento" é um mero referencial, importante por ser referencial, mas vago. Já se sabia havia tempos, mesmo antes da pesquisa, que o Brasil praticamente desapareceu das discussões de investimento das multinacionais. Com poucas exceções, os presidentes de multinacionais no país estão perdidos, sem condições de competir com outras filiais na atração de investimentos.
Há duas maneiras de não ver a pesquisa. A primeira é buscar explicação nos fundamentos para essa volatilidade maluca, que faz o país saltar do céu para o inferno em um ano. Volatilidade dessa ordem, em relação a países, representa apenas falta de parâmetros e de informações, sinal de que, com toda a globalização, ainda não existe uma coordenação eficiente das expectativas dos agentes internacionais. É por isso que esse pessoal, assim como os emergentes, fica refém pavloviano das agências de risco.
É fácil conferir, nessa pesquisa, o paradoxo da atração de investimentos. Suponha um país que atraia muitos investimentos em um determinado período e crie uma capacidade ociosa. Para efeito de desenvolvimento sustentado, esse país estará no melhor dos mundos. Pela pesquisa da AT Kearney, estaria na lanterninha.
A segunda questão é que essas pesquisas devem servir apenas como mais um indicador da disposição dos investidores, e não para pressionar por ações de curto prazo.
Os investimentos voltarão ao país quando houver um ambiente econômico adequado para o crescimento. Esse processo passa por responsabilidade fiscal, responsabilidade monetária (testando o limite de queda dos juros), responsabilidade contratual, mas também por investimentos em infra-estrutura, educação, saúde básica, políticas industriais com prioridades claramente definidas etc.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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