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LUÍS NASSIF
O bezerro de ouro
e o risco-país
Não existe maior jogada
de marketing, hoje em
dia, do que os índices de confiança dos investidores e quetais, desenvolvido por consultorias internacionais, como esse Índice de Confiança nos Investimentos Externos, da AT
Kearney.
Na verdade, a culpa não é
das consultorias, que estão aí
para vender seu peixe. É da
maneira como esses dados são
trabalhados, como se fossem
um bezerro de ouro do Velho
Testamento, baseados em verdades imutáveis, em metodologia científica. Solta-se um
dado, e toca o mundo inteiro
correr atrás de "explicações"
nos chamados fundamentos
da economia para mudanças
no ranking.
No ano passado, o Brasil
ocupava a 9ª colocação no
ranking da AT Kearney. Neste
ano, caiu para a 17ª. O que
mudou nesse período? A rigor,
nada.
Os mercadistas vão alegar
que é a "insegurança jurisdicional" e tomar, como exemplo, a morte do herói Apoena
Meirelles. Os não-mercadistas
poderiam sustentar que é a falta de perspectiva de crescimento da economia e esse acúmulo
de impostos altos, juros altos e
infra-estrutura combalida.
Qualquer explicação cabe,
mesmo porque as pesquisas se
limitam a captar o "sentimento" do executivo em determinado momento. Esse "sentimento" é um mero referencial,
importante por ser referencial,
mas vago. Já se sabia havia
tempos, mesmo antes da pesquisa, que o Brasil praticamente desapareceu das discussões de investimento das multinacionais. Com poucas exceções, os presidentes de multinacionais no país estão perdidos, sem condições de competir
com outras filiais na atração
de investimentos.
Há duas maneiras de não
ver a pesquisa. A primeira é
buscar explicação nos fundamentos para essa volatilidade
maluca, que faz o país saltar
do céu para o inferno em um
ano. Volatilidade dessa ordem, em relação a países, representa apenas falta de parâmetros e de informações, sinal
de que, com toda a globalização, ainda não existe uma
coordenação eficiente das expectativas dos agentes internacionais. É por isso que esse pessoal, assim como os emergentes, fica refém pavloviano das
agências de risco.
É fácil conferir, nessa pesquisa, o paradoxo da atração de
investimentos. Suponha um
país que atraia muitos investimentos em um determinado
período e crie uma capacidade
ociosa. Para efeito de desenvolvimento sustentado, esse
país estará no melhor dos
mundos. Pela pesquisa da AT
Kearney, estaria na lanterninha.
A segunda questão é que essas pesquisas devem servir
apenas como mais um indicador da disposição dos investidores, e não para pressionar
por ações de curto prazo.
Os investimentos voltarão ao
país quando houver um ambiente econômico adequado
para o crescimento. Esse processo passa por responsabilidade fiscal, responsabilidade
monetária (testando o limite
de queda dos juros), responsabilidade contratual, mas também por investimentos em infra-estrutura, educação, saúde
básica, políticas industriais
com prioridades claramente
definidas etc.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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