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São Paulo, domingo, 14 de dezembro de 2003

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EUFORIA GLOBAL

Volume de empréstimos e de investimentos voltam aos níveis de 94; fundos de emergentes recebem US$ 10 bi

Liquidez mundial atinge níveis históricos

CÍNTIA CARDOSO
DE NOVA YORK

Depois de sucessivos abalos nos últimos três anos, os fluxos de capital privado e a oferta de crédito por bancos centrais de países industrializados voltaram a níveis históricos de alta.
Relatório recém divulgado pela consultoria britânica CrossBorder Capital mostra que, em setembro deste ano, o nível de liquidez mundial (medido em uma escala percentual de 0 a 100) atingiu 71,3%. Ao longo de 2001, o índice não ultrapassava 30%.
Esse patamar se aproxima dos valores recordes registrados em 1994, quando o mundo vivia uma era de prosperidade econômica, no auge da globalização.
Segundo Angela Cozzini, economista da consultoria, o cálculo é feito com base no fluxo de capitais e na oferta de dinheiro pelos principais bancos centrais e privados do mundo.
Países emergentes beneficiam-se do novo ciclo de fartura. Segundo dados da consultoria EmergingPortfolio.com, pelo menos US$ 10 bilhões em recursos novos foram injetados neste ano em fundos de ações dedicados a países emergentes. Desde janeiro, a Bovespa teve alta de 86%. O risco Brasil caiu 65%.

Ação do Fed
Cozzini lembra que os EUA deram início ao atual ciclo de liquidez no ano passado. "O ano de 2002 foi fraco em termos de liquidez, mas, a partir do segundo semestre, tivemos recuperação rápida sustentada por políticas monetárias [especialmente cortes na taxa básica de juros] do Fed [banco central dos EUA]."
Desde o estouro da "bolha" de valorização das ações de companhias de tecnologia, no início da década, os níveis de liquidez internacional vinham sendo afetados negativamente por fatores como os atentados do 11 de Setembro, as fraudes contábeis de corporações americanas e a guerra dos EUA contra o Iraque.
Havia ocorrido uma fuga dos investimentos de risco mais elevado, como os títulos de países emergentes.
"Em 2000, chegamos a US$ 1,4 trilhão em investimentos diretos. Em 2002, com o cenário de aversão ao risco, o fluxo encolheu para US$ 650 bilhões", disse Antonio Carlos de Lacerda, da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica).
Poucos analistas dizem ver um final próximo para o atual ciclo de liquidez, embora a CrossBorder Capital tenha identificado um leve declínio nos últimos três meses. Em outubro, o índice registrado foi 70,8%.
"Acreditamos que há uma tendência de queda moderada nos próximos meses", diz Cozzini.
Para Michael Carey, vice-presidente do Crédit Lyonnais em Nova York, esses sinais de recuo na liquidez são marginais. "Não é incorreto falar que há alguma queda, mas isso é uma história para ser contada no final de 2004 ou no início de 2005, quando o Fed, efetivamente, vier a aumentar suas taxas de juros", disse o analista.
"O Fed conduziu a expansão da liquidez em 2002 e será o responsável pela desaceleração dos níveis de liquidez em 2004. O Banco Central Europeu e o BC do Japão devem manter o estímulo à liquidez, pois as taxas de crescimento dessas economias ainda são modestas", prevê a CrossBorder.
Na avaliação do economista Alexandre Póvoa, do banco Modal, esse recuo poderia ser reflexo da elevação dos juros do banco central inglês.
Em novembro deste ano, o Banco da Inglaterra (BC do Reino Unido) aumentou a taxa básica de juros de 3,5% para 3,75%.
"Esse fato tem algum peso, mas acredito que ainda não há sinais concretos que apontem para uma queda da liquidez num futuro próximo. Basta lembrar que o Fed não sinalizou a intenção de aumentar a sua taxa básica de juros tão cedo", avaliou Póvoa.
De acordo com Lacerda, a liquidez vai se manter, "a não ser que haja um baque muito forte, como novos atentados terroristas ou uma desconfiança dos investidores a respeito da sustentabilidade dos gigantescos déficits gêmeos [em conta corrente e orçamentário] dos EUA."


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