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LUÍS NASSIF
A TV digital americana
São três os padrões de TV
digital analisados pelo governo brasileiro: o europeu, o japonês e o norte-americano. Correndo por fora, há um padrão
desenvolvido em cima do sistema japonês por um consórcio de
instituições de pesquisa brasileiras.
Já abordei o europeu e o brasileiro. Vamos ao ATSC, o padrão
norte-americano. Na verdade, o
dono da patente é a LG, empresa coreana que adquiriu a Zenith. Os defensores do padrão
apresentam como sua maior
qualidade a capacidade de
transmissão, de 19,4 megabits
por segundo. O padrão europeu
seria bem menos, e o japonês,
um pouco menos.
Tem uma fragilidade, que é a
falta de mobilidade, porque não
era a opção de negócios da TV
americana. Como há esse requisito para o Brasil, os norte-americanos se dispõem a desenvolver o chip da mobilidade até julho de 2006.
O ponto central que diferencia
os sistemas é a modulação do sinal. Os demais pontos são comuns a todos os sistemas -como o padrão de imagem MPEG.
Os norte-americanos se dispõem
a negociar sobre os royalties da
modulação -que são de US$ 2
por aparelho.
Como é impossível a redução
dos royalties para um país especifico, de acordo com as regras
da OMC (Organização Mundial
do Comércio), os norte-americanos se dispõem a transferir
metade dos royalties para um
fundo de desenvolvimento da
TV digital no Brasil.
Acenam também com o ganho de escala, pelo fato de o
aparelho ser o padrão dos Estados Unidos, mercado de 34 milhões de aparelhos por ano. Pelos seus cálculos, o Brasil poderá
fabricar 5 milhões de aparelhos
por ano. Os mercados para esses
receptores, além do Brasil e dos
Estados Unidos, seriam o Canadá, o México e a Coréia do Sul.
Segundo os técnicos, o sistema
ATSC permite alterações na
transmissão sem ter de jogar fora os aparelhos em uso. Mas isso
para os aparelhos digitais. Por
enquanto, todo transmissor
analógico fabricado nos Estados
Unidos tem obrigação de ter um
sintonizador digital.
Quando acabar o prazo para
os analógicos, só ficarão os
transmissores digitais. O Brasil
tem uma larga herança de analógico e um baixo poder de renda. No caso americano, o custo
do adaptador digital sairia por
US$ 50, mas dependendo do volume.
Em relação ao mercado externo, dos 34 milhões de aparelhos
comprados anualmente, 30 milhões são importados da Coréia,
México e Japão. Hoje, o grande
beneficiário é o México. O Brasil
poderia se beneficiar.
O consórcio oferece também
US$ 150 milhões de financiamento da Opic (Overseas Private Investment Corporation)
-instituição ligada ao governo
norte-americano- para desenvolvimento de pesquisas de software no Brasil.
De qualquer modo, é importante salientar os seguintes aspectos:
1) Os aspectos propriamente
tecnológicos não são o mais relevante. Nenhum é fundamentalmente melhor do que outro.
2) Abrir mercado para exportações brasileiras é relevante.
3) Permitir que a tecnologia
brasileira possa ser desenvolvida e agregada a um dos padrões
existentes é importante.
4) Na definição do padrão estará em jogo a possibilidade de
se alargar ou não o espectro de
distribuição de conteúdo para
TV.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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