São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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LUÍS NASSIF

A TV digital americana

São três os padrões de TV digital analisados pelo governo brasileiro: o europeu, o japonês e o norte-americano. Correndo por fora, há um padrão desenvolvido em cima do sistema japonês por um consórcio de instituições de pesquisa brasileiras.
Já abordei o europeu e o brasileiro. Vamos ao ATSC, o padrão norte-americano. Na verdade, o dono da patente é a LG, empresa coreana que adquiriu a Zenith. Os defensores do padrão apresentam como sua maior qualidade a capacidade de transmissão, de 19,4 megabits por segundo. O padrão europeu seria bem menos, e o japonês, um pouco menos.
Tem uma fragilidade, que é a falta de mobilidade, porque não era a opção de negócios da TV americana. Como há esse requisito para o Brasil, os norte-americanos se dispõem a desenvolver o chip da mobilidade até julho de 2006.
O ponto central que diferencia os sistemas é a modulação do sinal. Os demais pontos são comuns a todos os sistemas -como o padrão de imagem MPEG. Os norte-americanos se dispõem a negociar sobre os royalties da modulação -que são de US$ 2 por aparelho.
Como é impossível a redução dos royalties para um país especifico, de acordo com as regras da OMC (Organização Mundial do Comércio), os norte-americanos se dispõem a transferir metade dos royalties para um fundo de desenvolvimento da TV digital no Brasil.
Acenam também com o ganho de escala, pelo fato de o aparelho ser o padrão dos Estados Unidos, mercado de 34 milhões de aparelhos por ano. Pelos seus cálculos, o Brasil poderá fabricar 5 milhões de aparelhos por ano. Os mercados para esses receptores, além do Brasil e dos Estados Unidos, seriam o Canadá, o México e a Coréia do Sul.
Segundo os técnicos, o sistema ATSC permite alterações na transmissão sem ter de jogar fora os aparelhos em uso. Mas isso para os aparelhos digitais. Por enquanto, todo transmissor analógico fabricado nos Estados Unidos tem obrigação de ter um sintonizador digital.
Quando acabar o prazo para os analógicos, só ficarão os transmissores digitais. O Brasil tem uma larga herança de analógico e um baixo poder de renda. No caso americano, o custo do adaptador digital sairia por US$ 50, mas dependendo do volume.
Em relação ao mercado externo, dos 34 milhões de aparelhos comprados anualmente, 30 milhões são importados da Coréia, México e Japão. Hoje, o grande beneficiário é o México. O Brasil poderia se beneficiar.
O consórcio oferece também US$ 150 milhões de financiamento da Opic (Overseas Private Investment Corporation) -instituição ligada ao governo norte-americano- para desenvolvimento de pesquisas de software no Brasil.
De qualquer modo, é importante salientar os seguintes aspectos:
1) Os aspectos propriamente tecnológicos não são o mais relevante. Nenhum é fundamentalmente melhor do que outro.
2) Abrir mercado para exportações brasileiras é relevante.
3) Permitir que a tecnologia brasileira possa ser desenvolvida e agregada a um dos padrões existentes é importante.
4) Na definição do padrão estará em jogo a possibilidade de se alargar ou não o espectro de distribuição de conteúdo para TV.


E-mail - Luisnassif@uol.com.br

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