São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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FORA DO FUNDO

Anúncio do país de antecipar pagamento não causa surpresa

FMI aprova decisão e elogia política econômica de Lula

IURI DANTAS
DE WASHINGTON

O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional), Rodrigo Rato, aprovou ontem a decisão do Brasil de quitar sua dívida, elogiou o fortalecimento da economia do país e deixou abertas as portas da instituição para novas parcerias, em especial na área de investimentos públicos. Segundo funcionários do Fundo ouvidos pela Folha, o anúncio brasileiro já era esperado e não causou surpresa.
"Essa decisão reflete o fortalecimento da posição externa do Brasil, em especial os recorrentes superávits comerciais e de conta corrente e as fortes entradas de capital, que aumentaram muito as reservas e reduziram a dívida externa", analisou Rato em nota divulgada pelo FMI.
A relação do Fundo com a equipe econômica de Luiz Inácio Lula da Silva sempre caminhou bem, com elogios por parte do FMI e decisões ortodoxas de Brasília. Foi assim, por exemplo, em julho, quando o Ministério da Fazenda anunciou que pagaria US$ 3,42 bilhões em SRF (Supplement Reserve Facility, linha de crédito emergencial), que devia ao FMI. Ontem, Rato voltou a tecer boas palavras sobre a condução econômica do país.
"Mais fundamentalmente, as excelentes credenciais do gerenciamento da política pelas autoridades brasileiras forneceram a base para a consolidação da confiança do mercado, a melhora sustentável da performance econômica e o aperfeiçoamento do perfil das dívidas doméstica e externa", anotou o diretor-gerente.
Para o FMI, segundo apurou a Folha, importa muito que o Brasil tenha decidido quitar o acordo de stand-by que mantinha com a instituição desde 2002, quando as previsões de instabilidade política sobre uma eventual vitória do PT amedrontaram os mercados e o governo FHC resolveu fechar um novo acordo com o Fundo. Importa porque o Fundo recebeu o dinheiro emprestado de volta.
Embora não seja divulgado, o que causou uma pequena preocupação ao FMI foi a decisão do governo Lula de anunciar que não mais firmaria acordos com a instituição, enquanto corria a enorme dívida adquirida três anos antes. Em particular quando o governo enfrenta a tormenta política causada pelo caso "mensalão".
Na prática, o FMI sabe que sai mais barato financeiramente e menos desagradável politicamente ao Brasil buscar financiamento direto no mercado. Assim, evita-se pelo menos o desconforto de receber as missões do FMI ao país, e por outro lado o Banco Central pode atuar sem alarde.


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