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COMÉRCIO GLOBAL
Chanceler brasileiro dirá que países desenvolvidos tentaram vender a idéia de que fariam poucas concessões
Para Amorim, ricos querem "rodada barata"
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG
O ministro Celso Amorim dirá
hoje, em seu discurso oficial para
a 6ª Conferência Ministerial da
OMC, que os países ricos "tentaram vender ao resto do mundo
uma rodada barata", no sentido
de que as concessões que fariam
seriam poucas.
Acrescentou que "os países ricos não podem esperar receber
pagamento pelo que deveriam ter
feito muito tempo atrás". É uma
alusão ao fato de que Europa e Estados Unidos exigem concessões
do mundo em desenvolvimento
-Brasil principalmente- em
bens industriais e serviços, para
abrirem seus mercados agrícolas.
Em tom inusualmente duro para um texto formal, Amorim ainda acrescentou: "Depois de tantos
anos -deveria dizer décadas ou
séculos?-, resquícios de feudalismo permaneceram, ao lado de
outras formas de privilégios inaceitáveis", sempre referindo-se ao
protecionismo agrícola dos ricos.
Fechou com: "Os países pobres
não podem esperar outros 20
anos para ver uma verdadeira reforma no comércio agrícola. O
momento de agir é agora".
A alusão à "rodada barata" pode ser tomada como resposta a
dois outros grandes atores da Ministerial de Hong Kong: o comissário europeu para o Comércio,
Peter Mandelson, e o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy.
Ambos, embora em momentos
diferentes, disseram que o Brasil
não poderia esperar "uma rodada
grátis". Ou seja, se quisesse ganhar em agricultura, sua prioridade absoluta, teria de ceder em
bens industriais e em serviços,
prioridades dos EUA e da UE.
A Ministerial começou, na prática, na noite de ontem, em reunião do "grupo consultivo" de 26
países, que acabou na madrugada
de hoje em Hong Kong (meio da
tarde de ontem no Brasil).
Destinou-se, segundo a expressão ouvida por Amorim e depois
reproduzida aos jornalistas, a "esquentar os motores" para as discussões a partir de hoje.
Por isso mesmo, ficou muito
mais em questões de procedimento. Amorim aproveitou para
cobrar uma espécie de pauta mínima de problemas a resolver e
que devem ser abordados de imediato. "Não vamos fingir que não
sabemos que há problemas, porque quando resolvermos discuti-los pode ser tarde."
Um dos problemas que Amorim gostaria de ver enfrentado logo é o do chamado pacote do desenvolvimento, ou seja, um programa de benefícios aos países
mais pobres. O chanceler sabe
que os EUA têm limitações legislativas para aprovar o esquema
"duty free/cota free", ou seja, a
abertura dos mercados para os
países pobres sem cobrar impostos de importação ou impor cotas.
"Esse pode ser um problema
grave", disse. Afinal, o programa é
a única resposta até agora concreta que a Ministerial pode dar às
reivindicações dos países pobres
de que não estão ganhando nada
com a liberalização comercial.
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