São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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COMÉRCIO GLOBAL

Chanceler brasileiro dirá que países desenvolvidos tentaram vender a idéia de que fariam poucas concessões

Para Amorim, ricos querem "rodada barata"

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

O ministro Celso Amorim dirá hoje, em seu discurso oficial para a 6ª Conferência Ministerial da OMC, que os países ricos "tentaram vender ao resto do mundo uma rodada barata", no sentido de que as concessões que fariam seriam poucas.
Acrescentou que "os países ricos não podem esperar receber pagamento pelo que deveriam ter feito muito tempo atrás". É uma alusão ao fato de que Europa e Estados Unidos exigem concessões do mundo em desenvolvimento -Brasil principalmente- em bens industriais e serviços, para abrirem seus mercados agrícolas.
Em tom inusualmente duro para um texto formal, Amorim ainda acrescentou: "Depois de tantos anos -deveria dizer décadas ou séculos?-, resquícios de feudalismo permaneceram, ao lado de outras formas de privilégios inaceitáveis", sempre referindo-se ao protecionismo agrícola dos ricos.
Fechou com: "Os países pobres não podem esperar outros 20 anos para ver uma verdadeira reforma no comércio agrícola. O momento de agir é agora".
A alusão à "rodada barata" pode ser tomada como resposta a dois outros grandes atores da Ministerial de Hong Kong: o comissário europeu para o Comércio, Peter Mandelson, e o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy.
Ambos, embora em momentos diferentes, disseram que o Brasil não poderia esperar "uma rodada grátis". Ou seja, se quisesse ganhar em agricultura, sua prioridade absoluta, teria de ceder em bens industriais e em serviços, prioridades dos EUA e da UE.
A Ministerial começou, na prática, na noite de ontem, em reunião do "grupo consultivo" de 26 países, que acabou na madrugada de hoje em Hong Kong (meio da tarde de ontem no Brasil).
Destinou-se, segundo a expressão ouvida por Amorim e depois reproduzida aos jornalistas, a "esquentar os motores" para as discussões a partir de hoje.
Por isso mesmo, ficou muito mais em questões de procedimento. Amorim aproveitou para cobrar uma espécie de pauta mínima de problemas a resolver e que devem ser abordados de imediato. "Não vamos fingir que não sabemos que há problemas, porque quando resolvermos discuti-los pode ser tarde."
Um dos problemas que Amorim gostaria de ver enfrentado logo é o do chamado pacote do desenvolvimento, ou seja, um programa de benefícios aos países mais pobres. O chanceler sabe que os EUA têm limitações legislativas para aprovar o esquema "duty free/cota free", ou seja, a abertura dos mercados para os países pobres sem cobrar impostos de importação ou impor cotas.
"Esse pode ser um problema grave", disse. Afinal, o programa é a única resposta até agora concreta que a Ministerial pode dar às reivindicações dos países pobres de que não estão ganhando nada com a liberalização comercial.


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