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Temperatura na OMC sobe com batalha agrícola
DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG
A holandesa Mariann Fischer
Boel, a comissária agrícola da
União Européia (espécie de ministra), reclama: "É monótono e
desapontador ouvir continuamente críticas à proposta européia [para a redução do protecionismo agrícola]".
De fato, não passa um dia sem
que a grande maioria dos países-membros da OMC (agora, são
150) ataque os europeus pelas
barreiras que impõem aos produtos agrícolas de seus parceiros.
Críticas, aliás, que surgem na
própria Europa. "A Política Agrícola Comum da União Européia
permanece como emblema da
ineficiência e da iniqüidade, apesar de substanciais reformas já
feitas", afirma, por exemplo, o
Centro para a Reforma Européia,
instituição de pesquisa com sede
em Londres, em documento para
a reunião de Hong Kong.
Reforça, no lado em desenvolvimento do mundo, o texto aprovado ontem pelo G20, o grupo de
países liderado por Brasil e Índia
que cobra a abertura agrícola do
lado rico do planeta: "Uma rodada de desenvolvimento [nome
oficial das negociações em curso]
requer a remoção das distorções
nas regras agrícolas internacionais. A maior distorção estrutural
no comércio internacional ocorre
na agricultura, por meio da combinação de altas tarifas [de importação], subsídios domésticos e para a exportação, que protegem
produtores ineficientes nos países
desenvolvidos".
A comissária reage: "A proposta
européia é ousada e, ao contrário
do que dizem, permite real acesso
ao mercado europeu".
Cita até o exemplo da carne: se
implementada a proposta de corte tarifário (39% na média), haverá aumento para 1,3 milhão de toneladas, contra as 500 mil hoje
compradas no exterior.
Flávio Damico, o especialista
brasileiro na negociação agrícola,
contesta. Ele diz que os europeus
se comprometeram, na rodada
anterior de liberalização, a importar o equivalente a 5% de seu consumo doméstico, mas estão comprando apenas de 2% a 3%. Mesmo com a nova oferta, o aumento
seria insuficiente para respeitar o
compromisso anterior, quanto
mais para assumir nova abertura.
A batalha agrícola é a origem da
paralisia na chamada Rodada Doha de Desenvolvimento.
Já se sabe que, em Hong Kong,
ao contrário da expectativa inicial, não se estabelecerão as chamadas modalidades. Trata-se, na
área agrícola, de definições essenciais, como a fórmula de redução
tarifária; tratamento para os produtos sensíveis; funcionamento
das salvaguardas e produtos especiais para os países em desenvolvimento; definições claras sobre o
corte global no teto dos subsídios
domésticos distorcivos; fixação
de data para eliminação dos subsídios à exportação; práticas distorcivas usadas por empresas estatais de comércio; e o abuso dos
programas de ajuda alimentar.
O Brasil, o grande beneficiário
de uma liberalização do comércio
agrícola, já se conformou em obter, em Hong Kong, apenas uma
data para o fim dos subsídios à exportação.
Graças a eles, europeus e norte-americanos competem deslealmente com a produção brasileira
em terceiros mercados.
(CR)
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