São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

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Reunião tem início em sala que não existe

DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG

A 6ª Conferência Ministerial da OMC começou em uma sala que o próprio diretor-geral da instituição, o francês Pascal Lamy, diz que não existe.
É a "green room" (sala verde), que só existia mesmo no antigo casarão do Gatt (Acordo Geral de Tarifas e Comércio, predecessor da OMC), em Genebra (Suíça).
É para a "green room" que são chamados os países mais representativos para tentar encaminhar acordos ante a evidência de que é literalmente impossível fechar um pacote que abarque quase tudo o que o ser humano produz e comercializa na presença de 150 delegações, da paupérrima Burkina Fasso aos portentosos EUA.
O modelo "green room" provoca resmungos cada vez mais fortes na OMC. Parece discriminação. Em geral ficam de fora os países mais pobres. Em Seattle, na 3ª Ministerial (1999), a cena era de fato chocante: do lado de dentro, delegados de aproximadamente 30 países, quase todos brancos. Do lado de fora, uma multidão de peles escuras dormitava nas poltronas à espera de um acordo -que aliás nem chegou.
Agora, Lamy prefere chamar de "grupo consultivo" o que se reuniu no Centro de Convenções e Exposições de Hong Kong.
"Green room" é mais uma pérola da formidável quermesse em que inevitavelmente se transformam as ministeriais da OMC -nem sempre festivas, nem sempre santas. Ontem, por exemplo, a rede de ONGs "Nosso Mundo não Está à Venda" convocou uma manifestação para gritar "a OMC fracassou/Alternativas já".
Um grupo de lavradores sul-coreanos foi no embalo, entrou em choque com a polícia e quebrou um ou outro escudo da tropa de choque que protege o perímetro de segurança, uma ampla área em torno do Centro de Convenções. A polícia contra-atacou com "spray" de gás pimenta, o que mais irrita olhos e garganta.
Dentro do Centro de Convenções, a pimenta era de outra natureza: benévola. Um cartaz reproduzia o título de uma comédia ligeira de Hollywood ("You have mail") e dizia, na íntegra: "Mr. Mandelson, you have mail. 476.733 pessoas cobram comércio justo agora. Responder a todos?". Assina: "Ação Global contra a Pobreza", outro movimento que quer regras mais justas para o comércio internacional e dirigia seu "mail" a Peter Mandelson, o comissário europeu para o Comércio.
Na grande quermesse, há lugar para tudo. Para quem adora o livre comércio, como o Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, que espalhou livreto cuja epígrafe diz: "Eu faço compras, logo existo".
Contra essa filosofia consumista exacerbada, a ONG "Amigos da Terra" preferia o seu próprio livreto, chamado "A Tirania do Livre Comércio". Nele, fica-se sabendo que "o comércio de carne de porco e de soja causa fome, poluição e violação dos direitos humanos". (CR)


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