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Reunião tem início em sala que não existe
DO ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG
A 6ª Conferência Ministerial
da OMC começou em uma sala
que o próprio diretor-geral da
instituição, o francês Pascal
Lamy, diz que não existe.
É a "green room" (sala verde), que só existia mesmo no
antigo casarão do Gatt (Acordo
Geral de Tarifas e Comércio,
predecessor da OMC), em Genebra (Suíça).
É para a "green room" que
são chamados os países mais
representativos para tentar encaminhar acordos ante a evidência de que é literalmente
impossível fechar um pacote
que abarque quase tudo o que
o ser humano produz e comercializa na presença de 150 delegações, da paupérrima Burkina
Fasso aos portentosos EUA.
O modelo "green room" provoca resmungos cada vez mais
fortes na OMC. Parece discriminação. Em geral ficam de fora os países mais pobres. Em
Seattle, na 3ª Ministerial (1999),
a cena era de fato chocante: do
lado de dentro, delegados de
aproximadamente 30 países,
quase todos brancos. Do lado
de fora, uma multidão de peles
escuras dormitava nas poltronas à espera de um acordo
-que aliás nem chegou.
Agora, Lamy prefere chamar
de "grupo consultivo" o que se
reuniu no Centro de Convenções e Exposições de Hong
Kong.
"Green room" é mais uma
pérola da formidável quermesse em que inevitavelmente se
transformam as ministeriais da
OMC -nem sempre festivas,
nem sempre santas. Ontem,
por exemplo, a rede de ONGs
"Nosso Mundo não Está à Venda" convocou uma manifestação para gritar "a OMC fracassou/Alternativas já".
Um grupo de lavradores sul-coreanos foi no embalo, entrou
em choque com a polícia e quebrou um ou outro escudo da
tropa de choque que protege o
perímetro de segurança, uma
ampla área em torno do Centro
de Convenções. A polícia contra-atacou com "spray" de gás
pimenta, o que mais irrita
olhos e garganta.
Dentro do Centro de Convenções, a pimenta era de outra
natureza: benévola. Um cartaz
reproduzia o título de uma comédia ligeira de Hollywood
("You have mail") e dizia, na
íntegra: "Mr. Mandelson, you
have mail. 476.733 pessoas cobram comércio justo agora.
Responder a todos?". Assina:
"Ação Global contra a Pobreza", outro movimento que
quer regras mais justas para o
comércio internacional e dirigia seu "mail" a Peter Mandelson, o comissário europeu para
o Comércio.
Na grande quermesse, há lugar para tudo. Para quem adora o livre comércio, como o Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino
Unido, que espalhou livreto cuja epígrafe diz: "Eu faço compras, logo existo".
Contra essa filosofia consumista exacerbada, a ONG
"Amigos da Terra" preferia o
seu próprio livreto, chamado
"A Tirania do Livre Comércio".
Nele, fica-se sabendo que "o
comércio de carne de porco e
de soja causa fome, poluição e
violação dos direitos humanos".
(CR)
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