São Paulo, Sábado, 15 de Janeiro de 2000


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LUÍS NASSIF

São Rio Paulo de Janeiro

Na próxima semana, o lançamento do livro "Rio-São Paulo, Cidades Mundiais", de Fernando Rezende e Ricardo Lima, irá inaugurar o debate nacional sobre tema dos mais relevantes nesses tempos de globalização: o papel das grandes metrópoles na organização da nova ordem mundial.
As grandes cidades sempre cumpriram papel na internacionalização do comércio, como entroncamento de rotas de comércio, portas de acesso ao exterior (a instituição das feiras remonta a Idade Média), concentração de conhecimento, estabelecimentos fabris. Na introdução, lembra-se Veneza, surgindo no período de expansão das rotas terrestres com o Oriente. Depois, Constantinopla, como entreposto marítimo. Na sequência, Amsterdã, consolidando o papel dos portos. Até a Revolução Industrial, quando as vantagens competitivas ficam sendo de centros com mercados liberados e concentração de mão-de-obra, como Londres e Nova Inglaterra, nos Estados Unidos.
Com o tempo, principalmente na periferia do mundo capitalista, as metrópoles passaram a ser constituídas de migrações de pobres. Das 20 metrópoles com mais de 5 milhões de habitantes, poucas se encaixam no conceito de cidades globais. O trabalho menciona apenas Nova York e Tóquio como cidades globais. Todas as demais metrópoles são caracterizadas apenas como "cidades mundiais de hierarquia interior", incluindo São Paulo.
O vestibular de acesso à cidade global requer uma lista de pontos. Não bastam mais atributos naturais ou uma grande massa de operários especializados para caracterizar as atividades modernas das cidades globais.
Elas exigem infra-estrutura sofisticada de serviços de apoio a instituições financeiras e ramos altamente especializados voltados para atendimento de consumidores exigentes. Entre eles, serviços urbanos eficientes, ambiente agradável, intensa atividade cultural, opções variadas de entretenimento e lazer são alguns dos fatores.
O prêmio pelo reconhecimento das cidades não é apenas o incremento do turismo, mas tornar-se centro financeiro internacional e sede das grandes companhias mundiais, elos importantes na rede de informações e conhecimento que interliga a economia regional e a global.
O trabalho vê grandes chances de o Brasil abrigar a principal cidade mundial da América Latina. Nossa economia é a maior da região. Os recursos naturais são abundantes e a cultura é rica e variada.
No entanto há problemas a superar, diz o trabalho. As instituições são rígidas e ultrapassadas. A política é instável e movida mais por interesses particulares do que pelo interesse nacional. As desigualdades sociais são extremadas e a insegurança pessoal e coletiva é crescente.
O trabalho identifica São Paulo e Rio como as duas cidades nacionais com o potencial para se tornar cidade global. A proximidade das duas cidades -400 km- é única no mundo, entre dois centros com esse potencial. A partir daí, propõe um projeto conjunto interligando as duas metrópoles, formando uma região urbana global, com o aproveitamento das vantagens comparativas de cada cidade. Com isso, haveria economia, já que a reestruturação seria feita de forma complementar.
Os trabalhos divulgados no livro visarão abrir o debate para a constituição dessa megacidade global, constituída por Rio e por São Paulo. Espera-se que o resultado de Vasco e Corinthians não atrapalhe as boas intenções do trabalho.


E-mail: lnassif@uol.com.br



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