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VINICIUS TORRES FREIRE
Dólares, cachinhos e helicópteros
Discurso do presidente do BC americano reduz incerteza nas finanças e reforça o cenário de valorização do real
MIL E UM motivos estão na
mesa do debate sobre a
queda do dólar e da alta do
real, mas é difícil negar que Ben Bernanke azeitou ontem a rampa em
que desliza a moeda americana, em
especial a rampa brasileira, embora
o dólar tenha ontem ficado mais barato em muitos países e moedas: euros, rands, rublos etc. etc.
Ben "Helicopter" Bernanke é o
presidente do banco central dos Estados Unidos, o Fed. Falou ontem a
um comitê do Senado americano,
parte de sua prestação semestral de
contas ao Congresso dos EUA. Reafirmou o que ele e seus banqueiros
centrais haviam indicado na última
decisão do Copom deles, no final de
janeiro: o núcleo da inflação parece
sob controle; o crescimento econômico é moderado e vai se adequando
aos poucos a seu nível potencial.
E daí? No que interessa ao Brasil,
tudo o mais constante, alguns dos
fatores que valorizam o real devem
ganhar agora mais impulso, assim
como o tom das queixas de alguns
exportadores, de parte da indústria
e dos críticos do Banco Central.
O discurso de Bernanke reduz incertezas e volatilidades no mercado.
Isto é, parece dar um sinal mais seguro do que tende a acontecer com
os juros da maior economia do mundo, baliza da finança mundial.
Menos incerteza, menos inconstância na avaliação de ativos financeiros: menos risco. Ambientes aparentemente mais tranqüilos a princípio incentivam mais investimentos de risco, como aqueles em ações,
títulos de dívida (juros) e moedas de
países como o Brasil e de outros
emergentes.
Esse horizonte não é apenas mais
previsível mas também oferece
oportunidades contínuas de lucro
com ativos brasileiros, pois o cenário de juros americanos é agora de
estabilidade-queda; no Brasil, a
perspectiva é de queda lenta. Mais
dólares apostados em ativos brasileiros ajudam a valorizar o real.
Ben Helicopter, enfim, ratificou o
cenário "goldilocks" ("cachinhos
dourados"). No conto infantil, a menininha de cachinhos dourados come o mingau que a família urso deixara amornar: nem tão frio nem tão
quente. O mingau da economia
americana não estaria quente a ponto de exigir mais aperto monetário
nem tão frio que sugerisse cortes
imediatos de juros. Mas muito analista de mercado e blogueiro de Wall
Street já acredita em juro menor a
partir de agosto. O PIB americano
do último trimestre tem sido revisado bem para baixo depois que saíram os dados da balança comercial e
do nível de estoques da indústria.
Por que "Helicopter Ben"? Em
novembro de 2002, já na direção do
Fed, Bernanke fez um discurso famoso no Clube dos Economistas dos
EUA. Disse que o governo pode evitar deflação injetando dinheiro na
economia, como se jogasse dinheiro
do céu, "de um helicóptero". Citava
o monetarista Milton Friedman, para quem, grosso modo, inflações e
deflações decorrem de excesso ou
escassez de moeda na economia.
Ganhou de seus críticos mais sarcásticos o apelido de "Helicopter Ben",
pelo qual é chamado até hoje.
O suave discurso de Bernanke no
Senado reavivou, entre a finança
mais linha-dura, o apelido. No Brasil, e sendo menos rigorista, Ben seria chamado de "deixa a vida me levar Bernanke".
vinit@uol.com.br
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