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São Paulo, terça-feira, 15 de abril de 2003

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ANO DO DRAGÃO

Produção menor por problemas climáticos, estoques reduzidos e dificuldade para importar elevam cotação

Arroz sobe de preço em plena safra no Sul

MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO

"Em toda a minha vida, dedicada ao arroz, nunca vi o produto subir de preço em plena safra." O desabafo é de José Antônio Ribeiro Nogueira, da Comal Arroz Ltda., de Mogi das Cruzes (SP).
Os consumidores vão sentir rapidamente no bolso os efeitos do que diz Nogueira. Em plena safra, a saca de arroz em casca já supera os R$ 30 no Rio Grande do Sul e não há produto para comprar.
Esse valor está bem acima dos R$ 15 a R$ 16 do mesmo período do ano passado. Os motivos da alta são vários e passam pelo clima, mercado internacional, produtores nacionais, quebra de safra e até pelo governo.
Em um ano em que o país deverá consumir mais arroz, inclusive com o incentivo dos programas sociais do governo, a safra se mostra cada vez menor com o desenrolar da colheita.
Esperava-se para o Rio Grande do Sul, o principal produtor do tipo agulhinha -o preferido dos paulistas-, uma safra de 5,5 milhões de toneladas. As estimativas mais pessimistas já prevêem 4,2 milhões de toneladas. É cedo para uma avaliação da safra, mas com certeza o volume não passará de 4,8 milhões de toneladas, segundo analistas do mercado.
A possibilidade de quebra de safra já era prevista desde o plantio. Pelo menos 80% da área de arroz no Sul foi semeada fora do período ideal devido a problemas climáticos, diz o analista Romeu Fiod. Nos últimos dias, um novo fator de quebra foi agregado ao setor: o frio intenso.
A demanda de arroz no Brasil é sempre suprida pela Argentina e pelo Uruguai. Com a desvalorização do real em 1999, o produto desses países ficou menos competitivo no mercado brasileiro e os produtores argentinos e uruguaios diminuíram o volume da safra. Em 1999, a Argentina produziu 1,7 milhão de toneladas, e o Uruguai, 1,3 milhão de toneladas. Para este ano, as estimativas são de 791 mil e 945 mil toneladas, respectivamente.
Além de uma produção menor em relação aos anos anteriores, a Argentina e o Uruguai sofrem os mesmos efeitos climáticos do Brasil e também deverão ter quebra de safra. Além disso, o Uruguai, país que tem 800 mil toneladas de arroz para exportar neste ano, buscou novos parceiros comerciais após a perda de competitividade de seu produto no mercado brasileiro.
O Mercosul produziu 14,6 milhões de toneladas de arroz em 1999 e consumiu 12,8 milhões. Neste ano, deverá produzir 12,8 milhões, o mesmo volume previsto para o consumo.
A quebra de safra ocorre em um período em que o governo está totalmente sem estoque de arroz agulhinha. Os estoques terminaram em novembro do ano passado. Sem os leilões do governo, produtores e intermediários que dispõem do produto podem elevar os preços até a paridade de importação.

Produto em falta
A alta dos preços em plena safra tem sido um desastre para as indústrias. Estão sem estoques e não conseguem produto para comprar, mesmo pagando caro. Fernando Zaia, diretor comercial da Brasília Alimentos, de Santa Cruz do Rio Pardo (SP), diz que "o cenário é complicado".
A saca de arroz em casca já bateu nos R$ 30, mesmo preço do arroz norte-americano. A tonelada de arroz dos EUA, que já subiu 37% neste ano em dólar, está a US$ 166. A esse valor, e com o câmbio a R$ 3,20, a saca do produto importado sai a R$ 30, empatando com o nacional, diz Zaia.
Vilmondes da Silva, do Deagro (Departamento de Abastecimento Agropecuário), diz que os motivos da alta são vários, mas que um deles depende também da boa organização e da capitalização dos produtores do setor.
Para Fiod e Zaia, o governo só tem uma saída no momento: eliminar as alíquotas de importação. Vilmondes diz que o governo está acompanhando passo a passo a situação do arroz, mas não vai tomar nenhuma medida antes de saber exatamente qual é a quebra da safra. Por isso, os técnicos da Conab estão em campo coletando dados e, na próxima semana, deverão ser divulgados novos números sobre o setor.


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