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ANO DO DRAGÃO
Produção menor por problemas climáticos, estoques reduzidos e dificuldade para importar elevam cotação
Arroz sobe de preço em plena safra no Sul
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
"Em toda a minha vida, dedicada ao arroz, nunca vi o produto
subir de preço em plena safra." O
desabafo é de José Antônio Ribeiro Nogueira, da Comal Arroz
Ltda., de Mogi das Cruzes (SP).
Os consumidores vão sentir rapidamente no bolso os efeitos do
que diz Nogueira. Em plena safra,
a saca de arroz em casca já supera
os R$ 30 no Rio Grande do Sul e
não há produto para comprar.
Esse valor está bem acima dos
R$ 15 a R$ 16 do mesmo período
do ano passado. Os motivos da alta são vários e passam pelo clima,
mercado internacional, produtores nacionais, quebra de safra e
até pelo governo.
Em um ano em que o país deverá consumir mais arroz, inclusive
com o incentivo dos programas
sociais do governo, a safra se mostra cada vez menor com o desenrolar da colheita.
Esperava-se para o Rio Grande
do Sul, o principal produtor do tipo agulhinha -o preferido dos
paulistas-, uma safra de 5,5 milhões de toneladas. As estimativas
mais pessimistas já prevêem 4,2
milhões de toneladas. É cedo para
uma avaliação da safra, mas com
certeza o volume não passará de
4,8 milhões de toneladas, segundo
analistas do mercado.
A possibilidade de quebra de safra já era prevista desde o plantio.
Pelo menos 80% da área de arroz
no Sul foi semeada fora do período ideal devido a problemas climáticos, diz o analista Romeu
Fiod. Nos últimos dias, um novo
fator de quebra foi agregado ao
setor: o frio intenso.
A demanda de arroz no Brasil é
sempre suprida pela Argentina e
pelo Uruguai. Com a desvalorização do real em 1999, o produto
desses países ficou menos competitivo no mercado brasileiro e os
produtores argentinos e uruguaios diminuíram o volume da
safra. Em 1999, a Argentina produziu 1,7 milhão de toneladas, e o
Uruguai, 1,3 milhão de toneladas.
Para este ano, as estimativas são
de 791 mil e 945 mil toneladas,
respectivamente.
Além de uma produção menor
em relação aos anos anteriores, a
Argentina e o Uruguai sofrem os
mesmos efeitos climáticos do
Brasil e também deverão ter quebra de safra. Além disso, o Uruguai, país que tem 800 mil toneladas de arroz para exportar neste
ano, buscou novos parceiros comerciais após a perda de competitividade de seu produto no mercado brasileiro.
O Mercosul produziu 14,6 milhões de toneladas de arroz em
1999 e consumiu 12,8 milhões.
Neste ano, deverá produzir 12,8
milhões, o mesmo volume previsto para o consumo.
A quebra de safra ocorre em um
período em que o governo está totalmente sem estoque de arroz
agulhinha. Os estoques terminaram em novembro do ano passado. Sem os leilões do governo,
produtores e intermediários que
dispõem do produto podem elevar os preços até a paridade de
importação.
Produto em falta
A alta dos preços em plena safra
tem sido um desastre para as indústrias. Estão sem estoques e
não conseguem produto para
comprar, mesmo pagando caro.
Fernando Zaia, diretor comercial
da Brasília Alimentos, de Santa
Cruz do Rio Pardo (SP), diz que
"o cenário é complicado".
A saca de arroz em casca já bateu nos R$ 30, mesmo preço do
arroz norte-americano. A tonelada de arroz dos EUA, que já subiu
37% neste ano em dólar, está a
US$ 166. A esse valor, e com o
câmbio a R$ 3,20, a saca do produto importado sai a R$ 30, empatando com o nacional, diz Zaia.
Vilmondes da Silva, do Deagro
(Departamento de Abastecimento Agropecuário), diz que os motivos da alta são vários, mas que
um deles depende também da
boa organização e da capitalização dos produtores do setor.
Para Fiod e Zaia, o governo só
tem uma saída no momento: eliminar as alíquotas de importação.
Vilmondes diz que o governo está
acompanhando passo a passo a
situação do arroz, mas não vai tomar nenhuma medida antes de
saber exatamente qual é a quebra
da safra. Por isso, os técnicos da
Conab estão em campo coletando
dados e, na próxima semana, deverão ser divulgados novos números sobre o setor.
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