São Paulo, quinta-feira, 15 de abril de 2004

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LUÍS NASSIF

A China e o Brasil

A china tem um grande desafio neste ano: fazer a economia refluir para uma taxa de crescimento mais modesta, de 7% anuais. E, depois, trabalhar parcerias estratégicas para reduzir suas vulnerabilidades. A informação é de Wang Jun, presidente da Citic, o grande banco de investimento do governo chinês, que veio prospectar o mercado brasileiro, ciceroneado pela Brasilinvest.
Hospedado em um hotel central de São Paulo, Jun informa que o governo chinês está desestimulando a instalação de empresas petroquímicas e outras com potencial poluidor. Além de planos para aumentar as taxas de juros e o compulsório, o governo chinês está adotando outras medidas para desestimular o crescimento selvagem da economia. Hoje em dia, para adquirir terrenos para qualquer indústria, o empresário tem que demonstrar dispor de pelo menos 30% do capital para tocar empreendimento. Essa regra está valendo para plantas elétricas, produção de aço, petroquímica e cimento, em parte para evitar a superprodução, em parte para não agravar ainda mais os pesados problemas ambientais enfrentados pelo país.
O problema maior da China é a energia. Há dificuldade de abastecimento, especialmente de transporte. E está difícil encontrar matéria-prima para termoelétricas -o coque, altamente poluente. O país está buscando parceria para mudar sua matriz energética e estimular as plantas movidas a gás. É por aí que se manifesta o interesse em parcerias com a Petrobras, especialmente devido à sua experiência em prospecção de águas profundas.
A visita ao Brasil ainda faz parte da prospecção de novos negócios. Há interesse em investir em infra-estrutura e também em projetos voltados para a produção de petróleo e matéria-prima para fertilizantes. E parcerias tecnológicas nas áreas aeroespacial, aeronáutica e de biotecnologia.
A China tem aproveitado o boom econômico para reduzir as vulnerabilidades do setor público, especialmente o pesado endividamento provocado pelos rombos do setor bancário. Segundo Jun, a arrecadação tem crescido de duas a três vezes acima da taxa de expansão da economia, o que tem permitido ao governo resgatar bônus da dívida.
Jun admite que o maior desafio da história da China será administrar o êxodo rural que começa a ser criado pela necessidade de modernização do campo. No ano passado, o governo chinês criou 9 milhões de empregos, uma gota no oceano que beneficiou apenas trabalhadores desempregados da indústria. Para a área rural, o governo está montando políticas visando criar empregos no campo e nas cidades rurais. A idéia é diversificar a produção na China, aproveitando as áreas devastadas para plantar grama e árvores frutíferas.
Outra saída será estimular o setor de serviços. No seu encontro com o vice-governador paulista, Cláudio Lembro, Jun soube que serviços representam 51% do PIB paulista. Na China, o percentual não passa de 40%. Portanto poderia haver espaço para gerar empregos por aí.
Para este ano, as importações de alimentos da China deverão aumentar, devido a desastres climáticos que afetaram a safra do ano passado.


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