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OPINIÃO ECONÔMICA
Hora de reduzir os juros
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Nas últimas semanas, configurou-se um quadro que
permite iniciar a redução da taxa
básica de juros.
A queda da inflação está sendo
registrada em todos os principais
índices de preços. Se a taxa nominal de juro for mantida em
26,5%, haverá aumento dos juros
reais, algo que não é aconselhável
para uma economia estagnada,
com desemprego elevado e submetida a um política fiscal restritiva. Além disso, a valorização
cambial já foi longe demais, em
grande medida por causa da política de juros, e ameaça solapar o
recém-iniciado ajustamento das
contas externas.
As taxas de juro brasileiras são,
por qualquer parâmetro, cronicamente anormais. Estamos tão
acostumados aos juros altos que
às vezes perdemos de vista o
quanto o Brasil se distancia das
práticas internacionais nesse terreno. Relativamente aos países
desenvolvidos, o nosso diferencial
de juros é monumental. Nas três
principais economias do mundo,
as taxas de curto prazo são hoje
negativas (Estados Unidos) ou levemente positivas (área do euro e
Japão). As demais economias desenvolvidas também trabalham
com juros modestos.
Nos países em desenvolvimento,
os juros tendem a ser mais altos.
Mas poucos praticam taxas de juro extravagantes como as do Brasil. Em vários países "emergentes", as taxas reais de curto prazo
são negativas (Argentina e Chile,
por exemplo) ou moderadas (Índia, Malásia, Coréia do Sul, Taiwan, Rússia e México, por exemplo). Considerados os principais
"mercados emergentes", só a Turquia registra atualmente juros
nominais superiores aos nossos.
Compreende-se perfeitamente a
preocupação do novo governo
brasileiro com a inflação. O risco
de descontrole inflacionário era
inegavelmente muito grande em
fins de 2002 e no início de 2003.
Não há dúvida também de que a
combinação atual de juros altos e
dólar em queda favorece a redução mais rápida das taxas de inflação.
Mas, em matéria de inflação, o
pior já passou. Por outro lado, a
insistência em manter a taxa de
juro no nível atual cobrará um
preço cada vez maior em termos
de efeitos negativos sobre o PIB, o
nível de emprego e o balanço de
pagamentos em conta corrente.
A valorização cambial induzida pelo enorme diferencial entre
os juros internos e externos prejudica o crescimento econômico e o
nível de emprego de duas maneiras. De forma direta, ao deprimir
a atividade e o emprego nos setores exportadores e nos setores que
concorrem com importações de
bens e serviços. De forma indireta,
ao desfazer, pelo menos em parte,
o ótimo resultado alcançado em
termos de geração de saldos comerciais e diminuição do desequilíbrio do balanço de pagamentos em conta corrente desde
meados de 2002.
Evidentemente, a diminuição
dos juros terá que ser gradativa.
Para colocá-los em níveis mais civilizados, de forma sustentada,
será preciso mudar o foco da política econômica e orientá-la sistematicamente para a remoção da
principal restrição macroeconômica: a vulnerabilidade das contas externas.
Remover a restrição externa
significa não apenas completar o
ajustamento do balanço de pagamentos em conta corrente mas
também introduzir controles seletivos sobre os movimentos de capital e reforçar as reservas internacionais do país.
Tarefa para uma "fase dois" da
política econômica do novo governo.
Paulo Nogueira Batista Jr., 48, economista, pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP e professor da FGV- EAESP, escreve às quintas-feiras nesta coluna. É autor do livro "A
Economia como Ela É..." (Boitempo Editorial, 3ª edição, 2002).
E-mail - pnbjr@attglobal.net
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