UOL


São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para analistas, reduzir taxa agora seria precipitação devido à inflação

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A recente queda dos índices de inflação é um bom sinal para a economia, mas ainda não garante ao Banco Central nem sequer a certeza de que a meta de 2004 vá ser cumprida.
Ou seja, se o BC se guiar por critérios estritamente técnicos, provavelmente não cortará a taxa Selic, hoje em 26,5% ao ano, na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) deste mês.
Três economistas ouvidos pela Folha -Luis Fernando Lopes (JP Morgan), Alexandre Schwartzman (Unibanco) e Roberto Padovani (Tendências Consultoria)- avaliam que o melhor seria o BC deixar para mexer nos juros somente na reunião de junho, quando ficará mais clara a tendência do comportamento dos preços.
No ano, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) -índice oficial do governo- está acumulado em 6,15%, o que corresponde a 72,4% da meta ajustada de inflação para 2003, de 8,5%. Pelos cálculos do BBV Banco, a taxa de inflação mensal média de maio a dezembro deste ano precisaria ficar em 0,27% para que a meta de 2003 fosse cumprida.
Que a meta deste ano dificilmente será cumprida todo mundo sabe, até mesmo o BC, que negociou com o FMI (Fundo Monetário Internacional) o alvo "re-reajustado" para 2003, de até 11%.

Metas
O problema é que, pelo comportamento do IPCA até agora, nem mesmo a meta de 2004 (5,5%) seria atingida. Segundo o banco BBV, excluídos os preços administrados e os produtos agrícolas, o núcleo de inflação (neste caso, somente os preços determinados livremente pelas forças de mercado) em abril foi de 0,81%.
Para que a meta de inflação do ano que vem seja cumprida, estima o BBV, a média mensal dos preços livres teria de ficar em somente 0,35%. Isto é, bem abaixo do verificado em abril, quando o IPCA cheio foi de 0,97%.
Para Luis Fernando Lopes, o BC do PT sofre muito mais pressões externas para a queda dos juros do que o BC do governo anterior. Ele avalia que, não fossem as pressões (de políticos do partido, de industriais e até mesmo de integrantes da equipe econômica), o BC não mexeria na taxa neste mês -manteria os juros em 26,5%.
Em sua opinião, o mais provável é que o BC opte por um meio termo, como o viés de baixa ou um corte na alíquota do compulsório (dinheiro retido obrigatoriamente pelos bancos ao BC), liberando às instituições mais recursos para a concessão de crédito, o que tenderia a diminuir os juros cobrados do consumidor.
"Acho que seria precipitado um corte nos juros agora", diz Schwartzman.
Para Padovani, a queda mais acentuada dos IGPs (índices gerais de preços) se deve a fatores pontuais, como o recuo do dólar, dos produtos "in natura" e da gasolina. "Não há queda generalizada de preços. Não sabemos se o recuo no atacado se estenderá aos preços ao consumidor."


Texto Anterior: Ano do dragão: Vice e Mercadante querem cortar juro já
Próximo Texto: BC vai reduzir previsão de entrada de recursos
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.