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MARCHA LENTA
Nos primeiros 3 meses do governo Lula, setor vendeu 5,98% menos do que no mesmo período do ano passado
Vendas do comércio desabam no 1º trimestre
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Nos três primeiros meses do governo Lula, o comércio não teve
nada a comemorar: as vendas do
setor, em volume, caíram 5,98%
em relação a igual período de
2002. Em março, o recuo foi ainda
maior, atingindo 11,31% na comparação com março de 2002, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Essa é a maior queda mensal
desde que o instituto começou a
pesquisar o indicador, em janeiro
de 2001.
O fraco desempenho do comércio ocorre por causa de uma soma
de fatores: juros altos, desemprego elevado e renda em queda. "No
último trimestre de 2002, surgiu
mais um complicador, que foi o
recrudescimento da inflação",
disse Nilo Lopes de Macedo, economista do IBGE.
Poder de compra
"O comércio esbarra na perda
do poder de compra do trabalhador e nas altas taxas de juro, que
desestimulam as vendas a prazo.
Além disso, o desemprego elevado impede que o consumidor assuma novos compromissos", afirmou Oiram Corrêa, gerente da
Assessoria Econômica da Fecomercio/SP.
Para o economista da CNC
(Confederação Nacional do Comércio) e ex-diretor do BC (Banco Central), Carlos Thadeu de
Freitas, de todos esses fatores o
que mais afeta o comportamento
do comércio é o juro elevado.
De acordo com o economista, o
juro real (descontada a inflação)
vem subindo desde o começo do
ano, reduzindo a oferta de financiamentos e tornando-os mais caros.
Parte da retração de março, segundo o IBGE, se explica pelo fato
de o Carnaval neste ano ter sido
em março -e não em fevereiro,
como de costume-, o que reduziu o número de dias úteis do mês.
"Mesmo sem esse efeito, porém,
haveria queda nas vendas. O que
aconteceu foi que isso ampliou a
intensidade", afirmou Macedo.
O efeito calendário, cujo impacto real o IBGE não consegue medir, fez com que todas os 27 Estados e os sete ramos de atividade
tivessem retração em março, segundo Macedo.
Ao comentar o desempenho
dos próximos meses, Freitas disse
prever uma recuperação no segundo semestre. Para ele, a velocidade de queda da inflação será
maior do que a das taxas de juro,
impedindo uma melhora rápida
nas condições de crédito.
Para Corrêa, 2003 será um ano
perdido para o setor. Nem no segundo semestre ele espera uma
recuperação. Motivo: o governo
manterá a política monetária restritiva. "O crédito vai continuar
caro e escasso", afirmou.
Ao final de 2003, Corrêa estima
que as vendas do comércio paulista aumentem apenas 1% -ou
fiquem estáveis.
Setores
Por setores, o maior impacto
negativo veio do ramo hipermercados, supermercados e alimentos, cujas vendas despencaram
13,06% ante março de 2002, segundo o levantamento do IBGE.
Também empurraram o indicador para baixo os resultados de
demais artigos de uso pessoal e
doméstico (-8,98%), móveis e eletrodomésticos (-16,31%) e combustíveis e lubrificantes (-7,98%).
Em valores, porém, as vendas
cresceram, sob efeito da inflação e
do movimento de recomposição
de margens e da inflação. Houve
um aumento de 9,28%.
Uma pesquisa da CNC revela
que em março o faturamento real
do setor registrou uma retração
de 5,18% em relação ao mesmo
período de 2002.
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