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São Paulo, quinta-feira, 15 de maio de 2003

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MARCHA LENTA

Nos primeiros 3 meses do governo Lula, setor vendeu 5,98% menos do que no mesmo período do ano passado

Vendas do comércio desabam no 1º trimestre

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Nos três primeiros meses do governo Lula, o comércio não teve nada a comemorar: as vendas do setor, em volume, caíram 5,98% em relação a igual período de 2002. Em março, o recuo foi ainda maior, atingindo 11,31% na comparação com março de 2002, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Essa é a maior queda mensal desde que o instituto começou a pesquisar o indicador, em janeiro de 2001.
O fraco desempenho do comércio ocorre por causa de uma soma de fatores: juros altos, desemprego elevado e renda em queda. "No último trimestre de 2002, surgiu mais um complicador, que foi o recrudescimento da inflação", disse Nilo Lopes de Macedo, economista do IBGE.

Poder de compra
"O comércio esbarra na perda do poder de compra do trabalhador e nas altas taxas de juro, que desestimulam as vendas a prazo. Além disso, o desemprego elevado impede que o consumidor assuma novos compromissos", afirmou Oiram Corrêa, gerente da Assessoria Econômica da Fecomercio/SP.
Para o economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio) e ex-diretor do BC (Banco Central), Carlos Thadeu de Freitas, de todos esses fatores o que mais afeta o comportamento do comércio é o juro elevado.
De acordo com o economista, o juro real (descontada a inflação) vem subindo desde o começo do ano, reduzindo a oferta de financiamentos e tornando-os mais caros.
Parte da retração de março, segundo o IBGE, se explica pelo fato de o Carnaval neste ano ter sido em março -e não em fevereiro, como de costume-, o que reduziu o número de dias úteis do mês.
"Mesmo sem esse efeito, porém, haveria queda nas vendas. O que aconteceu foi que isso ampliou a intensidade", afirmou Macedo.
O efeito calendário, cujo impacto real o IBGE não consegue medir, fez com que todas os 27 Estados e os sete ramos de atividade tivessem retração em março, segundo Macedo.
Ao comentar o desempenho dos próximos meses, Freitas disse prever uma recuperação no segundo semestre. Para ele, a velocidade de queda da inflação será maior do que a das taxas de juro, impedindo uma melhora rápida nas condições de crédito.
Para Corrêa, 2003 será um ano perdido para o setor. Nem no segundo semestre ele espera uma recuperação. Motivo: o governo manterá a política monetária restritiva. "O crédito vai continuar caro e escasso", afirmou.
Ao final de 2003, Corrêa estima que as vendas do comércio paulista aumentem apenas 1% -ou fiquem estáveis.

Setores
Por setores, o maior impacto negativo veio do ramo hipermercados, supermercados e alimentos, cujas vendas despencaram 13,06% ante março de 2002, segundo o levantamento do IBGE. Também empurraram o indicador para baixo os resultados de demais artigos de uso pessoal e doméstico (-8,98%), móveis e eletrodomésticos (-16,31%) e combustíveis e lubrificantes (-7,98%).
Em valores, porém, as vendas cresceram, sob efeito da inflação e do movimento de recomposição de margens e da inflação. Houve um aumento de 9,28%.
Uma pesquisa da CNC revela que em março o faturamento real do setor registrou uma retração de 5,18% em relação ao mesmo período de 2002.


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