São Paulo, segunda, 15 de junho de 1998

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COMUNICAÇÃO & MERCADO
A grife do Sítio

HELCIO EMERICH

O leitor Osny Guarnieri Filho, que é professor da Unitau (Universidade de Taubaté), nos manda uma sugestão sobre a qual pede a opinião do colunista e que gostaria de ver analisada por anunciantes e agências de propaganda.
Reproduzo alguns trechos de um artigo publicado por ele, creio que na sua cidade (o professor não identificou o jornal ou a revista), e que traduz melhor suas idéias:
"Temo que vai ser muito difícil continuarmos enfrentando as Turmas da Mônica, do Disney, da Xuxa, da Parmalat (os Mamíferos) etc.
"O negócio é estar na TV, nas prateleiras dos supermercados. O negócio é virar grife. Virar marcas famosas.
"Vamos torcer para que os homens de negócio financiem a Turma do Sítio para produtos os mais diversos.
"Que tal se ao abrirmos a geladeira e lá estiver a margarina da Emília, a manteiga do Sítio do Pica-Pau, a pamonha do Visconde (e não de Piracicaba), o iogurte da Tia Nastácia? Que tal irmos a um shopping e encontrar agendas do Sítio (com fotos da Emília, Pedrinho, Narizinho, Visconde e da Cuca)? Cadernos escolares, réguas, borrachas com a turma toda. Entrarmos em uma loja e encontrarmos as grifes do Sítio ao lado das Levi's, Benetton ou Wrangler".
"Lobato era um grande homem de propaganda. Em sua correspondência com Godofredo Rangel, ele contava que punha anúncios nos jornais para vender livros, cuidava da distribuição, da aparência do produto e sabia escolher os títulos dos livros, não rara mudava, com a finalidade de vender mais. (...) "Divagações à parte, sabemos que a firma Monteiro Lobato Licenciamento S/C Ltda. poderá ser contratada para negócios. Fica aí a idéia".
Caro professor: em todo o mundo existem marcas centenárias cujos símbolos estilizaram personagens da história, do folclore, da música, da literatura.
O Mr.Clean, da Procter & Gamble, com sua cabeça raspada e seus brincos, é uma reminiscência do gênio da garrafa dos contos das "Mil e Uma Noites". Mozart é um chocolate famoso na Europa.
As figuras da Aunt Jemima (marca de uma das linhas de alimentos da Quaker) e do Uncle Ben, embora calcadas em pessoas da vida real (uma cantora de bar e um garçom), poderiam ter sido inspiradas em alguma Dona Benta ou Tia Nastácia dos Estados Unidos.
Os personagens de Lobato reuniam tudo para se transformar numa autêntica grife brasileira, de grande empatia principalmente junto às crianças.
Mas teria sido necessário mantê-los vivos na mídia eletrônica e impressa, como acontece com as turmas da Mônica e da Disney.
A não ser que um grande anunciante aceite o desafio de relançá-los (e ponha verba nisso) a saliente Emília jamais se tornará uma Xuxa e a adorável família do Sítio continuará apenas nos currículos escolares ou na nossa memória.


Helcio Emerich é jornalista, publicitário e vice-presidente da agência Almap/BBDO.



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