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COMUNICAÇÃO & MERCADO
A grife do Sítio
HELCIO EMERICH
O leitor Osny Guarnieri Filho,
que é professor da Unitau (Universidade de Taubaté), nos
manda uma sugestão sobre a
qual pede a opinião do colunista e que gostaria de ver analisada por anunciantes e agências
de propaganda.
Reproduzo alguns trechos de
um artigo publicado por ele,
creio que na sua cidade (o professor não identificou o jornal
ou a revista), e que traduz melhor suas idéias:
"Temo que vai ser muito difícil continuarmos enfrentando
as Turmas da Mônica, do Disney, da Xuxa, da Parmalat (os
Mamíferos) etc.
"O negócio é estar na TV, nas
prateleiras dos supermercados.
O negócio é virar grife. Virar
marcas famosas.
"Vamos torcer para que os homens de negócio financiem a
Turma do Sítio para produtos
os mais diversos.
"Que tal se ao abrirmos a geladeira e lá estiver a margarina
da Emília, a manteiga do Sítio
do Pica-Pau, a pamonha do
Visconde (e não de Piracicaba),
o iogurte da Tia Nastácia? Que
tal irmos a um shopping e encontrar agendas do Sítio (com
fotos da Emília, Pedrinho, Narizinho, Visconde e da Cuca)?
Cadernos escolares, réguas, borrachas com a turma toda. Entrarmos em uma loja e encontrarmos as grifes do Sítio ao lado das Levi's, Benetton ou
Wrangler".
"Lobato era um grande homem de propaganda. Em sua
correspondência com Godofredo Rangel, ele contava que punha anúncios nos jornais para
vender livros, cuidava da distribuição, da aparência do produto e sabia escolher os títulos dos
livros, não rara mudava, com a
finalidade de vender mais. (...)
"Divagações à parte, sabemos
que a firma Monteiro Lobato
Licenciamento S/C Ltda. poderá ser contratada para negócios. Fica aí a idéia".
Caro professor: em todo o
mundo existem marcas centenárias cujos símbolos estilizaram personagens da história,
do folclore, da música, da literatura.
O Mr.Clean, da Procter &
Gamble, com sua cabeça raspada e seus brincos, é uma reminiscência do gênio da garrafa
dos contos das "Mil e Uma Noites". Mozart é um chocolate famoso na Europa.
As figuras da Aunt Jemima
(marca de uma das linhas de
alimentos da Quaker) e do Uncle Ben, embora calcadas em
pessoas da vida real (uma cantora de bar e um garçom), poderiam ter sido inspiradas em alguma Dona Benta ou Tia Nastácia dos Estados Unidos.
Os personagens de Lobato
reuniam tudo para se transformar numa autêntica grife brasileira, de grande empatia principalmente junto às crianças.
Mas teria sido necessário
mantê-los vivos na mídia eletrônica e impressa, como acontece com as turmas da Mônica e
da Disney.
A não ser que um grande
anunciante aceite o desafio de
relançá-los (e ponha verba nisso) a saliente Emília jamais se
tornará uma Xuxa e a adorável
família do Sítio continuará
apenas nos currículos escolares
ou na nossa memória.
Helcio Emerich é jornalista, publicitário e vice-presidente da agência Almap/BBDO.
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