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EM TRANSE
Pacotinho do governo também eleva alíquota do compulsório sobre a poupança e os depósitos à vista e a prazo
BC recua para tentar deter fuga em fundos
NEY HAYASHI DA CRUZ
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O governo recuou e decidiu tornar mais flexíveis as normas que
regulam o funcionamento dos
fundos de investimento para evitar fugas de recursos das aplicações. Ontem, o Banco Central e a
CVM (Comissão de Valores Mobiliários) anunciaram medidas
que têm por objetivo reverter os
saques ocorridos nos últimos dois
meses.
A partir de agora, os fundos de
investimento não serão mais
obrigados a contabilizar todos os
seus títulos com base no valor de
mercado de cada papel. Essa exigência passou a vigorar em 31 de
maio deste ano e foi alvo de críticas e reclamações por parte do
mercado.
Para que o valor de mercado
dos papéis de curto prazo não sofram grandes desvalorizações daqui para a frente, o BC decidiu recomprar também R$ 11 bilhões
em títulos públicos, principalmente de LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) -os papéis de
maior participação na dívida interna e os que mais se depreciaram nas últimas semanas. O objetivo é garantir ao mercado que esses papéis poderão ser recomprados pelo governo em caso de queda nas cotações.
Para compensar o gasto, o BC
decidiu elevar a alíquota do recolhimento compulsório (o que os
bancos são obrigados a recolher
ao BC) sobre a poupança e os depósitos à vista e a prazo, o que representará R$ 10,8 bilhões retidos
no BC.
Segundo o diretor de Política
Monetária do BC, Luiz Fernando
Figueiredo, o objetivo da mudança é "acalmar a vida financeira
dos cidadãos e das empresas, enquanto não se resolvem as incertezas internas e externas".
Com a mudança, títulos pós-fixados que vençam em menos de
um ano e que não sejam vendidos
antes de seu vencimento não precisarão ser contabilizados, pelos
fundos, com base no seu valor de
mercado. Bastará que o valor
atual dos papéis seja corrigido, de
agora em diante, por uma determinada taxa de juros.
Figueiredo afirmou que, com a
medida, espera "aumentar a liquidez" dos fundos, ou seja, frear os
saques que têm ocorrido desde
maio. Segundo ele, de lá para cá,
foram resgatados dos fundos R$
38 bilhões.
Segundo o presidente da CVM,
Luís Leonardo Cantidiano, "a
idéia foi aperfeiçoar a norma". Ele
disse esperar "que [a mudança"
interrompa esse processo [de saques" e que permita que os fundos
voltem a ser uma das mais importantes alternativas de investimento da população".
A mudança atinge apenas títulos pós-fixados -cuja remuneração é atrelada à taxa de juro praticada na época do vencimento do
papel- que tenham prazo de resgate inferior a um ano.
Estão enquadrados nesse tipo
de papel as LFTs e os DIs (Depósitos Interfinanceiros), além de outros títulos privados.
Os fundos que poderão ser beneficiados pela alteração são os
FIFs (Fundos de Investimento Financeiro), os FAC (Fundos de
Aplicação em Cotas de Fundos de
Investimentos) e os Fiex (Fundos
de Investimento no Exterior).
Títulos com os fundos
Cerca de um terço da dívida em
títulos do governo federal está nas
mãos dos fundos de investimento. Isso significa que a corrida aos
saques poderia prejudicar a rolagem da dívida pública, uma das
principais preocupações da equipe econômica atualmente.
Com a crescente desconfiança
do mercado em relação à capacidade do governo em honrar seus
compromissos, os títulos públicos têm sofrido uma forte desvalorização. Esses são os papéis de
maior peso na carteira dos fundos, por isso, uma queda no seu
valor de mercado causava prejuízos para os fundos.
Os fundos que não se enquadrarem nas novas regras, ou seja, que
possuírem uma grande quantidade de títulos públicos com vencimento superior a um ano, poderão trocar seus papéis por outros,
de curto prazo, em leilões que o
BC pretende fazer.
A alíquota do compulsório que
incide sobre a poupança subiu de
20% para 25% (ou seja, se um
banco possui R$ 100 mil depositados na caderneta, R$ 25 mil será
recolhido no BC). Para os depósitos à vista, a alíquota passou de
45% para 48%, e para os depósitos a prazo, de 15% para 18%.
Esse aumento vai retirar dinheiro das mãos dos bancos, o que deverá ter dois efeitos: aumento dos juros e redução dos recursos que os bancos possuem para investir no mercado de câmbio.
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