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ANÁLISE
Brasil fica no fio da navalha, e FMI também
DO "FINANCIAL TIMES"
A julgar pela reação dos
mercados financeiros, o jogo
está quente no Brasil. O risco-país
aumentou, mesmo depois do
acordo com o FMI, para cerca de
2.200 pontos. Se esse nível persistir, o Brasil ficará insolvente e fará
uma moratória.
A razão de ser do FMI seria destruída: seu apoio à economia brasileira se mostraria inútil. Os que
afirmam que os pacotes do FMI
levam a empréstimos desenfreados ficariam desacreditados. Mais
importante, o Brasil sofreria terrivelmente. Ninguém deve se importar muito em Wall Street ou na
City de Londres, mas a idéia de
que o Brasil poderia reestruturar
sua dívida de modo relativamente
indolor é coisa de malucos.
De sua dívida total de mais de
US$ 250 bilhões, o setor público
brasileiro deve apenas cerca de
US$ 75 bilhões a credores estrangeiros do setor privado. Se essa dívida fosse reduzida aos valores
atuais de mercado (aproximadamente US$ 40 bilhões), a economia em juros não mudaria muito
a dinâmica da dívida.
Se o Brasil reestruturasse sua dívida interna, esmagaria o sistema
bancário, que detém 30% de seus
ativos em títulos do governo.
Uma ajuda aos bancos seria necessária. Para recuperar a credibilidade depois do calote, os juros
teriam de continuar altos, prejudicando ainda mais a solvência,
porque mais de um terço da dívida está ligada às taxas de juros.
Embora a possibilidade de moratória e desastre esteja se tornando mais provável, ainda existe
uma alternativa. Como disse John
Williamson, do IIE (Institute for
International Economics), com
taxas de juros menores e uma
moeda se apreciando gradativamente, a dinâmica da dívida brasileira, embora delicada, não é irremediável. O empréstimo de
US$ 30 bilhões do FMI deveria
aumentar a confiança dos mercados financeiros e colocar o Brasil
no caminho da redução das taxas.
Ninguém deve esquecer que o
Brasil não é a Argentina. Os políticos ainda têm o apoio interno e da
comunidade internacional. O país
recolhe impostos; o sistema bancário ainda está saudável; e os governos estaduais não podem estourar o Orçamento. Mas se a crise de confiança continuar, o Brasil
irá no caminho de seu vizinho.
Reverter a confiança é difícil,
mas duas coisas ajudariam. Primeiro, os candidatos de oposição
devem dizer publicamente que a
moratória não é do interesse do
Brasil e se comprometer com o
programa do FMI. Segundo, o
FMI deve produzir uma argumentação detalhada para suportar sua afirmação de que o Brasil "está numa tendência de políticas sólidas de longo prazo que merecem todo o apoio da comunidade internacional". A única certeza é que fazer nada condenaria o Brasil a um colapso desnecessário.
Tradução de Luiz Roberto Gonçalves
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