São Paulo, Domingo, 15 de Agosto de 1999
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VIRADA DO ANO
Entidade vai aumentar em até R$ 7 bilhões moeda nos bancos em dezembro para atender a saques
Bug já faz BC emitir mais dinheiro

ALEX RIBEIRO
da Sucursal de Brasília
MARCELO DIEGO


da Reportagem Local O Banco Central vai aumentar entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões o volume de dinheiro disponível aos bancos em dezembro para enfrentar uma eventual corrida de saques de clientes com receio do bug do milênio.
O risco não é só interno. Bancos e agências de investimentos no exterior consultados pela Folha admitem que deve haver retirada de dinheiro posicionado em países emergentes até o final do ano. Alguns até recomendam isso.
O bug do milênio é uma eventual pane nos computadores na virada do ano. Os programas antigos de computador indicavam o ano com apenas dois dígitos, por economia de memória. Em 1º de janeiro, esses programas iriam indicar o ano como 00 (veja texto nesta página).
Isso pode gerar uma série de problemas. Para fugir deles, os investidores estrangeiros estariam dispostos a tirar seu dinheiro de mercados como o Brasil e colocá-lo em lugares mais confiáveis, como bancos norte-americanos.
Mesmo perdendo rendimento ou até pagando taxas de saída -no Brasil, há a cobrança da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), por exemplo-, o capital estaria preservado de problemas operacionais.
Mesmo avaliando que o sistema bancário já está protegido contra eventuais panes na virada de 1999 para 2000, o BC preferiu se precaver contra fatores que não estejam sob seu controle direto.
Por causa do crescimento na produção industrial e das vendas do comércio no Natal, o BC sempre amplia em 20% o volume de dinheiro disponível para os bancos em dezembro, segundo o coordenador do programa do bug do milênio na instituição, Antônio Gustavo Matos do Vale.
Ele afirmou que, neste ano, o BC fará um reforço de 25% a 30% sobre o saldo já alentado de dezembro. Em dezembro do ano passado, circularam R$ 23,550 bilhões, na média dos saldos diários.

Informação
Ao mesmo tempo em que planeja ampliar a oferta de recursos, o BC trabalha com os bancos em uma campanha para informar a população de que os trabalhos de prevenção contra problemas na virada do milênio estão fechados.
Neste fim-de-semana ocorre o último grande teste, envolvendo todas as instituições bancárias do país. Três outros testes com bancos, que reúnem 85% dos ativos, já foram realizados. "Não deu nenhum problema", disse Vale.
Um dos testes foi realizado na câmara de compensações de Nova York, com a participação de bancos de 19 países. Também foi testada a adequação do sistema para enfrentar o "buguinho" -a virada de 28 para 29 de fevereiro de 2000 (ano bissexto).
"Vamos fazer um esclarecimento, junto com a Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), para mostrar que o dinheiro que dormir no banco na virada do milênio estará lá no dia seguinte", disse.
Segundo Vale, a oferta adicional de recursos ao público em dezembro está em linha com o que o Fed (banco central dos EUA) anunciou recentemente.
Duas providências foram tomadas no Brasil: o BC parou de destruir notas velhas e fez novos pedidos de fabricação de cédulas.
Até o final de setembro, o BC espera que todas as instituições financeiras não-bancárias (como cooperativas e consórcios) tenham encerrado seus trabalhos de adaptação ao bug.
Quando isso ocorrer, afirmou Vale, 100% do sistema bancário e não-bancário estará adaptado. Hoje, como a adaptação das instituições não-bancárias ainda está em andamento, o índice de adequação é de 95% das instituições, ou 98% dos ativos do sistema.
Até o final de setembro, os fiscais do BC terão visitado e testado todos os sistemas de informática das instituições financeiras, segundo Vale. Ele diz que foram destacados 50 inspetores exclusivamente para o trabalho, ou 10% do quadro de fiscalização do BC.
As instituições deverão entregar até dezembro os planos de contingência com as iniciativas em caso de ocorrência de problemas externos aos bancos. Uma das medidas obrigatórias é os bancos manterem um arquivo-reserva com todo o movimento de dezembro, guardado em lugar separado.
"É pura precaução. Os bancos já guardam todos os dados em uma fita. Mas, se tiverem duas, será bem melhor", disse Vale.
Apesar de já haver sinalização no mercado, ele disse não acreditar em nenhum movimento de saída de capitais estrangeiros do país pouco antes da virada do ano. "Estaremos mantendo contatos com investidores estrangeiros e com a imprensa especializada", disse.


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