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VIRADA DO ANO
Bancos admitem que temor pode gerar retiradas do país
Investimento pode sair do
Brasil por causa do bug
da Reportagem Local
Agências e bancos de investimentos nos Estados Unidos e Canadá prevêem que pode haver
uma forte retirada de dinheiro
alocado em cerca de 120 países
emergentes a partir de outubro,
para evitar problemas com o bug
do milênio.
O Brasil aparece em dois paradoxos. Para alguns analistas, vai
sofrer com a "crise de confiança"
que passará a assolar os mercados
emergentes e vivenciará uma onda de saques.
Para outros, o país está bem
preparado para enfrentar a passagem do ano e pode se aproveitar
disso, recebendo dinheiro transferido de outros países menos
preparados.
Há cerca de US$ 200 bilhões circulando entre os mercados emergentes. Cerca de 70% do dinheiro
está colocado num conjunto de 63
países.
"O problema do bug com um
banco de país emergente tem potencial de causar falhas em todo o
sistema nos EUA", diz Michael
Mayo, analista do Credit Suisse
Fisrt Boston.
Jean-Guy Desjardins, presidente da empresa canadense TAL
Global Asset Management (especialista em investimentos em
mercados emergentes), prevê
uma retirada gradual de dinheiro
do Brasil a partir de outubro.
"Se for deixado para dezembro,
pode haver uma sobrecarga do
sistema e ocorrer um "minibug'",
afirma. Segundo ele, os preços de
ações de empresas que possam
ser afetadas pelo bug já serão afetados em Bolsas do mundo todo.
O dinheiro deve ser colocado
em fundos de renda fixa.
"Ninguém sabe a extensão dos
problemas e as inconveniências
que vão gerar", afirmou o analista
Paul Merriman, da Fund Advice.
"O mais prudente, nessa situação, é eliminar ou diminuir sua
exposição em investimentos nessa área. Isso não tem nada a ver
com o nervosismo que alguns
desses países, como o Brasil, enfrentam neste momento", disse.
Para ele, a retirada de investimentos da América Latina deve
ser da ordem de 43%.
Parte deste dinheiro deve correr
para os T-Bonds, os títulos do Tesouro norte-americano, com 30
anos de vencimento e que pagavam juros anuais de 6,098% na
sexta-feira.
"É um rendimento menor do
que alguns fundos que temos em
países emergentes", afirmou.
Relatório divulgado pela Morgan Stanley Dean Witter na semana passada indicava que pode haver retirada de dinheiro do Brasil
ao final do ano.
Bolsa
Para Ed Yardeni, economista-chefe do Deutsche Bank Securities em Nova York, a Bolsa nova-iorquina pode registrar um recuo
de até 30% devido aos riscos do
bug do milênio.
"Uma recessão global pode começar com uma falha de computador", afirmou.
Ele diz que os investidores têm
procurado informações sobre
companhias que estejam mais
bem preparadas para enfrentar a
passagem de 1999 para 2000.
"O preço das ações dessas empresas já levará em conta sua capacidade de enfrentar os problemas operacionais", afirmou.
Segundo ele, empresas como a
Telebrás (sistema de telecomunicações) terão seus preços em
ações afetados.
"Há muita preocupação com a
Telebrás. Seus equipamentos são
muito velhos. Alguém já pensou
nas consequências de não se conseguir fazer uma ligação para o
Brasil? E se você não conseguir
mandar um fax para lá? É um país
muito importante", afirmou.
Peter Coolidge, analista-sênior
da Brian, Murray & Co, qualifica
o Brasil como bem preparado para a eventualidade do bug. E que
pode ter benefícios com isso. "O
dinheiro pode correr de lugares
como a Índia para o Brasil."
Auditoria
O brasileiro Arnaldo Carrera é
especialista em tecnologia e trabalha no sistema de prevenção do
bug para um banco canadense.
Ele diz que 99% dos bancos norte-americanos já foram auditados
pelo Federal Reserve (o banco
central dos EUA) e estão em boas
condições.
"Bancos brasileiros que estão
atuando nos EUA também foram
supervisionados pelo Fed", disse.
Segundo ele, a retirada de dinheiro dos países emergentes é
"uma possibilidade", mas que "o
mercado não deu indicações de
que isso venha a ocorrer".
Carrera afirma que instituições
como o Chase Manhattan e o Citibank gastaram mais de US$ 400
milhões em sistemas de prevenção contra o bug.
Robert Harrell é o homem responsável por tomar conta de um
portfólio de US$ 1,7 bilhão distribuído em países emergentes.
Ele criou um fundo específico
para ser gerido durante a passagem do ano, o "Year 2000 Risk
Management" (algo como "gerência do risco do ano 2000").
Ele prevê que as Bolsas de todo
mundo serão afetadas. No caso de
Nova York, diz, os preços já estão
muito altos e irão se adequar a um
patamar mais próximo da realidade.
"As Bolsas cairão pela incerteza
que dominará as economias",
afirmou. Além disso, muitas empresas sofrerão ações indenizatórias que podem chegar a bilhões
de dólares, por problemas com
produtos e serviços decorrentes
do bug. Elas passarão a valer menos e suas ações refletirão isso.
O novo "crash" da Bolsa de Nova York terá reflexos em todos os
países do mundo. "Não há necessidade de tirar dinheiro de um
país para gerar instabilidade",
afirmou.
(MARCELO DIEGO)
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