São Paulo, sexta-feira, 15 de outubro de 2004

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BARRIL DE PÓLVORA

Ministro defende decisão de aumento paulatino dos combustíveis e descarta reflexos negativos na inflação

Palocci nega influência eleitoral em reajuste

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) defendeu ontem, durante evento no Palácio do Planalto, a decisão da Petrobras de realizar pequeno reajuste nos preços dos combustíveis, mas admitiu que novos aumentos poderão vir em breve. Disse ainda que a decisão da estatal não tinha caráter político e que não acredita que tenha efeito nas eleições.
"Nenhum país está fazendo um alinhamento com os preços atuais do petróleo. Todos estão observando para ver o que acontece no curto e no médio prazo. Então, provavelmente, a Petrobras fez um nível de ajuste, talvez não todo o ajuste que ela imagina fazer ao longo do período. Acho que esse tem sido, penso, o comportamento dos países no geral", disse.
Para Palocci, a posição conservadora da Petrobras se deve às dúvidas existentes hoje sobre o comportamento futuro do petróleo. Segundo ele, são muitos os elementos de pressão sobre os preços do produto, "geopolíticos, elementos de demanda, de mudança da estrutura da produção em muitas regiões".
"Ainda há muita incerteza sobre o futuro dos preços do petróleo, mas é certo que, por um período razoável, ficarão acima da média dos últimos anos. Então acho que a atitude da Petrobras é correta", afirmou, lembrando que no mercado internacional os preços da gasolina não acompanharam "totalmente o preço do petróleo".
O reajuste dos combustíveis foi definido após o sinal verde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no final de setembro, conforme reportagem publicada pela Folha.
Palocci disse que o aumento no preço dos combustíveis não afetará negativamente o mercado nem o combate à inflação. Segundo ele, tanto o Banco Central quanto os analistas financeiros já sabiam que os preços dos combustíveis no Brasil estavam defasados em relação ao preço do petróleo no mercado internacional. Para ele, o impacto sobre a inflação não foi uma das preocupações da Petrobras para definir os reajustes.
"A Petrobras não tem a atribuição de controlar a inflação. Essa atribuição é do Banco Central. O BC e os analistas já sabiam que, com o atual nível do petróleo, algum reajuste do combustível deveria existir", disse.
Em sua avaliação, o Brasil não corre o risco de sofrer grandes impactos negativos por conta da crise do petróleo. Segundo ele, do primeiro choque internacional do petróleo para cá, o país diversificou bastante sua matriz energética (como a utilização do álcool combustível) e aumentou muito a produção própria de petróleo.
O ministro disse também que a situação das contas externas do país hoje, puxada pelos crescentes saldos da balança comercial, é muito melhor do que no passado e que a economia demonstra sinais claros de que entrou numa nova fase de crescimento.
"Hoje estou muito otimista com a economia brasileira porque os dados negativos estão no retrovisor", disse, mencionando a crise de confiança de 2002 (por conta da eleição presidencial) e a fase de ajuste da economia no ano passado, quando o PIB (Produto Interno Bruto) ficou negativo em 0,2%.
Apesar do otimismo, ele reconheceu que, se os preços do petróleo permanecerem elevados por muito mais tempo, o crescimento da economia mundial poderá ser afetado. "Mas eu não sou pessimista em relação a isso. A produção do petróleo tem mostrado, que, depois de um período de pressões, a produção se acelera e você tem uma reversão rápida e forte dos preços", afirmou.

Política
Palocci afirmou não acreditar que o reajuste anunciado pela Petrobras influencie o segundo turno das eleições municipais.
"Tenho certeza de que não. Esse governo tem demonstrado que toma todas as medidas necessárias, no momento necessário, independentemente de processos eleitorais. Acho que esse é um sinal de um Brasil normal, que toca seus projetos de desenvolvimento e sua política econômica e que toma medidas seja próximo de um período eleitoral, seja distante."
Ele elogiou a "maturidade" do eleitor e ressaltou que, no passado, quando políticas econômicas foram adaptadas a períodos eleitorais, o custo foi muito alto. "Nós sabemos que, no passado, a adaptação de políticas econômicas a períodos eleitorais custou muito caro ao país. Esse governo não fará isso jamais. Portanto acho que o resultado de medidas como essas sobre as eleições é nenhum."


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