São Paulo, quinta, 15 de outubro de 1998

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PRÊMIO
Estudo de Amartya Sen, mestre em Cambridge, reformulou indicadores de pobreza, com gradações no nível de miséria
Estudo sobre a fome dá Nobel a indiano

Associated Press
O indiano Amartya Sen, que ganhou o Nobel de Economia devido aos seus traballhos que reformularam os indicadores de pobreza


ISABEL CLEMENTE
de Londres

O indiano Amartya Sen, 64, ganhou o Prêmio Nobel de Economia de 1998 por suas inúmeras contribuições ao estudo do bem-estar social. O anúncio foi feito ontem, em Estocolmo (Suécia).
Nascido em Bengala Ocidental, Índia, Sen é doutor em economia pela Universidade de Cambridge, ex-professor de Harvard e hoje é mestre na Trinity College, em Cambridge. Trata-se de um acadêmico altamente respeitado no Reino Unido.
Seu livro mais famoso, "Poverty and Famines: An Essay on Entitlement and Deprivation" (Pobreza e Fome: Um Ensaio sobre Direitos e Privação), de 1981, é considerado um marco no estudo sobre a fome.
Sen provou que a falta de comida não é o único nem o principal fator a determinar a fome em vários países.
Reformulou os indicadores de pobreza, introduzindo gradações no nível de miséria, o que resultou em parâmetros mais eficazes no estudo do mecanismo econômico que gera a fome.
Segundo seus estudos, períodos de grande fome em Bangladesh e na Índia, por exemplo, ocorreram quando não havia uma significativa queda no fornecimento de comida. Seus estudos revelam que tampouco o nível de exportação desses países, atingidos pela fome, foi reduzido.
O objetivo do acadêmico, com isso, era mostrar a complexidade de fatores que levam à fome, formas de evitá-la e combater suas consequências.
Ainda que a validade de suas idéias tenha sido contestada por analistas, o livro é considerado peça-chave no estudo de economias em desenvolvimento.
Sen levou para o meio científico a realidade que vive a grande maioria da população do seu país. A Índia é o segundo país mais populoso do mundo. Cerca de 70% de seus habitantes vivem da agricultura de subsistência. Seu PIB (a soma das riquezas anuais) é aproximadamente metade do PIB brasileiro e o indicador de mortalidade infantil é o mais alto do mundo, segundo o Banco Mundial.
O perfil do Prêmio Nobel de Economia deste ano difere em muito do tipo de trabalho realizado pelos dois escolhidos no ano passado.
Os dois americanos foram premiados em 97 por desenvolver uma fórmula de como ganhar bilhões no mercado de derivativos.
Myron Scholes e Robert Merton se tornaram sócios do Long Term Capital Management -o conturbado fundo de investimento de alto risco dos Estados Unidos que precisou ser socorrido pelo mercado para não se tornar uma ameaça mortal ao já combalido sistema financeiro global.
Sen receberá US$ 930 mil pelo Prêmio Nobel, anualmente concedido pelo banco central da Suécia, o Riksbank.
Sua indicação foi recebida com entusiasmo por outros professores que acompanham seu trabalho e pelas autoridades indianas.
O presidente da Índia, K.R.Narayanan, disse que o trabalho de Sen "está em sintonia com a tradição intelectual" do país.
O professor Alec Broers, diretor da Universidade de Cambridge, disse que o trabalho de Sen é de fundamental importância, tanto para o conhecimento teórico quanto para a sociedade.
Para Ajit Singh, do Queen's College, amigo de Sen desde 64, o prêmio foi merecido e já era há muito esperado pelo meio acadêmico.


Com agências internacionais



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