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Ipea "expurga" economistas divergentes
Quatro pesquisadores do órgão governamental que não se alinham com pensamento de novos dirigentes são afastados
Ipea, comandado por Pochmann, afirma que eles estavam irregulares; Delfim diz que nem na ditadura instituto sofreu censura
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Quatro pesquisadores independentes e considerados não
alinhados ao atual pensamento
econômico do governo foram
afastados nesta semana do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), no Rio, pela nova direção do instituto, vinculado ao Núcleo de Assuntos Estratégicos, comandado por Roberto Mangabeira Unger.
São eles: Fabio Giambiagi,
Otávio Tourinho, Gervásio Rezende e Regis Bonelli. Os dois
primeiros, que estavam cedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), foram informados de que seus convênios
não seriam renovados no vencimento, em dezembro.
Já para os outros dois, que
estão no Ipea há 40 anos e faziam trabalhos regulares para o
instituto, a alegação foi a de que
eles já estavam aposentados.
Procurados pela Folha, por
meio de suas assessoria de imprensa, os economistas Marcio
Pochmann, presidente do Ipea,
e João Sicsú, diretor de Estudos Macroeconômicos do órgão, considerada a mais importante posição do instituto, e
que fica instalada no Rio, não
se pronunciaram.
A assessoria da Ipea confirmou a saída dos quatro pesquisadores, mas deu motivos diferentes dos que foram apurados
pela Folha. De acordo com a
versão oficial, Giambiagi e
Tourinho teriam pedido para
voltar para o BNDES, e, em relação aos outros dois, o Ipea informou que apenas estariam
aposentados.
Segundo a Folha apurou, no
entanto, Giambiagi e Tourinho
teriam sido informados ou por
Sicsú ou por seu assessor Renault Michel de que seus convênios com o BNDES não seriam renovados. Os dois já estavam cedidos ao Ipea pelo
BNDES há vários anos.
Já Bonelli e Rezende, especialistas respectivamente em
indústria e agricultura, foram
convidados a deixar as salas
que ocupavam no Ipea por já
estarem aposentados. No governo Fernando Henrique Cardoso, Bonelli ocupou uma diretoria do BNDES, e Rezende,
uma diretoria da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Para os quatro, a direção do Ipea alegou que havia irregularidades nos contratos
deles com o instituto.
Os quatro pesquisadores tinham em comum também o fato de serem críticos do excesso
de gastos do governo, o que
contraria o pensamento tanto
de Pochmann como de Sicsú,
que se definem "desenvolvimentistas" e defendem um aumento da política de gastos públicos para acelerar o crescimento da economia.
O clima no Ipea é de indignação e desconforto com a saída
dos quatro economistas. Ontem, pesquisadores do instituto organizaram um almoço de
solidariedade, no Rio, aos quatro técnicos afastados. O ambiente era de preocupação com
a nova orientação da direção do
instituto.
Ditadura
Considerado um dos maiores
centros do pensamento econômico do país, o Ipea, criado há
43 anos, sempre se caracterizou pela liberdade de pensamento. Mesmo no período da
ditadura militar, o Ipea nunca
deixou de exercitar a crítica
-por exemplo, à política de distribuição de renda.
O ex-deputado Delfim Netto,
que comandou a economia no
período de 1979 a 1985, durante
o regime militar, chegando a
ser chamado de superministro,
lamentou e criticou a saída dos
quatro pesquisados do Ipea.
Delfim foi até chamado por
Pochmann -e aceitou- para
assumir o cargo de conselheiro
do Ipea.
"Tenho esses profissionais
[os quatro pesquisadores afastados] em alta conta. São economistas dedicados à pesquisa,
com boa formação acadêmica e
trabalhos relevantes prestados
à economia brasileira", afirmou
o ex-deputado.
Delfim lembrou-se do período do autoritarismo e de sua
convivência com o Ipea, quando ministro: "Nunca houve
censura de nenhuma natureza
no Ipea. No período da ditadura, eles atacavam a ditadura à
vontade e ainda recebiam aumento de salário. O que espero
é que não haja nenhuma censura à pesquisa acadêmica que o
Ipea tem produzido".
Outros pesquisadores do
Ipea, segundo a Folha apurou,
pensam em deixar o instituto.
O economista Ricardo Paes de
Barros, um dos maiores especialistas do país da área social e
um nome reconhecido internacionalmente, já está de passagem marcada para Chicago,
nos Estados Unidos, onde irá
permanecer por um tempo
dando aulas e realizando seminários.
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