São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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LUÍS NASSIF

A Gripen e a licitação FX

A questão da licitação FX -dos caças da FAB- envolve questões técnicas e questões de política tecnológica. Na guerra de informações, concorrentes afirmam que o sueco Gripen tem pouco alcance, não pode ser reabastecido em pleno vôo, tem armamento norte-americano, sujeito às restrições do país, e que o fato de se apresentar como um caça de quarta geração tem efeito meramente mercadológico, porque desempenhar as funções todos desempenham.
Presidente da Gripen Internacional, Ian McNamee rebate todas essas críticas. O Gripen tem alcance similar ao dos principais concorrentes, pode ser abastecido em pleno vôo, tem flexibilidade para atuar tanto no ataque como na defesa, pode carregar armamentos de qualquer país -não apenas dos Estados Unidos-, pode aterrizar em estradas e ter manutenção sem depender de grandes hangares.
O fato de ser de quarta geração significa que dispõe de sistemas de software capazes de integrar informações de terra, mar e ar, de adaptar-se em questão de minutos para ser de ataque ou defesa.
Confrontado com a afirmação da Dassault -fabricante dos Mirage- de que as gerações de avião dependem de software, e não de hardware, rebate comparando aviões com computadores. Assim como modernas versões de software, exigem designs e carcaças igualmente modernas para desempenharem a contento.
Em relação às especificações técnicas, ninguém melhor do que a própria Força Aérea Brasileira para definir a capacidade de cada competidor. Todos os que passaram nos testes -Gripen, Mirage, F16, Sukhoi e MIG- atendem às especificações. Os desafios maiores são de outra ordem, a questão dos ganhos tecnológicos ao país.
Em meio à toda guerra de argumentos entre as partes, percebe-se o seguinte.
Ambos os fabricantes se propõem a transferir tecnologia para o país, mas em estilos diferentes. No caso do Gripen, significará abrir o código-fonte de seus sistemas, permitindo que técnicos ou empresas definidos pelo governo brasileiro possam adaptar os sistemas às necessidades brasileiras ou mesmo desenvolver aperfeiçoamentos, a exemplo do que Israel fez com os Mirage na década de 80.
O Brasil seria um desenvolvedor associado da tecnologia Gripen. Poderá ficar restrito à área futura de abrangência do Gripen. Mas poderá se beneficiar também das pesquisas e do desenvolvimento que continuarão sendo feitos pela Suécia, já que o avião está em início de ciclo.
Já em relação ao Mirage, pelo fato de estar em fim de ciclo, haverá pouco investimento em desenvolvimento da parte da Dassault, seu fabricante. Por outro lado, haverá a transferência de tecnologia de jatos e outras mais para a Embraer, que poderá ser aproveitada em uma linha de aviões militares ou nos aviões civis da companhia.
As comparações, portanto, são entre dois modelos de transferência tecnológica. O mesmo critério da Gripen é oferecido pelos aviões russos. Vêem-se, portanto, dois modelos diferentes de apropriação tecnológica, ambos com prós e contras a serem avaliados... É essa a discussão relevante. Para enfrentar contrabandistas na fronteira, qualquer dos aviões é suficiente.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


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