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LUÍS NASSIF
A Gripen e a licitação FX
A questão da licitação FX
-dos caças da FAB- envolve questões técnicas e questões de política tecnológica. Na
guerra de informações, concorrentes afirmam que o sueco
Gripen tem pouco alcance, não
pode ser reabastecido em pleno
vôo, tem armamento norte-americano, sujeito às restrições
do país, e que o fato de se apresentar como um caça de quarta
geração tem efeito meramente
mercadológico, porque desempenhar as funções todos desempenham.
Presidente da Gripen Internacional, Ian McNamee rebate
todas essas críticas. O Gripen
tem alcance similar ao dos
principais concorrentes, pode
ser abastecido em pleno vôo,
tem flexibilidade para atuar
tanto no ataque como na defesa, pode carregar armamentos
de qualquer país -não apenas
dos Estados Unidos-, pode
aterrizar em estradas e ter manutenção sem depender de
grandes hangares.
O fato de ser de quarta geração significa que dispõe de sistemas de software capazes de
integrar informações de terra,
mar e ar, de adaptar-se em
questão de minutos para ser de
ataque ou defesa.
Confrontado com a afirmação da Dassault -fabricante
dos Mirage- de que as gerações de avião dependem de
software, e não de hardware,
rebate comparando aviões com
computadores. Assim como
modernas versões de software,
exigem designs e carcaças
igualmente modernas para desempenharem a contento.
Em relação às especificações
técnicas, ninguém melhor do
que a própria Força Aérea Brasileira para definir a capacidade de cada competidor. Todos
os que passaram nos testes
-Gripen, Mirage, F16, Sukhoi
e MIG- atendem às especificações. Os desafios maiores são
de outra ordem, a questão dos
ganhos tecnológicos ao país.
Em meio à toda guerra de argumentos entre as partes, percebe-se o seguinte.
Ambos os fabricantes se propõem a transferir tecnologia
para o país, mas em estilos diferentes. No caso do Gripen,
significará abrir o código-fonte
de seus sistemas, permitindo
que técnicos ou empresas definidos pelo governo brasileiro
possam adaptar os sistemas às
necessidades brasileiras ou
mesmo desenvolver aperfeiçoamentos, a exemplo do que
Israel fez com os Mirage na década de 80.
O Brasil seria um desenvolvedor associado da tecnologia
Gripen. Poderá ficar restrito à
área futura de abrangência do
Gripen. Mas poderá se beneficiar também das pesquisas e do
desenvolvimento que continuarão sendo feitos pela Suécia, já que o avião está em início de ciclo.
Já em relação ao Mirage, pelo
fato de estar em fim de ciclo,
haverá pouco investimento em
desenvolvimento da parte da
Dassault, seu fabricante. Por
outro lado, haverá a transferência de tecnologia de jatos e
outras mais para a Embraer,
que poderá ser aproveitada em
uma linha de aviões militares
ou nos aviões civis da companhia.
As comparações, portanto,
são entre dois modelos de
transferência tecnológica. O
mesmo critério da Gripen é oferecido pelos aviões russos.
Vêem-se, portanto, dois modelos diferentes de apropriação
tecnológica, ambos com prós e
contras a serem avaliados... É
essa a discussão relevante. Para enfrentar contrabandistas
na fronteira, qualquer dos
aviões é suficiente.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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