São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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PERFIL

Quase metade dos pesquisados era chefe de família

Desempregados de SP andam a pé, não viajam nem compram roupa

MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Grande parte dos desempregados na cidade de São Paulo vive sem ir ao cinema ou viajar e evita comprar roupas ou calçados. Quando possui carro, deixa na garagem. Quem se locomovia de ônibus, hoje -após perder o emprego- anda a pé.
É o que conclui uma pesquisa divulgada ontem pelo economista Márcio Pochmann, secretário municipal do Trabalho de São Paulo, realizada a partir de questionário por telefone com 402 pessoas -escolhidas aleatoriamente- à procura de trabalho.
Dos ouvidos pelo levantamento, 46,5% declararam ser chefes de família. Cerca de 81,3% estão desempregados há mais de seis meses. Com o cruzamento dos dados, conclui-se que 37,8% dos desempregados responsáveis pelo sustento da família estão sem trabalhar há mais de seis meses.
"O desemprego passou por uma mudança preocupante. Ele passa neste momento a ser estrutural, e não conjuntural", afirma Pochmann.
Arrimo de família ou não, a grande maioria dos desempregados, 86% dos pesquisados, respondeu que cortou lazer -ir ao cinema, futebol, viagens ou restaurantes- ao ficar sem trabalho. Roupas e calçados vieram em segundo lugar entre os gastos mais descartados, com 84,8%.
Um percentual significativo -65% dos entrevistados- afirmou que cortou gastos com transporte (carro, ônibus, trem ou metrô). "Quem sai para procurar trabalho gasta em média R$ 11 hoje. Isso porque, além de gastar com transporte, gasta com alimentação, já que as filas para se cadastrar em centrais, por exemplo, são longas", diz Pochmann.
O item menos limado do orçamento foi o gasto com a educação dos filhos: escola particular ou material escolar, com 24,9%. Gastos com produtos essenciais, como alimentação e plano de saúde ou remédios, foram mais cortados: foram apontados por, respectivamente, 57,4% e 48% dos ouvidos pela pesquisa.
"Há uma resistência grande em reduzir gastos com educação. O desempregado procura deixar isso para quando não há outro jeito", diz Pochmann. Apesar disso, 37,5% dos ouvidos trocaram os filhos de escola -81,6% para rede pública e 18,3% procuraram escola particular mais barata.
Segundo levantamento dos institutos de pesquisa Seade/Dieese, o desemprego na região metropolitana de São Paulo em novembro foi de 19,9% da PEA (População Economicamente Ativa).


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