São Paulo, sexta-feira, 16 de janeiro de 2004

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COMÉRCIO EXTERIOR

Disponibilidade de financiamento para o comércio e empresas aumenta; juros também estão menores

Linhas para o Brasil crescem US$ 5,5 bilhões

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

O aumento da liquidez internacional, aliado a uma política econômica ao gosto dos mercados, permitiu uma melhora do perfil do endividamento externo do país. Também aumentou a disponibilidade de recursos para as linhas de comércio exterior e para o financiamento às empresas.
Segundo estimativa do Banco Central, a disponibilidade de linhas comerciais cresceu US$ 5,5 bilhões no ano passado. "E o fluxo continua neste ano, mas com taxas de juros bem menores", diz Mário Mesquita, economista-chefe do banco ABN Amro.
Segundo Mesquita, as taxas cobradas em janeiro nos financiamentos à exportação estão muito semelhantes às pagas pelo Chile, país que é "investment grade" (grau de investimento, nota conferida por agências internacionais de "rating" a países que têm baixo risco de inadimplência).
O Chile paga para financiar suas vendas externas a taxa Libor mais um prêmio entre 0,25% e 0,3% ao ano. Já para o Brasil -que vinha pagando de 2,8% a 3% ao ano, além da Libor-, as taxas caíram neste mês para níveis entre 0,4% e 0,6%%, segundo Mesquita.
Essas taxas são para operações de financiamento à exportação com prazo de 180 dias. Para operações nesse prazo, a Libor está hoje em 1,35% ao ano.
Neste mês, segundo o diretor da área de "trade finance" de um grande banco local, começaram a aparecer ofertas de linhas de prazos mais longos -entre 540 dias e dois anos.
Segundo o executivo, os bancos internacionais estão batendo nas portas dos bancos locais oferecendo crédito de longo prazo para financiar exportações brasileiras.
Como as taxas de juros no mercado internacional estão baixas, essas instituições até se dispõem a correr algum risco oferecendo financiamento de longo prazo às exportações brasileiras, em troca de uma taxa de juro mais encorpada. Nas operações acima de 540 dias, as taxas vão de 1% a 1,25% ao ano, mais a Libor.

Vulnerabilidade
Outro dado da melhora do setor externo é a redução do estoque da dívida de curto prazo. Hoje, essa dívida equivale a 44% do valor registrado em dezembro de 2002. Segundo cálculo da área econômica do banco ABN Amro, a dívida externa de curto prazo está em US$ 4,7 bilhões. Em dezembro de 2002, chegou a US$ 8,3 bilhões, e, em setembro do ano passado, estava em US$ 6,4 bilhões.
A redução da dívida externa de curto prazo resulta em uma tranquilidade cambial maior neste ano, na opinião de Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. "O risco de saída do capital de curto prazo praticamente desapareceu. O país não está mais se financiando com esse tipo de recurso", diz Rosa. No ano passado, o setor privado captou US$ 20,4 bilhões. Quase a metade das captações foi feita por bancos e por prazos de até seis meses.
Uma parte daquelas emissões foi resgatada, e outra, refinanciada por prazos longos e taxas menores. Por isso, de setembro até o final do ano passado, a dívida do setor privado de médio e longo prazos cresceu US$ 1,2 bilhão, segundo estimativa do ABN Amro.
Segundo os analistas, a busca por financiamentos de médio e longo prazos pelas empresas sinaliza uma preparação para a retomada dos investimentos.
O prazo médio das captações feitas por empresas brasileiras no exterior, que, em dezembro, era de 122 meses, saltou para 217 meses em janeiro, segundo Luciana Massaad, analista de dívida corporativa do ABN Amro. Em janeiro do ano passado, esse prazo era de 55 meses.
"O prazo mais longo das operações indica que as captações destinam-se a investimentos. No ano passado, as operações eram de curto prazo e destinadas a obter ganhos financeiros com o diferencial entre as taxa de juros interna e externa", diz Massaad.


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