São Paulo, quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

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Consumidores americanos freiam consumo

MICHAEL BARBARO
LOUIS UCHITELLE
DO "NEW YORK TIMES"

Estão surgindo fortes indícios de que o consumo, um dos baluartes que ajudaram a prevenir recessão no ano passado mesmo diante da alta nos preços da energia e do colapso do mercado da habitação, começou a se desacelerar acentuadamente em todos os níveis da economia norte-americana, da classe trabalhadora aos ricos.
O recuo abrupto gera a possibilidade de que o país possa estar passando por um raro declínio no consumo pessoal, e não apenas por uma desaceleração no ritmo de crescimento. Um declínio como esse seria o primeiro desde 1991 e certamente conduziria a economia toda a uma recessão, em meio a um ano eleitoral.
Existem crescentes indícios circunstanciais de que, desde dezembro, os norte-americanos estão reduzindo significativamente os seus gastos pessoais, que respondem por cerca de 70% da economia do país. Diversas empresas que operam no mercado de consumo sofisticado, como a Nordstrom e a Tiffany, mas também com lojas voltadas ao público de massa, como a Target e a J. C. Penney, reportaram desaceleração no crescimento das vendas no mês passado. Em diversos casos, houve queda de faturamento em termos reais. A American Express anunciou que, desde o começo de dezembro, os gastos dos 52 milhões de detentores de seus cartões caíram de 13% a 10%, a primeira desaceleração desde a recessão de 2001.
E a confiança dos consumidores, um importante barômetro de saúde econômica, despencou. Andrew Kohut, presidente do Pew Research Center, diz que a satisfação com a economia atingiu seu ponto mais baixo em 15 anos, de acordo com as pesquisas do grupo.
Até mesmo os consumidores de maior renda, no passado vistos como invulneráveis à alta nos preços da gasolina e à queda nos valores dos imóveis residenciais, sentem o aperto. "As pessoas estão claramente preocupadas com a perspectiva de uma recessão imediata", disse Stephen Sadove, presidente-executivo da Saks Fifth Avenue, cadeia de lojas voltadas a consumidores de alta renda.
Gia Trumpler, 37, consultora de viagens que vive em Manhattan, faz compras em lojas de luxo como a Saks. Mas está reduzindo suas despesas, quando leva, por exemplo, o almoço de casa para o escritório, em lugar de comer fora. "Tudo me parece mais caro agora", disse.
Existem muitas pessoas que negam que haja uma recessão a caminho. O pagamento médio por hora de trabalho e os salários mensais não caíram, e alguns economistas argumentam que a menos que, ou até que, isso aconteça, o consumo se sustentará a despeito da inquietação generalizada sobre a economia. De acordo com esses economistas, o que aconteceu em dezembro foi apenas uma oscilação temporária.
"A renda se manteve elevada", disse Chris Varvares, presidente da Macroeconomic Advisers, empresa especializada em projeções econômicas. Para ele, os dados disponíveis até o momento não dão sustentação à idéia de que uma recessão é inevitável. Mesmo em momentos de dificuldades econômicas, os norte-americanos raramente reduzem o crescimento do consumo. De 1980 para cá, o consumo só se reduziu em cinco trimestres -a maioria dos quais nas profundezas de períodos de recessão. A de 2001, por exemplo, passou sem que houvesse queda no montante dedicado ao consumo.
Apenas uma vez, em 1980, o consumo caiu em um ano de eleição presidencial, o que ajudou Ronald Reagan na campanha contra o presidente democrata Jimmy Carter.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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