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Consumidores americanos freiam consumo
MICHAEL BARBARO
LOUIS UCHITELLE
DO "NEW YORK TIMES"
Estão surgindo fortes indícios de que o consumo, um dos
baluartes que ajudaram a prevenir recessão no ano passado
mesmo diante da alta nos preços da energia e do colapso do
mercado da habitação, começou a se desacelerar acentuadamente em todos os níveis da
economia norte-americana, da
classe trabalhadora aos ricos.
O recuo abrupto gera a possibilidade de que o país possa estar passando por um raro declínio no consumo pessoal, e não
apenas por uma desaceleração
no ritmo de crescimento. Um
declínio como esse seria o primeiro desde 1991 e certamente
conduziria a economia toda a
uma recessão, em meio a um
ano eleitoral.
Existem crescentes indícios
circunstanciais de que, desde
dezembro, os norte-americanos estão reduzindo significativamente os seus gastos pessoais, que respondem por cerca
de 70% da economia do país.
Diversas empresas que operam no mercado de consumo
sofisticado, como a Nordstrom
e a Tiffany, mas também com
lojas voltadas ao público de
massa, como a Target e a J. C.
Penney, reportaram desaceleração no crescimento das vendas no mês passado. Em diversos casos, houve queda de faturamento em termos reais.
A American Express anunciou que, desde o começo de dezembro, os gastos dos 52 milhões de detentores de seus cartões caíram de 13% a 10%, a primeira desaceleração desde a recessão de 2001.
E a confiança dos consumidores, um importante barômetro de saúde econômica, despencou. Andrew Kohut, presidente do Pew Research Center,
diz que a satisfação com a economia atingiu seu ponto mais
baixo em 15 anos, de acordo
com as pesquisas do grupo.
Até mesmo os consumidores
de maior renda, no passado vistos como invulneráveis à alta
nos preços da gasolina e à queda nos valores dos imóveis residenciais, sentem o aperto.
"As pessoas estão claramente
preocupadas com a perspectiva
de uma recessão imediata", disse Stephen Sadove, presidente-executivo da Saks Fifth Avenue, cadeia de lojas voltadas a
consumidores de alta renda.
Gia Trumpler, 37, consultora
de viagens que vive em Manhattan, faz compras em lojas
de luxo como a Saks. Mas está
reduzindo suas despesas, quando leva, por exemplo, o almoço
de casa para o escritório, em lugar de comer fora. "Tudo me
parece mais caro agora", disse.
Existem muitas pessoas que
negam que haja uma recessão a
caminho. O pagamento médio
por hora de trabalho e os salários mensais não caíram, e alguns economistas argumentam
que a menos que, ou até que, isso aconteça, o consumo se sustentará a despeito da inquietação generalizada sobre a economia. De acordo com esses economistas, o que aconteceu em
dezembro foi apenas uma oscilação temporária.
"A renda se manteve elevada", disse Chris Varvares, presidente da Macroeconomic Advisers, empresa especializada em
projeções econômicas. Para
ele, os dados disponíveis até o
momento não dão sustentação
à idéia de que uma recessão é
inevitável. Mesmo em momentos de dificuldades econômicas,
os norte-americanos raramente reduzem o crescimento do
consumo. De 1980 para cá, o
consumo só se reduziu em cinco trimestres -a maioria dos
quais nas profundezas de períodos de recessão. A de 2001,
por exemplo, passou sem que
houvesse queda no montante
dedicado ao consumo.
Apenas uma vez, em 1980, o
consumo caiu em um ano de
eleição presidencial, o que ajudou Ronald Reagan na campanha contra o presidente democrata Jimmy Carter.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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