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ARTIGO
Quanto custam as moratórias
DAGOBERTO LIMA GODOY
O administrador experiente sabe
bem que a moratória é um recurso
extremo e oneroso, por isso mesmo para ser usado somente na falta
absoluta de saída das dificuldades
pela negociação. É bem verdade
que esse, como tantos outros, foi
um conceito distorcido nos tempos da inflação desbragada, quando empresas concordatárias beneficiavam-se da ausência de correção monetária sobre os seus débitos, descarregando o problema nos
credores incautos. Mas, mesmo
antes do Plano Real ter sofreado a
inflação, a justa atualização das dívidas da concordata já mudara o
quadro, obrigando os empresários
a ser mais consequentes no uso
desse instituto. Hoje, a concordata
voltou a ser compreendida como
uma tentativa quase desesperada
para salvar a empresa, que, mesmo
quando consegue, debilita o negócio e exige uma longa e penosa
convalescença.
Com as finanças públicas não é
diferente, embora o responsável
pelos negócios do Estado possa ser
tentado pela possibilidade de,
quando a coisa dá errado, poder
"pegar o seu chapéu" e deixar a situação, agravada por seu erro, para
ser resolvida pelo seu sucessor no
governo.
Lições concretas não faltam, tanto próprias quanto alheias:
1) Há tão pouco tempo que não
dá para desculpar esquecimentos,
o ministro Dilson Funaro (de saudosa lembrança como figura humana, por suas muitas qualidades
e boas intenções), por não querer
ou por acreditar impossível a negociação, decretou a moratória,
que até hoje está na "memória de
elefante" do mercado internacional, elevando o "risco Brasil" e
acrescendo amargos pontos às
brutais taxas de juros que nos cobram;
2) A recente moratória russa,
além de piorar dramaticamente a
situação daquele país e as condições de vida de seu povo, travou o
fluxo de capitais para as demais
economias ditas emergentes, até
mesmo o Brasil. Ainda mais, exacerbou a conhecida "covardia" dos
investidores, provocando um movimento de "corrida para a segurança", que nos custou uma perda
de reservas da ordem de US$ 30 bilhões, em pouco mais de três meses.
Tomara que a moratória anunciada pelo governador Itamar
Franco não venha a somar-se a esses casos de triste memória, pelas
sequelas que venha a causar
-além do mal já feito- não somente ao povo de Minas, mas a toda a sociedade brasileira. O rompante do governante mineiro encontra o país ainda às voltas com
quase todas as vulnerabilidades
que nos colocaram no "olho do furacão" e nos obrigaram a -uma
vez mais utilizando a competência
e o prestígio internacional do ministro Pedro Malan- recorrer ao
pacote de ajuda externa de US$
41,5 bilhões: déficit público elevado e crescente, endividamento estatal explosivo e uma enorme demanda por financiamento externo. Recém tínhamos descontado o
risco político associado à eleição
presidencial e nos vem esse novo
sobressalto!
Em vez de, à moda antiga, pensar no governo federal como "saco sem fundo", sempre disponível
para cobrir os rombos dos cofres
estaduais e municipais, o governador de Minas e, de certa forma,
todos os outros que clamam por
renegociação de suas dívidas deverão lançar-se a um inadiável
ajuste fiscal e às reformas estruturais, único caminho eficaz para
pôr fim à crise e relançar o desenvolvimento nacional.
Respeitamos o governador Itamar Franco, eleito democraticamente para reger um dos mais importantes Estados brasileiros.
Mas, diante de dificuldades amplamente conhecidas antes das
eleições, foi para resolvê-las que o
povo mineiro respondeu a sua
candidatura. E não para criar mais
problemas para Minas e para o
Brasil inteiro.
Dagoberto Lima Godoy, 60, engenheiro, é
presidente da Federação das Indústrias do Rio
Grande do Sul.
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